Economia

Classes C, D e E despejaram R$ 1,2 trilhão na economia em 2010

postado em 02/01/2011 11:20
A festa das classes populares, que emergiram como a principal força de consumo do país, foi completa em 2010. Ao longo do ano, os consumidores das classes C, D e E, juntos, despejaram na economia brasileira nada menos do que R$ 1,2 trilhão, um terço do valor estimado do Produto Interno Bruto (PIB) nacional para o ano. Essa enxurrada de dinheiro movimentou a economia por meio da aquisição de televisores de última geração (LCD, plasma e LED), geladeiras, fogões, móveis, computadores de mesa ou notebooks, roupas e material para a construção civil, entre outros itens de consumo. E, embora, a sede de comprar tenha como base a oferta de crédito, especialistas avaliam que ainda não há sinais de endividamento excessivo nessa camada da população.

Há um ano, a empregada doméstica Adriana Leonardo, casada e com um filho, vem conseguindo guardar uma quantia mensal regularmente na poupança. Só em dezembro ela conseguiu depositar R$ 500, dinheiro que pretendia gastar dando entrada numa TV nova. "Ganhei uma televisão e guardei no banco o dinheiro que iria gastar", comemora. O esforço para poupar não vem impedindo que ela reforme a sua casa. No mês passado, por exemplo, Adriana comprou o material para fazer a laje. "Minha casa está bem adiantada. Estamos conseguindo reformar e poupar", festeja.

De acordo com o sócio-diretor do instituto Data Popular, Renato Meirelles, é evidente que houve uma expansão acentuada nas linhas de financiamento para a nova classe média brasileira e que nos últimos anos elas têm sido usadas com maior frequência. "Mesmo assim, não há nenhuma pesquisa que indique uma tendência de perda do controle no uso do crédito pelas classes C e D", garante. Estudos elaborados pelo Data Popular mostram que 69% dos cartões de crédito em uso no Brasil estão nas mãos dos emergentes, o que significa dizer que eles movimentam 52% do dinheiro de plástico no país. No geral, diz Meirelles, os consumidores usam o crédito para equipar a casa comprando TVs, máquinas de lavar roupas e geladeira duplex (que substituem as simples de uma porta), microcomputadores, notebooks, netbooks e carros.

Novo cenário

"Há 10 anos os brasileiros não deviam porque não se emprestava dinheiro para gente pobre. Hoje, o nível de endividamento no país ainda é muito baixo, ainda tem muita roda para ser rodada até que isso se torne um problema", acredita André Torretta, sócio-diretor da Ponte Estratégia. De acordo com ele, é claro que ainda falta educação financeira no Brasil. "Mas isso não quer dizer que nos Estados Unidos os consumidores sejam financeiramente mais educados e se endividem menos", observa. Mesmo assim, nas classes C e D há quem troque os pés pelas mãos, como ocorre também nas classes A e B.

Losângela Rafaele Justino, auxiliar de supervisão de atendimento, tem um salário líquido de R$ 760 e reclama: "Estou endividada demais". Com o dinheiro do contracheque, ela paga R$ 478 de mensalidade da faculdade de administração hospitalar. Isso sem contar os gastos com xerox e alimentação. "Além disso, sou uma pessoa consumista", reconhece. Ela gosta de comprar, de andar bem vestida e de ir ao salão todo fim de semana para fazer cabelo e unha. Juntando tudo, acaba gastando R$ 1,2 mil ao mês, R$ 440 a mais do que ganha. Para administrar a vida, diz que vai empurrando com a barriga, vende os tíquetes-alimentação e mora na casa dos pais, onde tem uma TV de plasma e TV a cabo no quarto. "Ainda estou pagando a TV, que custou R$ 750. Comprei em 10 vezes", conta.

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