Economia

Aumento de preços no atacado supera o ganho de aplicações

Tetê Monteiro
postado em 26/12/2010 18:32
Os investidores ficaram mais pobres este ano? Pelo menos essa é a constatação ao analisar o rendimento das principais aplicações financeiras no país. O ganho da maioria delas ficou abaixo do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV), que cravou até dia 13 uma variação de 10,56% ao ano. O indicador é usado como referência para corrigir preços como tarifas públicas e aluguéis, por exemplo. Na comparação feita pela reportagem, o IGP-M só não ;ganha; dos títulos do Tesouro Direto indexados nele próprio, como o NTN-C (17,35%), fundos multimercados macro (11,58%) e ouro (37,90%).

;O que mais chama a atenção em 2010 é que os investimentos não conseguiram superar a inflação. Na prática, ficamos mais pobres;, afirma o professor de Finanças do Ibmec, Alexandre Galvão. Se o rendimento das principais aplicações foi derrubado pela pressão dos preços, o investidor não deve ficar temerário. Ainda assim, existem opções no mercado que podem servir como uma luva. ;Muitos investidores já me perguntam qual a melhor aplicação em 2011. É um erro tremendo pensar dessa forma. O que ele precisa entender é o seu perfil e, a partir desse ponto, escolher o investimento de acordo com sua personalidade;, diz o consultor financeiro, Jurandir Sell Macedo.

Porém, se o investidor não quiser olhar seu comportamento pessoal e preferir se ater somente ao fato de seu dinheiro se multiplicar ou não, vai se espantar com a rentabilidade do ouro em 2010, que beira os 38%. A valorização do metal deixa outros investimentos comendo poeira. Segundo os economistas, esse é um movimento normal em tempos de crises, como a que assola a Europa este ano. Então, a aplicação se torna o refúgio de investidores temerosos. Ou seja, o ouro sempre serviu de proteção a quem quer fugir da instabilidade. Entretanto, em um cenário de paz nos mercados, o metal não é recomendável, já que pode perder robustez frente a outras aplicações.

Antes da crise que abalou os Estados Unidos (2008), o dólar também era usado em busca de proteção. Com o enfraquecimento da moeda americana pós-crise e o câmbio valorizado no país, as verdinhas estão no vermelho. O dolár Ptax para venda cai 1,69% ao ano e o paralelo, também venda, despenca 6,15%, conforme levantamento da Economática. ;Atualmente, o investimento em dólar deve ser usado apenas como compra programada para viagens;, diz Galvão.

Nas bolsas

No mercado acionário, o rendimento do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), está a anos-luz de repetir o desempenho de 2009, ano em que a bolsa valorizou 82,66%. Até 13 de dezembro, a rentabilidade do índice não chegava a 1% (0,78%). Porém, por outro lado, se o investidor optou pelas chamadas ações de segunda linha, ou seja, papéis com menos liquidez e grau de risco maior, o ganho foi de 10,22%, conforme o indicador FGV-100. ;No geral, 2010 não foi um bom ano para a bolsa. Apenas em algumas janelas, como indica o FGV-100, é que o cenário foi positivo. A Bovespa acompanhou o movimento da economia mundial;, relata o professor do Ibmec.

De acordo com Galvão, a salvação da lavoura este ano foram os títulos públicos do Tesouro Direto. Os que têm vencimento em 2011 beiraram os 10% de rentabilidade, na média. Mas quando se pegam os NTC-C, que são indexados ao IGP-M, a curva positiva passa dos 17% (veja quadro). ;É um investimento interessante até para pequenos investidores, porque com R$ 100 já é possível começar a investir. Se a pessoa souber procurar bem uma corretora custodiante, vai achar algumas que não cobram taxa;, detalha. ;Eles (os títulos públicos) trouxeram mais segurança ao investidor este ano, justamente por superaram o IGP-M;, acrescenta.

Os fundos multimercados macros, que realizam operações em diversas classes de ativos ; como renda fixa, variável e câmbio ;, em que as estratégias de investimentos são baseadas em cenários macroenômicos, também se destacaram com rentabilidade de 11,58%. E a tradicional poupança? O rendimento de 6,11% não estimula uma recomendação do especialista do Ibmec. ;Não é um investimento indicado no cenário de juros altos como o do Brasil. Poderia se tornar mais indicado com uma Selic mais baixa;, afirma Galvão.

Já o consultor financeiro Jurandir Sell defente a poupança como uma reserva de emergência. ;Se precisar deixa lá por apenas quatro meses. Será um período, mesmo que pequeno, de salário positivo;. Para Sell, entretanto, o que importa é que o investidor se sinta na zona de conforto com suas aplicações. ;Sempre digo aos meus clientes que se eles se preocupam demais com suas aplicações é porque alguma coisa está errada;.

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