Economia

Ministro da Fazenda afirma que obras em andamento receberão recursos

Outros projetos correm o risco de ser adiados

postado em 07/12/2010 08:00
Antes intocáveis, os recursos destinados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) entraram na linha de tiro do governo. Em 2011, o corte de gastos programado pela União não vai poupar obras que até há pouco tempo eram consideradas prioritárias. A equipe econômica nomeada pela presidente eleita, Dilma Rousseff, quer apertar o cinto como forma de criar condições para que os juros básicos (Selic) recue. Prevista para janeiro, a elevação da taxa está nos planos do Banco Central (BC) para fazer frente à inflação acumulada e acalmar as expectativas do mercado. Nos últimos meses de 2010, o repique de preços dá sinais claros de que escapou do controle.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem no Rio de Janeiro que obras em andamento seguirão o curso normal, mas aquelas que ainda não tiveram os projetos executados correm risco de ficar para depois. ;O PAC poderá ter alguma postergação. Tem projetos que estão terminando este ano ou que estão para terminar nos próximos anos. Esses não serão mexidos;, explicou Mantega. Segundo o ministro, o aperto que será feito pelo próximo governo atingirá todas as áreas. Técnicos dos ministérios da Fazenda e do Planejamento calculam quanto seria necessário cortar do orçamento geral ; em discussão no Congresso Nacional ; para equilibrar as contas.

Sacrificar o PAC soma-se a outras medidas igualmente duras já anunciadas pelo governo na tentativa de melhorar o ambiente macroeconômico e adiar o início do ciclo de alta da Selic. Na semana passada, o BC ampliou o compulsório bancário, o que encareceu o crédito, encurtou os prazos e retirou R$ 61 bilhões de circulação. O efeito sobre a economia foi instantâneo. As taxas ao consumidor subiram e os financiamentos de automóveis novos, além de mais curtos, passaram a exigir entradas maiores. Nas estimativas do mercado, o arrocho promovido pela autoridade monetária teve reflexo semelhante a uma elevação de 0,5 ponto percentual na Selic ; atualmente em 10,75% ao ano.

Outra mudança importante planejada pelo próximo governo diz respeito ao aumento do capital privado para financiar a expansão da infraestrutura. Mantega afirmou que o papel anticíclico do Estado foi cumprido durante e no período pós-crise internacional e que, agora, o momento é de estimular o setor privado a cumprir seu papel. De acordo com o ministro, a intenção é reduzir os subsídios e a importância quase hegemônica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no financiamento de longo prazo. ;A partir de 2011, vamos reduzir gastos de custeio e subsídios, vamos reduzir recursos para o BNDES para o setor privado entrar;, disse.

Nos últimos dois anos, o banco estatal de fomento recebeu aportes do Tesouro Nacional de quase R$ 200 bilhões. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou ontem que o pacote baixado pelo BC, que alterou o compulsório bancário e reorientou a política de financiamento de longo prazo, vai interferir no sistema de crédito como um todo. Para ele, a relação crédito e Produto Interno Bruto (PIB) não deverá chegar a 49,5% neste ano ; hoje, ela está em 47,2%.

Alerta
O choque contra a inflação dado pelo Banco Central na semana passada por meio do aumento no compulsório terá impacto negativo sobre os ratings (avaliação de risco) dos bancos brasileiros. O alerta foi feito ontem pela agência de classificação Moody;s. Bancos de médio porte, com forte atuação no crédito ao consumidor, e aqueles que se financiam no atacado devem ser os mais atingidos.

Aperto afetará bens duráveis
O aperto promovido pelo Banco Central (BC) para conter a expansão do crédito e esfriar a economia deve diminuir o consumo e prejudicar a atividade industrial brasileira. Na avaliação do gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, as medidas, que tornaram os financiamentos mais caros e menos longos, terão impacto na demanda por bens duráveis, como os automóveis e os eletrodomésticos.

Castelo Branco argumenta que o aumento dos depósitos compulsórios e a elevação para 20% do valor da parcela mínima de pagamento nos cartões de crédito encarecerão o custo dos financiamentos. ;Essas medidas devem causar um arrefecimento maior nos primeiros meses de 2011. Qualquer restrição monetária vai impactar em queda no nível de expansão de produção da indústria;, destacou.

Na sua avaliação, até os produtos pagos à vista devem sofrer. ;Como a renda é uma só, quando você faz uma alteração dessa natureza, os consumidores terminam alterando suas decisões de consumo. Existe impacto em todos os mercados, mais concentrados naqueles que dependem de crédito;, ressaltou. O economista crê que as medidas tomadas pelo BC sinalizam um aumento da taxa básica de juros.

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