postado em 24/12/2010 09:43
Passa ano, entra ano, e o discurso do governo de que os investimentos na ampliação e melhoria dos aeroportos são prioritários fica na promessa. Não à toa, a população está assistindo aos transtornos vividos por quem se aventurou a viajar nos dias anteriores ao Natal. Em 2007, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ; apontado como ;filho; da sua sucessora, Dilma Rousseff. A previsão era destinar R$ 3 bilhões à infraestrutura aeroportuária até 2010. Porém, apenas R$ 281 milhões, o equivalente a 9% do total, foram efetivamente liberados.Com a incapacidade em investir no setor, a solução encontrada foi apertar as exigências feitas às companhias, o que sobrecarregou ainda mais o sistema. Tentando evitar a greve que aeroportuários e aeroviários queriam fazer, Lula jogou no colo de Dilma a missão de desarmar a bomba relógio do apagão aéreo marcado para 2014, durante a Copa do Mundo de futebol.
Um levantamento da organização Contas Abertas mostra que o presidente deixará o cargo com a conclusão de 12 empreendimentos em 10 aeroportos. Em 2007, a previsão era realizar 25 empreendimentos em 20 terminais, o dobro dos que efetivamente obtiveram melhorias. Um balanço do PAC divulgado neste mês apontou que ao menos três obras preocupam o governo,
entre elas a do terminal de Brasília ; as outras são as de Vitória (ES) e Macapá (AP). O governo considera ainda que o sistema de pista e pátio do Aeroporto de Guarulhos (SP) precisa de atenção.
Adyr da Silva, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-presidente da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), avalia o tormento vivido pelos passageiros e as manifestações dos trabalhadores do setor como itens pontuais de um problema que, na verdade, é do sistema como um todo. ;Há 10 anos, o governo não investe na ampliação da capacidade. Nesse período, o número de viajantes só cresceu. Hoje, temos um volume de 35 milhões de passageiros acima da capacidade dos nossos aeroportos;, relatou. O professor acusa ainda o aparelhamento político da Infraero, que, no entendimento dele, prejudicou a gestão do setor.
;Os principais aeroportos do país atuam acima do limite. Já que não há como abrir mão da segurança, o prejuízo vai para o lado da eficiência e da qualidade do serviço prestado;, acrescentou Silva. O PAC 2, com previsão de investimentos entre 2011 e 2014, projeta mais R$ 3 bilhões na expansão da capacidade do sistema, com 22 empreendimentos em 14 aeroportos. Os projetos vão desde a construção de terminais de passageiros, pistas e pátios a torres de controle.
As obras das pistas e dos pátios, além da reforma do terminal de cargas do Aeroporto no Galeão (RJ), constavam do primeiro cronograma de investimentos do PAC. Após quatro anos, o balanço oficial do programa apresenta as pistas e os pátios concluídos, mas o trabalho no terminal terá 35% de realização até o fim do ano.
Queixas no Juizado
A médica Divina Deusdará, 29 anos, enfrentou quase seis horas de atraso no Aeroporto Juscelino Kubitschek. Ela iria viajar de São Paulo à Palmas com escala em Brasília. Depois de alguns minutos em terra, Divina foi comunicada de que teria que embarcar em outro voo, que só sairia às 22h50. ;Eles só me falaram que eu iria pegar outro avião quando eu vi que estava sozinha e fui perguntar. Esse descaso é um absurdo;, reclamou.
A família de Divina mora em Guaraí (TO), cidade a 170 km de Palmas. ;Minha família viajou para me buscar no aeroporto e ficou esperando lá. Eles não têm condições de voltar para minha cidade e depois retornar;, disse. Ela foi ao Juizado Especial do aeroporto para tentar resolver o problema. ;Vamos ver o que eles podem fazer por mim.; O órgão recebeu, até o fechamento desta edição, 30 reclamações ; na quarta-feira, foram 40.