Economia

Tributação alta sobre indústria de cosméticos dificulta as vendas

Vera Batista
postado em 01/01/2011 08:22
Sobrecarga sobre a linha de produção: artigo que sai da fábrica por R$ 80 chega ao consumidor até por R$ 250
A elevada carga tributária é um dos principais obstáculos identificado pelos empresários para uma forte expansão dos segmentos de higiene pessoal, beleza e limpeza. Cerca de 45% do preço do amaciante de roupas e 43% do sabão em pó, por exemplo, são impostos. Somado ao fato de que 98% dos fabricantes de artigos de limpeza são micro e pequenos empresários, não é difícil imaginar o quanto a mão arrecadadora do Estado pesa sobre os negócios do setor. Sensível à causa feminina e eleita sob a bandeira da manutenção do bem-estar da nova classe média, a presidente Dilma Rousseff pode, se quiser, ajudar as vendas de batons, cremes e detergentes crescerem ainda mais.

O primeiro passo seria sugerir mudanças na legislação, bastante anacrônica. Fabricantes de cosméticos e produtos higiênicos garantem que ela asfixia. A Lei de Vigilância Sanitária é de 1976 e sofreu, de lá para cá, apenas algumas pequenas modificações em 2005. As discussões com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão adiantadas, mas a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins (Abipla) ainda pleiteia coisas simples, como a unificação de informações nos rótulos.


Informalidade

João Elói, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), explica que um artigo que sai da fábrica por R$ 80, chega ao consumidor final por R$ 250. ;O problema é que boa parte desses 61 tributos e taxas são repassados de um para o outro. Incide em toda a cadeia.;


Nelson Silveira, presidente da Cottonbaby ; uma indústria de produtos de higiene pessoal que tem como carro-chefe as hastes flexíveis com ponta de algodão ; é duro contra o que considera um disparate. ;O empresário é apenas intermediário do governo;, dispara. E denuncia: ;O tributo exorbitante e a falta de
informação são responsáveis pela informalidade de 55% dos fabricantes. Da água sanitária vendida, produto que está presente em 95% dos lares brasileiros, 55% é irregular.;

Apesar da extorsão fiscal, em seus 17 anos de existência a Cottonbaby registrou o maior crescimento em vendas em 2010: 35%,comparado ao ano anterior. Investiu R$ 3 milhões em equipamentos e vai, em 2011, dobrar esse valor. Tem projeções de manter o desempenho de 30% anuais até 2015.


Eles se cuidam

Depois que as necessidades básicas de comer, vestir e morar estão supridas, o sonho de entrar em uma clínica especializada para melhorar a autoestima vem à tona, ensina o cirurgião plástico Ronaldo Guimarães, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Os hospitais acolhem essa grande massa, incentivados pelo pleno emprego e pela valorização do real frente ao dólar. ;Há cinco anos, o fabricante vendia uma prótese de seio por US$ 2 mil. O mesmo produto, agora, sai por US$ 1 mil. A lei da concorrência forçou esse processo;, argumenta o médico. Pesquisas da SBCP e do Ibope revelam dados surpreendentes: em 2009, das 650 mil cirurgias, 104 mil foram contratadas por homens.

A plástica deixou de ser um tabu para eles, embora não façam questão de divulgar as visitas às mesas de cirurgia. ;Homens exigem segredo. Tiram férias, somem de circulação, voltam 30 dias depois e contam que fizeram tratamento de pele ou regime;, diz Guimarães. Admitindo ou não as intervenções, o sexo masculino não nega que está consumindo mais produtos de beleza. O empresário Rafael Nascimento, 28 anos, tem renda mensal de R$ 4 mil e preocupa-se com a aparência por acreditar que, assim, agrada mais às mulheres. ;Na medida em que passei a ganhar mais, abandonei o gel e comecei a usar uma cera especial para o cabelo. Só não gasto mais porque tenho outras prioridades;, justifica. (VB)

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