postado em 10/12/2010 08:05
Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a economia do Brasil está cada vez mais parecida com a de países desenvolvidos. Não à toa, o setor de serviços ampliou sua relevância na composição do PIB e já representa mais de 60% da geração de riquezas do país. O segmento foi o único que ofereceu contribuição positiva para a economia do lado da oferta no terceiro trimestre do ano, em relação ao segundo. O volume de recursos movimentados no setor chegou a R$ 529,8 bilhões entre julho e setembro, com aumento de 1% ante os três meses anteriores. A agropecuária e a indústria apresentaram quedas de 1,5% e 1,3%, respectivamente.No acumulado do ano, o avanço do setor de serviços foi de 5,7%. De olho no forte e consistente crescimento no setor, os irmãos Fábio e Carol Ludwig são o exemplo claro da pujança. Tanto que pretendem ampliar a doceria que abriram em maio deste ano e contratar pelo menos mais 20 trabalhadores. ;Temos, hoje, três funcionários que nos ajudam no preparo de mais de 1,5 mil doces por dia. Começamos uma pesquisa em bancos para fazer um financiamento com baixas taxas de juros e bons prazos;, contou Fábio. A loja inicial foi aberta com recursos da poupança.
Para os economistas, o avanço dos serviços está diretamente ligado ao consumo das famílias, que, no terceiro trimestre, apontou avanço de 1,6% ante o segundo. ;Com mais dinheiro no bolso, as pessoas investem em viagens, entretenimento, hotelaria e alimentação, o que torna o setor de serviços muito mais aquecido;, afirmou o professor de economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) José Eduardo Balian. ;O risco, porém, é de que o aumento na demanda pressione os preços;, ponderou.
Na avaliação do economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Fábio Bentes, o segmento foi alavancado, principalmente, pela maior oferta de empregos e crédito. ;Enquanto o mercado de trabalho estiver aquecido, vamos continuar bem;, disse. Na comparação entre o segundo e o terceiro trimestres do ano, nos serviços, as maiores elevações foram registradas no sistema financeiro, por causa do crédito, com alta de 3,1%. Já o comércio deu um salto de 1,4% e o de serviços de informação, 1,2%.
Também puxaram o setor de serviços a administração, saúde e educação pública ( 0,4%), as atividades imobiliárias e de aluguel ( 0,3%) e de transporte, armazenagem e correio ( 0,2%). Em relação ao terceiro trimestre de 2010, o crescimento foi de 4,9%. ;No quarto trimestre, devemos ter um resultado ainda melhor, por conta de fatores como a entrada do 13; salário na conta dos trabalhadores e o Natal. Para o próximo ano, o desafio é manter esse ritmo de crescimento, uma vez que haverá aumento dos juros e corte nos gastos do governo;, observou o professor da FGV Management Ricardo Teixeira.
Governo comemora
Apesar da desaceleração no terceiro trimestre, o clima no governo foi de comemoração do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). ;O (crescimento do) PIB brasileiro é o segundo maior do mundo, só está atrás do da China. Nós passamos a Índia, que costuma ser a segunda;, festejou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que já prevê uma expansão da economia neste ano próxima a 8%.
;Com o resultado que nós tivemos, esperamos um crescimento para o próximo trimestre acima de 0,5%. Isso faz com que o crescimento do PIB em 2010 seja superior a 7,5%. (O aumento de) 7,5% já está garantido. Devemos fechar o ano mais perto de 8%, para fechar 2010 com chave de ouro;, disse o ministro durante o anúncio do último balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula. Mantega estimou que o ritmo de expansão da economia deve diminuir para a faixa de 5% em 2011, mas frisou que não há bolha de crescimento na economia brasileira e que a trajetória da inflação é benigna.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, também anteviu que a economia do país terá um crescimento ;próximo de 8% neste ano;. ;Falei com o presidente Lula agora há pouco sobre o PIB e mostrei para ele que continuamos tendo crescimento, embora proporcionalmente menor, sob uma base maior;, afirmou.
Bernardo, que deixará o Planejamento e assumirá o Ministério das Comunicações no governo da presidente eleita, Dilma Rousseff, disse que os destaques positivos dos números apresentados pelo IBGE foram os investimentos: ;A situação da indústria mostra que ela alcançou sua capacidade instalada, por isso o investimento está crescendo;.
Meirelles
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, considerou que o PIB do terceiro trimestre mostra desaceleração da economia mais condizente com sua capacidade. ;O crescimento do PIB confirma o diagnóstico do Banco Central de que a economia brasileira se desloca para uma trajetória mais condizente com o equilíbrio de longo prazo. O fato de o investimento seguir apresentando desempenho bastante positivo indica que o bom momento da economia deve prosseguir ao longo dos próximos trimestres;, afirmou ele em nota.
