Depois de nomear um ministério sem expressão e velho, por incluir vários integrantes do governo Lula, a presidente eleita, Dilma Rousseff, decidiu pela renovação no Banco Central. Se nada mudar no meio do caminho, a economista Zeina Latif, hoje trabalhando na filial brasileira do Royal Bank of Scotland, será nomeada para a diretoria de Estudos Especiais do BC, responsável por abastecer o comando da autoridade monetária de informações fundamentais para decisões sobre a taxa básica de juros (Selic).
Apontada como uma das mais brilhantes profissionais de sua geração, Zeina já conversou com o presidente indicado para o BC, Alexandre Tombini, e está dependendo, agora, do envio de seu nome para o Senado, onde terá que passar por uma sabatina. Zeina foi indicada por Mário Mesquita, ex-diretor de Política Econômica do BC, com quem havia trabalhado no antigo ABN Amro Bank.
Com uma visão bastante diferenciada do mercado financeiro, Zeina é muito bem avaliada dentro do BC e no Ministério da Fazenda. ;Ela foge do padrão dos economistas de bancos. Enquanto a maioria deles está preocupada em criar cenários para que as instituições nas quais trabalham lucrem especulando com juros, Zeina opta por avaliações técnicas, respaldadas;, disse um integrante do governo de transição.
Em recente entrevista ao Correio, Zeina alertou ver espaço para o BC reduzir os juros ainda neste ano, desde que o governo cumpra a promessa de economizar 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para conter a dívida pública.
Indústria estagnada
; Cristiane Bonfanti
A dificuldade do governo em conter a valorização do real frente ao dólar continua fazendo estragos. Pelo terceiro mês seguido, além de sofrer com a invasão de artigos importados no mercado, as fábricas brasileiras enfrentaram dificuldades para vender os seus produtos a outros países e não conseguiram responder às demandas do mercado de trabalho. Segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria não criou vagas entre setembro e outubro. A taxa do emprego industrial ficou nula, após ter permanecido praticamente estável nos dois meses anteriores (0,1% em agosto e -0,1% em setembro). Na comparação com outubro do ano passado, houve uma expansão de 4,2%.
O enfraquecimento da indústria foi uma das principais influências negativas para o desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre, que avançou apenas 0,5% ante os meses de abril, maio e junho. ;Alguns setores, como o siderúrgico e o de petróleo, estão sofrendo uma concorrência muito forte de produtos importados e essa situação começa a se refletir na criação de empregos. Além disso, as fábricas acumularam estoques no primeiro trimestre e, nos dois seguintes, tiveram de colocar o pé no freio na produção para queimá-los;, explicou o pesquisador do IBGE Fernando Abritta.
Para o superintendente adjunto de ciclos econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV), Aloísio Campelo Júnior, além da valorização do real, o fim da redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI) para automóveis e eletrodomésticos da linha branca (geladeira, fogões e máquinas de lavar) enfraqueceu a indústria brasileira. ;Esses fatores reduziram a confiança do empresário. Se não houver mudança no câmbio, a tendência é que os produtos tornem-se menos competitivos e que o mercado de trabalho sofra mais ainda;, explicou o especialista.
Menos horas pagas
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o número de horas pagas caiu 0,8% em outubro em relação a setembro, mês que já havia apresentado queda de 0,4% no índice. Mas a folha de pagamento real dos trabalhadores avançou 0,4% em outubro, frente ao mês anterior. No acumulado do ano, a melhoria foi de 6,8%. ;Isso contribuiu, por exemplo, para o aumento do consumo das famílias, influenciado pelo emprego e pela renda;, observou o pesquisador Fernando Abritta.