Economia

Renda em alta e dólar baixo levam brasileiros a gastos recordes no exterior

postado em 22/12/2010 08:00
Para Altamir Lopes, do BC, despesas chegarão a US$ 2 bi em dezembroA crise aérea anunciada para o Natal deve ganhar proporções gigantescas. Este fim de ano será lembrado como o que os brasileiros mais fizeram viagens internacionais, aumentando o caos que já é grande nos aeroportos. A expectativa do Banco Central é que, em dezembro, os consumidores desembolsem cerca de US$ 2 bilhões no exterior, o maior montante desde 1947, quando esses dados passaram a ser computados. As despesas com esses passeios no acumulado do ano devem chegar a US$ 16,5 bilhões ; um recorde que supera em 51,4% os gastos do ano passado, de US$ 10,9 bilhões.

Com tantos consumidores de malas prontas para embarcar, a diferença entre os gastos de brasileiros lá fora e o de turistas estrangeiros no Brasil deve deixar um saldo negativo de US$ 10,5 bilhões neste ano. Para 2011, a expectativa é que o deficit chegue a US$ 12 bilhões. ;As despesas dos brasileiros no exterior crescem em linha com a expansão da renda e o comportamento do câmbio;, justificou Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC. ;Além do aumento da renda, tem o crédito permitindo pagar as viagens de maneira parcelada;, explicou Cristiano Souza, economista do banco Santander.

Cartão
Nos passeios internacionais, o brasileiro está optando por pagar suas contas com o cartão de crédito e deixando o dinheiro em espécie de lado. De acordo com os dados do BC, do US$ 1,5 bilhão gasto em compras em novembro, quase 70% foram pagos com o plástico. A modalidade de pagamento, explicam os especialistas, além de oferecer uma segurança maior contra furtos pode, em alguns casos, beneficiar o consumidor ; isso se no fechamento da fatura o dólar estiver mais barato do que na época em que a compra foi realizada.

A favor dos que querem conhecer outros países está ainda o preço da viagem. Com o dólar em queda e o aumento do número de empresas que fazem rotas internacionais, o custo do passeio ficou menor. Na alta temporada, neste fim de ano, está mais em conta ir para países da América do Sul do que para praias do Nordeste. Enquanto no início do mês passagens para a Argentina eram vendidas a R$ 680 para o período natalino e de réveillon, ir para o Ceará ou para a Bahia saía quase que pelo dobro.

Toda essa acessibilidade de preços fez com que apenas até 21 de dezembro o desembolso de brasileiros em solo estrangeiro chegasse a US$ 1,4 bilhão. Já as receitas oriundas de visitantes no Brasil ocorreram em ritmo menor no período, somaram US$ 369 milhões, o que deixou um saldo negativo de US$ 658 milhões. Segundo Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, o dólar vai continuar favorecendo viagens e importações enquanto os Estados Unidos continuarem a inundar o mundo com dólares visando alavancar a própria economia.

2; queda seguida
; O dólar marcou a segunda queda consecutiva ante o real ontem, com o mercado atento a perspectivas de mais ingressos de recursos no curto prazo e ao otimismo no exterior. A moeda norte-americana caiu 0,59%, a
R$ 1,698 na venda, ampliando a desvalorização desde sexta-feira a 0,99%. ;Tem investidor achando que o Banco Central vai mesmo subir o juro em janeiro, e acredito que já há muitos se adiantando a esse movimento e trazendo dólares para o Brasil;, afirmou à Reuters Moacir Marcos Júnior, operador de câmbio da Interbolsa do Brasil. Júnior afirmou, contudo, que caso haja uma elevação da Selic nos próximos meses ;certamente esse aumento deve vir acompanhado de alguma medida do governo para evitar uma valorização robusta do real;. A taxa básica de juros brasileira está atualmente em 10,75%, bem acima da praticada em economias desenvolvidas, e os agentes vêm remontando apostas de que o BC deve elevá-la em janeiro para barrar a inflação.

Com o aquecimento da economia, conta de aluguel de equipamentos registra deficit cada vez maior, ampliando os desequilíbrios do setor externoRombo de US$ 64 bi
O Banco Central piorou suas projeções para as contas externas em 2011, o primeiro ano do governo Dilma Rousseff. A nova presidente assume o leme do país com a perspectiva de um rombo de US$ 64 bilhões nas transações correntes ; número 30% superior aos US$ 49 bilhões que devem ser alcançados neste ano. Antes, a autoridade monetária estimava em US$ 60 bilhões o tamanho do buraco. Para não ter dificuldades, a nova gestão espera que os fluxos de capital para o Brasil permaneçam em níveis elevados. O ajuste nos cálculos ocorreu em função da necessidade crescente do país de alugar equipamentos no exterior, das remessas de lucros de filiais para matrizes e da perspectiva de aumento das viagens internacionais.

