postado em 20/12/2010 08:00
Na contramão de economias desenvolvidas como Estados Unidos, Espanha, Portugal e Irlanda, que enfrentam retração no mercado de trabalho desde a crise iniciada em 2008, o Canadá e a Austrália estão com estrutura montada para acolher e integrar trabalhadores imigrantes qualificados. A escassez de mão de obra faz com que esses países ofereçam incentivos para a entrada de profissionais com formação tecnológica ou universitária de diferentes áreas. As projeções são de que, apenas na província de Quebec, no leste canadense, sejam oferecidos 313 mil empregos até 2017.;As oportunidades são tanto para a população local quanto para os estrangeiros, que disputam praticamente em igualdade de condições. A única dificuldade é a língua. Quanto mais conhecimento a pessoa tiver, melhor;, disse o assessor em relações públicas do Escritório de Imigração do Quebec em São Paulo, Gilles Mascle. Os habitantes dessa província do Canadá falam primordialmente o francês, um dos dois idiomas oficiais do país ; o outro é o inglês.
O economista da Opus Investimentos José Márcio Camargo explicou que, atualmente, a maioria dos países desenvolvidos enfrenta, de um lado, taxas altas de desemprego e, de outro, baixo crescimento da economia. Na Espanha, o índice de desocupação chega a 20,7%; nos Estados Unidos, a 9,8%; e, na Europa como um todo, a 10,1%. ;Por isso, os sindicatos tentam evitar a imigração de trabalhadores, para diminuir a concorrência. Já o Canadá e a Austrália estão crescendo economicamente e têm um extenso território para uma população pequena;, explicou.
De acordo com Mascle, o governo local decidiu investir em mão de obra estrangeira justamente por causa da baixa taxa de natalidade do Canadá, em torno de 1,6 criança por mulher. Somente para manter a população nos níveis atuais, o índice deveria ser de 2,1%. ;A estimativa é de que 20% dos trabalhadores públicos e privados se aposentem até 2020. Não temos jovens para substituí-los;, lamentou o assessor. Segundo Camargo, ainda devido às consequências da crise econômica, a tendência é que os principais países desenvolvidos continuem ;expulsando; trabalhadores por, pelo menos, três anos.
Produtividade
;Se o mercado fosse livre, eles iriam fechar as portas não apenas para os imigrantes, mas para os próprios cidadãos, que só não são demitidos por causa das pressões dos sindicatos;, observou. Na opinião de Camargo, o Brasil, cuja taxa de desemprego está em 5,7%, deveria diminuir as barreiras para a entrada de mão de obra estrangeira. ;Aqui, as empresas estão com dificuldade para conseguir pessoas qualificadas. Se tivéssemos um programa agressivo de imigração, melhoraríamos a produtividade.;
Sem nunca ter ido ao exterior, o analista de sistemas Bruno Marzullo, 29 anos, está se preparando para se mudar para Trois-Rivi;res, em Quebec, no primeiro semestre de 2011. Marzullo já conseguiu a autorização da província para imigrar e aguarda a assinatura dos papéis no governo federal. Filho de militar, o carioca conta com a experiência de ter vivido em seis estados brasileiros. ;Planejo morar em outro país há 10 anos, mas esperei me formar e ter experiência profissional. O Canadá tem uma carência muito grande de pessoas capacitadas e eu vi lá a melhor oportunidade;, contou.
Para ser aprovado no processo, ele fez um ano de inglês. Aqui, o analista de sistemas ganha R$ 5,6 mil por mês e a expectativa é que comece a vida lá fora com a mesma renda. ;Ainda não tenho emprego lá, mas espero conseguir em, no máximo, três meses. Meus planos são de me mudar definitivamente e vir ao Brasil apenas para visitar;, disse. Os gastos com documentação e treinamento para ser aprovado passam de R$ 3 mil. Para entrar no Canadá, Marzullo vai levar ainda uma reserva de R$ 8 mil.
O governo de Quebec busca imigrantes que tenham formação técnica ou universitária. A renda per capita da província gira em torno dos US$ 25,5 mil ao ano. Segmentos como administração, alimentos, aviação, bioquímica, contabilidade, edificações, enfermagem, engenharias, estatística, química, radiologia, tecnologia e as diversas áreas da indústria estão entre os mais promissores. A jornada de trabalho é de 40 horas semanais, o salário mínimo é de 9,50 dólares canadenses por hora e os benefícios trabalhistas incluem assistência previdenciária, licença-maternidade de um ano e 14 salários anuais.
Investimento
Na Austrália, engenheiros de todas as especialidades e analistas de tecnologia da informação são as profissões que mais carecem de pessoal. Outras áreas valorizadas são construção e saúde (médicos, enfermeiros, dentistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e farmacêuticos). Segundo o gerente nacional do programa Viva na Austrália, Vinicius Barreto, o processo de solicitação do visto de residente demora de um a três anos. ;O investimento total no processo de imigração gira em torno de US$ 7 mil, o que inclui taxas governamentais, exames médicos e teste de proficiência da língua inglesa;, explicou.
Tanto no Canadá quanto na Austrália, os programas não garantem emprego, mas os governos oferecem suporte ao imigrante e seus familiares e auxílio na procura por uma vaga. ;Em Quebec, ajudamos na elaboração de currículos e de cartas de apresentações. Se necessário, os trabalhadores fazem aulas gratuitas para o aperfeiçoamento do francês;, salientou Mascle. ;O índice de desemprego na Austrália é baixo, de 5%. Quem atende os critérios exigidos pelo governo tem ótimas condições de empregabilidade;, ressaltou Barreto.
Durante o processo de seleção, idade, experiência profissional, formação e nível de conhecimento de inglês ou francês valem pontos. ;Eles querem pessoas jovens e com bom nível da língua local. Quem tem entre 20 e 25 anos de idade, por exemplo, tem mais chances;, disse o diretor do Portal do Intercâmbio no Brasil, Glauber Vale.
Os imigrantes saem do Brasil com o visto de residente permanente. Em ambos os países, o único direito que eles não têm é o de participar da vida política. O período para conseguir cidadania é de três anos no Canadá e de cinco, na Austrália. Interessados podem procurar escritórios de imigração ou empresas de intercâmbio para se informar e realizar testes que indicam as possibilidades de seleção pelos programas.