Economia

Empresas nacionais vão dobrar investimentos realizados fora do país, diz BC

postado em 25/12/2010 08:40
O processo de internacionalização das empresas brasileiras está avançando a passos de gigantes. Se as projeções do Banco Central estiverem corretas, companhias lideradas pela mineradora Vale, a siderúrgica Gerdau e o frigorífero JBS vão desembolsar, no próximo ano, um volume recorde de US$ 16 bilhões (quando descontado o que trazem de volta ao país em forma de lucros e dividendos) para ampliar seus negócios no exterior ; mais do que o dobro do aplicado em 2010 (US$ 7,5 bilhões).

Tamanho apetite tem justificativa: firmas tradicionais dos Estados Unidos e da Europa, principalmente, estão enfrentando sérios problemas de caixa e sendo ofertadas no mercado como pechinchas. Capitalizadas, as multinacionais verde-amarelas vão às compras. Uma das mais recentes tacadas foi dada pelo grupo 3G, de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que pagou US$ 4 bilhões pela rede de fast food norte-americana Burger King. Nos próximo dias, o JBS deve assumir o controle acionário da Sara Lee, uma das mais tradicionais empresas de alimentos dos EUA.

Na avaliação da professora Simone Silva de Deos, diretora adjunta do Centro de Estudos de Relações Econômicas Internacionais (Ceri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a internacionalização propicia às empresas um espaço de valorização ampliado, com a expansão de seu mercado e com o aumento da competitividade e da redução de custos. ;Além disso, há o acesso a recursos naturais que porventura inexistam no país, à mão de obra diferenciada e mais barata, o que também reduz custos e aumenta a competitividade, e, muitas vezes, às tecnologias de ponta. Pensando dinamicamente, a internacionalização traz resultados positivos sobre as contas externas do país;, disse ela em seminário sobre o tema.

Arrematada pelo grupo brasileiro 3G, a rede Burger King tem filial até mesmo no Iraque, que foi ocupado pelas tropas norte-americanasO professor Afonso Fleury, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), conduziu uma pesquisa sobre a internacionalização de empresas brasileiras. Para ele, as firmas nacionais enfrentam vários obstáculos para estabelecer filiais no exterior por falta de tradição em sair do país. Fleury destaca ainda a barreira do idioma e da histórica falta de apoio do governo, que só despertou para a questão recentemente, enquanto outros países do Bric ; grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China ; já incentivam a transposição de fronteiras há tempos.

Emergentes

O estudo de Fleury conclui que as características da internacionalização das empresas dos países emergentes são muito diferentes das que embalaram as primeiras multinacionais nascidas nas economias desenvolvidas há décadas. As primeiras multinacionais hoje focam suas atividades em produtos e serviços de alto valor agregado, enquanto as emergentes se concentram em produzir básicos e mercadorias simples.

Além disso, a abertura de filiais no exterior seria uma forma de as empresas se protegerem das instabilidades nas economias emergentes, avaliou o economista da USP. E uma maneira de aproveitar a retração dos preços em função da crise internacional, que prejudicou o desempenho de várias economias pelo mundo.

Foi o que ocorreu no setor bancário, em que várias instituições trocaram de mãos nos últimos anos. Um exemplo é a compra do Banco Patagônia, da Argentina, pelo Banco do Brasil. A Petrobras é outro símbolo da tendência de investimento pesado no exterior. Nesta semana, decidiu pagar um bônus de entrada de US$ 13,2 milhões pela participação de 30% no campo de gás natural Itaú, na Bolívia. Além disso, vai pagar em parcelas US$ 50,6 milhões correspondentes a investimentos realizados pelos donos da concessão ; a francesa Total e a inglesa BG. No total, o desembolso da estatal para ingressar no bloco será de US$ 63,8 milhões. O negócio representa a retomada da aposta da petroleira brasileira na Bolívia.

Outras que também estão apostando no exterior são a MMX e a MPX, que conseguiram autorização da Comissão Regional de Meio Ambiente (Corema) da região do Atacama, no Chile, para a construção de um porto, a ser instalado a 80 quilômetros do município do Copiapó. O porto pertence à OMX Operações Marítimas ; subsidiária do Grupo EBX, do empresário Eike Batista ; e deverá entrar em operação em 30 meses. O investimento total é estimado em US$ 300 milhões.

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