A conta de aluguel de equipamentos no exterior é a que apresenta o resultado mais negativo no ano: US$ 12,2 bilhões. Com a atividade econômica aquecida e o mercado imobiliário e de infraestrutura em ritmo acelerado, o Brasil não tem condições de produzir gruas e outros maquinários necessários para o país. Assim, precisa pagar aos estrangeiros para poder crescer. ;Essas despesas estão diretamente ligadas a investimentos;, avaliou Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central. A projeção para esse gasto também foi revisada, passou de US$ 11 bilhões neste ano para US$ 13 bilhões.

A despeito do rombo crescente nas contas externas, Lopes garante que não há com o que se preocupar. O deficit está sendo coberto pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED) e pelas aplicações em ações e títulos de renda fixa. ;Este ano podemos fechar com ingresso de aplicações diretas superiores a US$ 38 bilhões;, calculou. A previsão anterior do BC era de que o IED ficasse em US$ 30 bilhões, mas no fim do ano diversas empresas voltaram os olhos para o Brasil e realizaram projetos que estavam parados em função das incertezas internacionais.

Preocupação
Cristiano Souza, economista do Santander, avalia que Dilma Rousseff só terá de se preocupar caso os Estados Unidos se recuperem e os fluxos de capitais retornem para lá em busca de rentabilidade. ;Isso não deve ocorrer em 2011, é uma situação que virá no médio prazo. Ainda assim, não é tão preocupante;, disse. ;O Brasil é atrativo e (os estrangeiros) perderam o medo do país. Nosso risco é bem mais baixo que o de alguns países da Europa. As perspectivas são de que as coisas fiquem ainda mais rentáveis por aqui, permitindo que o grande fluxo de capital dure por um bom tempo;, concluiu. (VM)

Aposta na alta do real
Com os Estados Unidos ainda em recuperação econômica e imprimindo dólares para tentar alavancar o consumo, a divisa norte-americana continua em tendência de queda e os mercados com excesso de liquidez. Os bancos brasileiros, buscando lucros elevados, estão apostando alto que esse derretimento não será interrompido. Em dezembro, as instituições financeiras venderam US$ 15,043 bilhões, mesmo sem ter esse dinheiro em caixa, apenas na expectativa de recomprar esses dólares a um cambio mais baixo no futuro. Em novembro, essa aposta era bem menor, US$ 12,690 bilhões.

A movimentação de recursos estrangeiros no país, até 17 de dezembro, ficou negativa em US$ 1,275 bilhão. O desempenho foi puxado principalmente por uma saída de capital da ordem de US$ 25,610 bilhões no período. O ingresso de dólares, em contraponto, foi inferior em US$ 953 milhões.

Para Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, os dados antecipados ontem pelo Banco Central mostram ainda que houve uma leve desaceleração na entrada de recursos no país. A balança comercial também teve influência sobre o saldo negativo da movimentação cambial. As importações somaram US$ 10,379 bilhões e as exportações, US$10,057 bilhões, o que deixou um resultado negativo de US$ 322 milhões. (VM)

Incentivo prejudicial
; Liana Verdini
A guerra entre os estados para impulsionar a atividade econômica em suas fronteiras está provocando uma verdadeira explosão das importações e distorções no balanço de pagamento e nas balanças comerciais estaduais. A denúncia é do secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral, para quem o caso mais emblemático desse problema pode ser percebido em Santa Catarina, que sempre teve uma indústria pesqueira forte, fornecedora para o restante do Brasil, e hoje chega a importar pescado de outros países. Barral lembrou que já são 18 estados com esse tipo de incentivo.

;As importações de Santa Catarina aumentaram 600% nos últimos cinco anos. A situação se agravou muito no último ano e meio. E o objetivo de tudo isso é aumentar o movimento em seus portos para recolher mais impostos;, avaliou Barral. ;A questão é que esse é um processo que dá preferência aos produtos importados e acaba prejudicando as fábricas instaladas em outros estados brasileiros, que competem com mercadorias incentivadas e feitas fora do país, em um movimento de exportação de empregos.;

Impostos
O governo federal, por outro lado, deu mais um passo para aumentar a competitividade dos produtos nacionais no mercado internacional. Portaria da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) isentou de pagamento do PIS, da Cofins e do Imposto de Importação os insumos comprados no Brasil e usados na produção de mercadorias em quantidade equivalente ao que foi exportado. As matérias primas e as peças obtidas no exterior já contavam com esse benefício.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação