Vera Batista, Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 31/12/2010 08:00
Nada de fundo de investimento, tesouro direto e muito menos ações. Caso tenha sobrado um dinheirinho do 13; salário no bolso, o consumidor que ainda tem poucas reservas financeiras deve aplicá-las na velha e boa caderneta de poupança. Mesmo que a aplicação apenas empate com a inflação, é nela que o pequeno investidor deve colocar o seu dinheiro até o equivalente a três salários. ;É uma reserva precaucional, que pode salvar as famílias dos imprevistos do dia a dia;, explica o economista da Fundação Getulio Vargas André Braz. Mesmo com mais dinheiro no bolso, é sempre bom o consumidor ter uma reserva líquida que pode ser sacada de uma hora para outra.Em 2010, a caderneta teve rentabilidade que, desde 1967, só foi tão ruim quanto o resultado de 2002, quando houve uma perda de 2,9% no poder aquisitivo do poupador. O rendimento ficou em cerca de 6,9% este ano. Descontada a inflação medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), é de apenas 1,57%. Mas Braz acredita que o consumidor não deve ficar desapontado com o baixo desempenho. ;No decorrer do tempo, o rendimento pelo menos empata com a inflação;, assegura.
Além disso, é preciso levar em conta que sobre a poupança não incide Imposto de Renda. Para o professor de Finanças da Escola de Economia de São Paulo da FGV, Samy Dana, a poupança nunca deixou de ser uma boa alternativa. ;Ela paga 6% ao ano mais a Taxa Referencial de Juros (TR), o que resulta num rendimento de, aproximadamente 8,7% em 12 meses. Não é pouca coisa;, enfatiza.
Diversificação
Na visão dos especialistas, no entanto, em hipótese alguma deve-se colocar todos os recursos disponíveis numa aplicação só. A regra da diversificação de investimentos vale, especialmente, para quem já tem alguma reserva. Nesse caso, os fundos de investimento também são uma alternativa interessante, mas requerem um pouco mais de análise antes da tomada de decisão. O resultado deles diminui com o come-cotas, Imposto de Renda que incide a cada seis meses. Além disso, há a incidência da taxa de administração.
;O tesouro direto é uma boa opção para quem dispõe de pelo menos R$ 1 mil para começar a investir e pode deixar o dinheiro aplicado por um prazo de até cinco anos;, garante Antônio Colangelo, economista da Trevisan. ;Fundos de investimento e tesouro direto são boas opções para quem pode deixar o dinheiro parado por pelo menos dois anos;, avalia o economista Armando Castelar, chefe da área de Economia Aplicada da FGV.
O mesmo argumento serve para as aplicações em bolsa de valores. ;A bolsa não é um bom investimento para quem vai ficar pouco tempo ou vai começar com baixos valores;, observa Castelar. Quando a opção do consumidor for o mercado de ações, os economistas recomendam atenção redobrada. ;Se o governo fizer o dever de casa, o primeiro semestre será menos pomposo do que o previsto anteriormente. Os gringos, antes de colocar o seu dinheiro aqui, estão olhando como vai ser conduzido o bonde;, alerta Demetrius Lucindo, da Corretora Prosper. Para Braz, é uma ilusão o investidor achar que vai ficar rico na bolsa. ;Em geral, ninguém fica rico na bolsa, mas pode obter um bom retorno se a proposta for comprar um carro no futuro ou estudar fora do país.;
Nos investimentos em bolsa, os economistas recomendam as empresas que pagam dividendos.
O desempenho do mercado de ações é incerto. Pelos cálculos de Clodoir Vieira, economista da Corretora Souza Barros, o Ibovespa ; índice que mede a lucratividade das principais ações negociadas na bola paulista ; deve encerrar 2011 em 78.500 pontos, contando com o desempenho de Petrobras e Vale. Se essas duas grandes empresas forem excluídas, o índice chegaria a 81 mil pontos. Ontem, o Ibovespa fechou aos 69.304 pontos.
Risco
O nível de exposição ao risco também depende da idade do aplicador. Um aposentado que tenha, por exemplo, R$ 100 mil para investir, deverá colocar 90% dos recursos em renda fixa e apenas 10% em renda variável. Já um jovem em início de carreira, com a mesma quantia, poderá optar por colocar 20% em renda fixa, 60% em ações de empresas voltadas para a economia doméstica e os restantes 20% em papéis da Petrobras e da Vale do Rio Doce.
E há quem seja mais céptico em relação ao desempenho da bolsa em 2011. ;A expectativa de ganhos altos, por enquanto, está descartada; alerta Lucindo, que recomenda a um investidor que disponha de R$ 100 mil colocar apenas 30% deste valor na bolsa e o restante em renda fixa.
