Os países emergentes não serão apenas as alavancas do crescimento global, mas também os motores do investimento em infraestrutura. Sozinhas, as nações reunidas no acrônimo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) demandarão cerca de US$ 40 trilhões nos próximos 20 anos, conforme estudo do Boston Consulting Group. Como esse movimento não é automático, muitos governos já se mobilizam para tentar atrair o maior fluxo de capital possível. No caso brasileiro, grandes eventos, como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, são vistos como ímãs. Os desafios, porém, não são pequenos.
Carlos Asciutti, sócio da Ernst& Young, diz que o Brasil vive momento semelhante ao dos Estados Unidos na década de 1950 e 1960 ; tanto em taxa de crescimento quanto de investimentos. Mas é a China o exemplo a ser seguido. ;Lá, os investimentos têm perfil de longo prazo, de 20 a 50 anos, e, por isso, são mais saudáveis do que os que ocorrem aqui;, explica. Para Asciutti, a Copa será um grande teste. ;Vale lembrar que as obras não podem ficar prontas em 2014, e sim em 2013 pelo menos.;
Levantamento da E sobre os impactos da competição esportiva no Brasil revela que estão previstos quase R$ 30 bilhões entre investimentos e despesas operacionais. O reflexo direto no Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o estudo, será de R$ 64,5 bilhões entre 2010 e 2014. Os setores mais beneficiados serão a construção civil, de alimentos e bebidas, serviços, turismo e hotelaria e de energia e saneamento. O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, destaca que a realização da Copa e das Olimpíadas vai puxar o novelo das aplicações privadas.
;Construção civil, tecnologia, telefonia e turismo claramente serão os mais beneficiados, pois terão investimentos mais pesados;, prevê Leal. Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral, adverte, no entanto, que o país precisa de um plano de longo prazo que consiga ser conduzido por uma agência reguladora independente. Para o especialista, o projeto de gastos alardeado pelo governo é pequeno. ;Seria preciso três vezes mais, em todos os setores, para suportar o crescimento da economia atual e corrigir os gargalos;, afirma Resende.
Analistas consultados pelo Correio avaliam que o suporte oficial dado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) deve ser louvado, mas não é suficiente para equacionar todas as deficiências. ;Os dados dos investimentos do PAC ainda são modestos, pois representam bem menos de 4% do PIB para os próximos quatro anos;, destaca Maurício Endo, sócio da consultoria KPMG, que chama a atenção para os aeroportos brasileiros. ;Os gastos de R$ 5,5 bilhões previstos pela Infraero nos aeroportos das 12 cidades que sediarão a Copa são poucos. Além disso, a empresa tem tido dificuldade em realizar as obras, que estão atrasadas;, reforça.
Mão de obra
O economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Robson Gonçalves lembra que, além de uma estratégia de infraestutura, é preciso uma específica para a educação. ;É preciso envolver a participação de cérebros. O país sofre carências típicas de mão de obra qualificada, o que acaba travando o desenvolvimento;, completa.
Manuel Rossitto, diretor do Departamento da Indústria da Construção (Deconcic) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), concorda: ;Nosso principal e maior gargalo é mão de obra. Estamos entrando em uma era de pleno emprego. Na construção civil, o cenário é esse. Além disso, 30 milhões de pessoas entraram na sociedade de consumo;, diz. O problema, adianta Rossitto, é que, não bastassem os dramas históricos de formação e qualificação, o próprio engessamento da máquina pública atrapalha. ;O Estado tem de se preparar para ser um bom gestor.;
A infraestrutura de comunicação é um ponto positivo para o país. Maduro, o setor não apresenta gargalos estruturais como outras áreas revelam ter, avalia o diretor executivo do Sinditelebrasil, Eduardo Levy. As operadoras de telefonia pretendem investir R$ 80 bilhões nos próximos anos e esse aporte, nas projeções do especialista, será suficiente para acompanhar o forte crescimento da demanda. ;Os investimentos serão direcionados para a tendência tecnológica que for surgindo;, resume Levy, lembrando que, a cada minuto, 25 novos clientes de banda larga ativam suas contas.
Em energia elétrica, os obstáculos que se apresentam hoje e para o futuro também são proporcionalmente menores, destaca o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. As distribuidoras se comprometeram a investir mais US$ 7 bilhões nos próximos anos em geração e transmissão, o que afasta qualquer perigo de apagões ou estrangulamentos. ;São recursos suficientes para garantir a oferta de energia diante da demanda para os próximos anos;, afirma. Na opinião dele, o maior problema é a carga tributária. ;O principal algoz do consumidor são os tributos, além dos encargos criados pelo governo. As pessoas nem se dão conta de tanto imposto que pagam.;
DIVESIFICAÇÃO DA MATRIZ
; O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, destaca que, diante da descoberta do petróleo da camada pré-sal, um dos maiores desafios do Brasil será diversificar a matriz energética e continuar mantendo-a limpa. O ministro de Minas e Energia, Marcio Zimmermann, concorda. Ele reconhece as limitações ambientais, cada vez maiores, para a construção de usinas hidrelétricas. Para Zimmermann, um dos papéis do Estado é o de estimular a ampliação das fontes e continuar atendendo à expectativa de crescimento do país. Até 2019, as projeções indicam que não haverá falta de energia. Pires recomenda ajustes estruturais no setor e destaca que o aumento da exploração do gás da Amazônia é uma alternativa viável, que pode ser aproveitada com responsabilidade.