Arrecadação recorde
O brasileiro nunca pagou tantos impostos sobre produtos e serviços como no terceiro trimestre de 2010. Foram R$ 136,9 bilhões, desembolsados por consumidores e setor produtivo ; o maior montante já registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em um período tão curto de tempo. Se todo esse dinheiro for rateado pela população do Brasil, incluindo aí os recém-nascidos, cada um teria uma conta com o Fisco de R$ 684,24 apenas entre julho e setembro. Comparado ao terceiro trimestre de 2009, a arrecadação do governo federal cresceu incríveis 22,7%. Segundo Zeina Latif, economista sênior do Royal Bank of Scotland para a América Latina, a carga tributária é pesada e a eficiência do Estado, baixa. ;Precisamos ter um Estado mais enxuto e eficiente. Não no sentido de não ter a presença do Estado, mas de redimensionar e tentar fazer uma política mais eficaz para aumentar a poupança pública e o investimento;, disse.
Breque no gasto público
Vânia Cristino
Depois de inflar o Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, quando o seu consumo cresceu 1,9% ante os primeiros três meses do ano, o governo botou o pé no freio. Entre julho e setembro, a participação da administração pública na geração das riquezas nacionais foi nula, quando comparada ao trimestre imediatamente anterior. O resultado foi visto com alívio pelos analistas, que temiam pelos efeitos nocivos na economia da gastança governamental.
O fato de o consumo ter apresentado variação zero no terceiro trimestre ; quando os desembolsos somaram R$ 184,6 bilhões ; não deve ser visto, porém, como uma demonstração de austeridade fiscal. ;Os gastos governamentais foram concentrados no primeiro semestre, quando o objetivo foi incentivar a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Portanto, a variação zero em um trimestre não pode ser vista como uma efetiva redução das despesas;, disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal.
Além da gastança eleitoral no primeiro e no segundo trimestres de 2010, o governo contratou uma grande número de servidores, reajustou salários e se comprometeu com desembolsos diversos para investimento, como por exemplo, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No terceiro trimestre, com o Orçamento já comprometido e o ajuste fiscal maquiado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o jeito foi controlar o caixa.
Para Leal, o que vai determinar se o governo realmente está disposto a colocar o pé no freio é o comportamento dos superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública). O economista-chefe do SulAmérica Investimento, Newton Rosa, concorda. ; No superavit primário, o esforço fica muito mais claro, pois, no PIB, o que se mede é quanto o governo contribuiu para o crescimento da economia;, disse.
O mercado está de olho no Orçamento de 2011 e no reajuste do salário mínimo. ; Se o valor do salário mínimo extrapolar muito o que determina a regra atual, a administração Dilma Rousseff terá que encontrar uma boa justificativa para que o mercado não interprete isso como um sinal negativo;, ponderou Leal.
O economista explicou que o que vem deixando os investidores preocupados em relação ao resultado fiscal é saber quanto, de fato, será a economia para o pagamento de juros no próximo ano. Em 2010, mesmo com todas as manobras contábeis, o governo não conseguirá fazer o superavit primário esperado, de 3,3% do PIB.
Em 2009, queda maior
Luciano Pires
Enviado especial
Rio de Janeiro ; O tombo sofrido pelo Brasil em 2009 foi maior do que se imaginava. Reflexo direto da crise internacional que levou à lona o mundo capitalista, depois do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos, a economia nacional encolheu não 0,2%, mas 0,6%, de acordo com cálculos atualizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A revisão do PIB foi divulgada ontem, assim como as taxas corrigidas referentes aos dois primeiros trimestres de 2010.
Aceito internacionalmente, o exercício estatístico é realizado todos os anos a partir da consolidação dos dados do terceiro trimestre. O coordenador de contas nacionais do IBGE, Roberto Olinto, explicou que a reestimativa incorpora a nova base de dados de 2008, recalculada há poucas semanas. A partir da mudança de cenário de dois anos atrás, os eventos seguintes também foram revistos sob metodologias mais atuais.
Com a reconfiguração, além do novo PIB geral de 2009, os resultados trimestrais de 2010 sofreram alterações. O produto acumulado entre janeiro e março, por exemplo, que havia ficado em 2,7%, passou para 2,3%, em relação aos três meses anteriores. A taxa do segundo trimestre em relação ao primeiro de 2010 saiu de 1,2% para 1,8%. O total de geração de riquezas computadas pelo IBGE no segundo trimestre deste ano, ante igual período do ano passado, foi revisado de 8,8% para 9,2%, enquanto que o primeiro trimestre de 2010, contra o quarto de 2009, variou de 2,7% para 2,3%. Frente ao primeiro trimestre do ano passado, a taxa que era de 9,0% alcançou 9,3%.