Limpe o seu nome
Quem foi incluído no cadastro do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) fica impedido de fazer compras a prazo, ser avalista ou pegar empréstimos em bancos e instituições financeiras. Se esse é o seu caso e você quer mudar de situação, siga os passos abaixo:
; Procure pessoalmente o SPC portando carteira de identidade e CPF.
; Peça um extrato no qual constam as dívidas em aberto e as empresas que pediram a inclusão do cadastro na instituição.
; Dependendo do caso, você poderá pagar os débitos diretamente no SPC ou terá que procurar o estabelecimento credor.
; Terceiros devem portar, além de cópia da identidade e CPF do solicitante, uma procuração que contenha o CPF e a data de nascimento do favorecido, com assinatura e firma reconhecida em cartório. O procurador também deverá apresentar um documento próprio original.
FIQUE ALERTA
Para evitar transtornos e restrições, os consumidores devem tomar cuidados:
; Privilegie os pagamentos à vista
; Planeje seus gastos
; Faça uma planilha mensal das despesas domésticas
; Se for comprar a prazo, prefira financiamentos menores
; Não se atenha apenas ao tamanho da prestação e, sim, ao valor final do produto
; Some os juros e calcule o preço total da mercadoria
; Não comprometa toda a renda com compras, deixando uma reserva para emergências
Fonte: CNDL
Livre-se das dívidas
Planejamento é a palavra-chave para os consumidores que estão atolados em dívidas ou não possuem qualquer reserva para fazer frente às despesas de início de ano. ;Elas acontecem todo ano, o consumidor sabe disso, só que na maioria dos casos não consegue se programar;, diz o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas. Na opinião dele, a melhor opção é o pagamento à vista, com desconto, dos impostos como IPTU e IPVA. Também é preciso ter um dinheiro guardado para as despesas escolares, evitando, dessa forma, contrair empréstimos com taxas de juros elevadas.
Para conseguir economizar o suficiente para fazer esses pagamentos, Braz aconselha que o consumidor some todas as despesas do primeiro quadrimestre do ano, divida por 12 e, durante todo o ano anterior, poupe, mensalmente, 1/12 do necessário. Dessa forma, quando chegarem as contas, ele terá o dinheiro para o pagamento. ;O ganho, nesse caso, é duplo. Além do rendimento da poupança ; geralmente suficiente para a correção dos impostos ;, ele vai ter o abatimento previsto para o pagamento à vista;, diz o economista.
Os recursos para essa poupança forçada podem ser obtidos, por exemplo, com a diminuição das despesas correntes da família, tais como água, luz, telefone e gás. ; Em geral as pessoas são pouco atentas a esses gastos, colocam as contas em débito automático e não prestam atenção no que estão pagando;, alerta Braz. Ele diz que, para conseguir economizar nas despesas correntes, as famílias devem anotar todos os meses o que estão gastando.
;Muitas vezes a conta do celular é alta porque o consumidor está pagando por serviços que nem utiliza. A mesma coisa ocorre com a conta de energia elétrica, por exemplo. Nesse caso é chamar a família e ponderar sobre o uso racional dos equipamentos elétricos, como o chuveiro e o ferro de passar roupa. Pondo tudo na ponta do lápis, é possível economizar de 3% a 5% da renda familiar no ano e destinar esse recurso para a poupança;, observa o economista.
Consignado
Para quem está endividado, outro conselho é trocar a dívida do cheque especial ou do cartão de crédito, cujas taxas de juros são altíssimas, por outro tipo de financiamento mais em conta, como o crédito consignado. ;Não há por que pagar juros altos se o empréstimo mais barato está acessível;, diz o economista Armando Castelar, chefe da área de economia aplicada da Fundação Getulio Vargas. De acordo com o Banco Central, a inadimplência média das pessoas físicas com as instituições financeiras chegou a 5,9% em novembro. Apesar de estar em trajetória de queda desde janeiro, o percentual é bem superior ao das empresas (3,6%). (VC e VB. Colaborou Gabriel Caprioli)
Menos calotes
No comércio, segundo os números da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), a incidência de calotes caiu 2,23% no acumulado entre janeiro e novembro. Nos últimos dois meses, o número de registros no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) caiu mais fortemente, ao mesmo tempo em que cresceram em 5,95% os cancelamentos de registros ; clientes que limparam seu nome. Segundo o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior, o efeito resulta do esforço dos consumidores de ficarem livres
para fazer novos financiamentos.