postado em 16/12/2010 07:30
A escassez de recursos para viabilizar grandes obras e diminuir a carência de infraestrutura no país levou o governo a anunciar um pacote de medidas financeiras destinadas a estimular o mercado de crédito de longo prazo. Com as soluções propostas, a equipe econômica quer estimular, principalmente, a participação do setor privado ; barateando os custos de captação ; e desafogar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que se tornou, nos últimos anos, a principal, senão a única, fonte de recursos para os megaprojetos no país. No conjunto, as propostas exigirá do governo uma renúncia fiscal de R$ 605 milhões.;Sempre tivemos pouco recurso de longo prazo, mas como antes não se investia, não fazia diferença. Os poucos projetos eram bancados pelo BNDES. O ciclo de crescimento que vivemos aumentou a necessidade de financiamento;, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao anunciar o pacote. As medidas são ainda uma garantia para a realização dos empreendimentos contidos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). As perdas fiscais com as medidas foram informadas pelo secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa. Mas, segundo ele, a recuperação dos créditos poderá gerar um efeito positivo na arrecadação futuramente.
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Condições
Para garantir que esses papéis não se transformem em títulos de curto prazo ou se desviem do objetivo proposto, o governo estabeleceu algumas condições. As debêntures das SPEs terão que ter duração total de 6 anos, aproximadamente, e será proibida a negociação, entre os compradores, antes de 4 anos. Não poderá ser recomprada pela SPE antes de 2 anos, terá pagamento de rendimento semestral e a emissão total não poderá ultrapassar o valor do projeto.
Será criado um fundo de liquidez para os títulos privados a fim de evitar o medo dos investidores de ficar com os papéis encalhados nas mãos. O fundo terá, inicialmente, recursos de cerca de R$ 2,2 bilhões e vai atuar comprando e vendendo, de forma a garantir ao aplicador, quando houver o desejo de desfazer dos papéis, maior facilidade de encontrar um comprador. O pacote também traz a eliminação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de até 30 dias nas operações de compra e venda de títulos privados e a regulamentação de ofertas públicas de Letras Financeiras pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os papéis só podiam ser lançados por instituições financeiras privadas e agora o BNDES também poderá emiti-los.
O presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Construção de Base (Abdib), Paulo Godoy, elogiou as medidas. ;Vamos criar um círculo virtuoso para a movimentação desses títulos, que vai gerar uma poupança de longo prazo. Tiramos das costas do BNDES o ônus de financiar toda a infraestrutura;, observou. O presidente da instituição, Luciano Coutinho, prometeu que o banco de fomento vai complementar as medidas do pacote. Entre as ações, criará um programa de compra de debêntures de R$ 10 bilhões e atuará na formação de liquidez desses títulos.
DESCONFORTO
Apressado para deixar as dependências do Palácio do Planalto
e embarcar para São Paulo na comitiva do presidente Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acabou constrangendo o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Após anunciar medidas para estimular os financiamentos de longo prazo, Mantega concedeu a palavra ao colega, mas pediu celeridade na apresentação. Impaciente, interrompeu Coutinho e comunicou que o deixaria só. ;Preciso ir. O carro do presidente é mais rápido que o meu e, se eu não sair, ele me deixa aqui, a pé;, disse. Apesar do desconforto, o titular do BNDES prosseguiu no detalhamento das propostas.
Gás na infraestrutura
Confira as medidas anunciadas pelo governo para incentivar o crédito aos megaprojetos
; Desoneração de Imposto de Renda sobre o rendimento de papéis emitidos por Sociedades de Propósito Específico (SPEs) ; empresas criadas para grandes projetos da área de infraestrutura: atualmente, os interessados na compra desses papéis pagam de 15% a 22,5% de imposto. A partir de agora, eles serão isentos. O objetivo é estimular o crescimento desse mercado.
; Desoneração de Imposto de Renda sobre o rendimento que estrangeiros obtêm na compra de títulos financeiros de qualquer empresa brasileira: a medida estimula a entrada de capital externo, o que aumenta a poupança de recursos vindos do exterior, que permanecem por mais tempo no país.
; Criação de um fundo financeiro que terá o papel de estimular um mercado secundário de títulos privados: a intenção é dar ao investidor a segurança de que, quando quiser ou precisar vender os papéis adquiridos, haverá compradores dispostos. É a mesma função já feita pelo Tesouro, no programa Tesouro Direto, no qual todas as quartas-feiras há um leilão de recompra dos papéis.
; Eliminação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de até 30 dias sobre a compra e venda de títulos privados: com isso, o custo dessas operações ficará menor.
; Regulamentação de ofertas públicas de Letras Financeiras (mecanismo recentemente criado pelo governo) pela Comissão de Valores Mobiliários: com negociações feitas publicamente, a expectativa é de que haja mais transparência e, consequentemente, maior procura dos investidores.
; Recuperação facilitada de créditos bancários, desobrigando as empresas a pagarem imposto de renda sobre as renegociações de antigas dívidas de uma só vez: o objetivo é diluir o ônus pelo período do financiamento.
; Redução do IOF sobre a entrada de capital estrangeiro de 6% para 2% para fundos de investimento em participações e de fundos mútuos de investimento em empresas emergentes, tradicionalmente de longo prazo: essa medida procura corrigir uma distorção da elevação da tarifa para o ingresso de recursos externos, que tinha como objetivo barrar apenas o capital de curto prazo.
Fonte: Ministério da Fazenda