Economia

Com Alexandre Tombini no comando do Banco Central, a UnB chega ao poder

postado em 19/12/2010 08:00
Ministro da Fazenda Guido Mantega e o novo presidente do Banco Central Alexandre Tombini, durante anúncio dos cargos no  CCBB
O novo guardião da moeda, Alexandre Tombini, 47 anos, nem sempre jogou na defesa. Foi centroavante nos gramados que dividiu com alunos de economia da Universidade de Brasília (UnB), nos anos 1980, quando tinha a carteirinha de estudante da instituição. Na época, pelo menos 30 quilos mais leve ; hoje ele está com 115 ; transformou sua casa no Lago Norte em arena de disputadas partidas de futebol. ;A tradicional pelada na casa do Alexandre;, como lembram alguns conhecidos, além de diversão, transformou-se em um meio para unir a turma. Ao assumir o cargo de presidente do Banco Central, 26 anos depois de ter deixado os bancos universitários e abandonado o esporte, vai se tornar o primeiro ministro formado na UnB.

;Era um agregador;, relembra Jorge Madeira Caldeira, professor que lecionou economia dos recursos naturais para Tombini. No campo, ele era veloz e jogava duro. Fora dele, nas aulas, era aluno dedicado e de trato respeitoso com os colegas e os professores. ;Um dos mais brilhantes estudantes que já passaram pela faculdade. No BC, Tombini vai aplicar o manual. Não vai inventar nada. Ele sabe o que está fazendo e sabe que tem limites e uma função determinada. Se tiver de manter os juros altos, vai fazê-lo enquanto for necessário;, afirma Caldeira.

Antes dele, a universidade teve apenas alunos que chegaram a secretário executivo de ministérios, posto equivalente ao de vice-ministro, e outros que se destacaram na iniciativa privada. Ao concluir o curso, Tombini passou por um mestrado na instituição, mas logo teve de abandonar o curso. O brasilianista Werner Baer veio a Brasília no fim dos anos 1980 e levou o recém-formado economista para a Universidade de Illinois (EUA), onde se tornou Ph.D. em 1991. Na volta ao Brasil, retornou também à UnB, mas como professor. ;Era a época em que os salários chegaram ao fundo do poço;, relembra Caldeira.

O economista Rodrigo Marques, ex-aluno de Tombini, afirma que o novo presidente do BC era um bom professor. ;Ele tem uma sólida formação e trabalhou em organismos internacionais de ponta;, exalta. O também economista André Fernandes relembra que, pela sua postura acadêmica, jamais imaginaria que ele faria parte de um governo petista. ;É uma ironia da história que Tombini, que desprezava as ideias da esquerda, vá governar com a turma do PT;, constata.

Capacidade
Em função do baixo salário docente na época, Tombini passou apenas dois anos como professor, de1994 a 1995. Abandonou a academia depois de passar em um concurso do BC em busca de ganhos melhores do que o oferecido na vida universitária. ;Tombini é funcionário de carreira e sua ascensão resulta do esforço do Banco Central, que investiu na formação de quadros com perfil técnico;, pondera Gervásio dos Santos, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).


No confronto das opiniões dos que o conheceram na universidade e dos que mantiveram relações profissionais com Tombini no pós-academia, os elogios seguem na mesma linha. Todos o classificam como humilde, bom negociador e dono de uma capacidade de agregar e se cercar de bons nomes. A despeito da propalada timidez, ele não se mostrou constrangido ou inseguro nas respostas na sabatina do Senado.

Especialista em econometria (conjunto de ferramentas estatísticas que pretende entender a relação entre as variáveis econômicas), é visto pelos professores da universidade como um homem de bagagem acadêmica que aplica seu conhecimento de forma prática. Como funcionário do BC, atuou na criação do Departamento de Estudos e Pesquisas e teve papel determinante na estabilização econômica do país. Ajudou na implantação do real, na elaboração do sistema de metas de inflação e na regulação do sistema financeiro nacional.

Na consolidação do Plano Real, Tombini atuou como negociador externo. Trabalhou para reduzir restrições às importações e ajudou a tirar do papel a Tarifa Externa Comum (TEC) dos países do Mercosul. Em 1999, ele também participou, sob a supervisão de Sérgio Werlang, na época diretor de Assuntos Econômicos do BC, do desenho do sistema de metas de inflação.

Décio Garcia Munhoz, economista e professor aposentado da UnB, espera que Tombini represente uma mudança de orientação no governo e aja para que a União pare de se financiar com a emissão de títulos públicos. Para Jorge Caldeira, será difícil Tombini dar pitacos com esse aspecto. ;Desde a universidade, ele era uma pessoa ponderada. Sabe o que lhe compete e não deve entrar na seara que pertence a outros;, diz.

Entre os conhecidos de Tombini do período acadêmico, o consenso é que ele não faz o tipo showman e deve evitar o discurso político. Ao contrário, pauta-se pela discrição. Para Roberto Piscitelli, professor de contabilidade da UnB, o fato de ele se dispor a trabalhar com o Ministério da Fazenda indica que sua experiência como servidor público produzirá uma gestão que fortalecerá o trabalho em equipe. ;Isso indica uma percepção da presidente eleita, Dilma Rousseff, de que o melhor é trabalhar de maneira técnica;, afirma Piscitelli.

Status
Alexandre Tombini vai assumir a presidência do Banco Central em 2 de janeiro, um dia após a posse de Dilma Rousseff. Ele substituirá o atual titular, Henrique Meirelles, que tentou permanecer no cargo, mas foi preterido. A próxima ocupante do Palácio do Planalto optou por um perfil mais neutro ; ela quer o fim dos desentendimentos frequentes com o Ministério da Fazenda. É possível que, ao longo de seu mandato, Tombini perca o status de ministro, concedido a Meirelles apenas para que ele tivesse foro privilegiado nos processos judiciais que enfrenta.


"É uma ironia da história que Tombini, que desprezava as ideias da esquerda, vá governar com a turma do PT;
Rodrigo Marques, ex-aluno de Tombini

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