Marta Vieira - Especial para o Correio
postado em 02/01/2011 11:43
O crédito direcionado às micro, pequenas e médias empresas de Minas Gerais driblou a tradicional e polpuda participação das grandes companhias nos recursos financiados no ano passado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O balanço parcial dos desembolsos da instituição, acumulado até outubro, indicou mais que o dobro de desembolsos destinados aos clientes de menor porte, um avanço de 116,8%, na comparação com o mesmo período de 2009. Elas tomaram R$ 4,314 bilhões em empréstimos nos 10 primeiros meses de 2010, frente a R$ 1,989 bilhão registrado em 2009.Movimento semelhante foi observado nas linhas oferecidas pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), que emprestou R$ 475,2 milhões às micro e pequenas empresas, neste caso, de janeiro a novembro, um avanço superior ao verificado no BNDES, de 131,6%. Nos dois bancos, a participação das empresas que mais têm dificuldade de financiar seu crescimento ficou em torno dos 39% do total de desembolsos: 39,2% dos R$ 10,992 bilhões liberados pelo banco federal e 39,5% de R$ 1,202 bilhão do BDMG.
A redução da burocracia e a maior rapidez na liberação do dinheiro público explicam esse desempenho surpreendente em Minas, pela experiência dos sócios Maurício de Araújo Lima e Patrícia Hardy Sabino, empreendedores da Origem Jogos e Objetos Ltda, uma pequena empresa do setor de brindes, jogos, quebra-cabeças e objetos lúdicos, aberta há 20 anos em Belo Horizonte. O plano para desenvolver e lançar produtos neste ano não teria sido executado sem o acesso a crédito bancário.
Na investida em busca do dinheiro, Maurício Lima conta ter comparado as linhas de financiamento em pelo menos três instituições e concluiu que o financiamento de bancos privados ficaria 10% mais caro em comparação à linha do crédito oficial. O prazo máximo de pagamento às instituições particulares não passava de um ano, sem carência, ao passo que a opção escolhida alargou esse prazo a dois anos, com carência de três meses. Foi a segunda vez em que a empresa recorreu a financiamento para crescer. "Percebemos que pesou o fato de termos sido bons pagadores da primeira vez. Neste ano, o processo de liberação foi menos burocrático e esperamos só dois meses, quando no ano passado foram cinco meses de espera", afirma.
Segundo o presidente do BDMG, Paulo Paiva, tem havido um esforço dos técnicos da instituição para ampliar o acesso das empresas em todo o estado às linhas de financiamento, política associada ao crescimento da parcela de recursos próprios da instituição, reaplicados para estimular a oferta de crédito. O dinheiro próprio da instituição aumentou de um volume de R$ 139,8 milhões nos primeiros 11 meses de 2009 para R$ 196,6 milhões em idênticos meses de 2010, acréscimo de 40,7%. "A nossa função tem sido cada vez mais apoiar as micro, pequenas e médias com financiamento e ajudá-las a recorrer ao mercado de capitais", afirma.
Infraestrutura
Em recente visita à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, destacou que os desembolsos para as empresas no estado, de janeiro a outubro, cresceram acima do que foi constatado no Sudeste, com evolução de 65,97%, ante a média da região, de 53,28%. O crescimento mais expressivo foi o das liberações para o setor de infraestrutura, de 73,32% em relação ao balanço dos 10 primeiros meses de 2009.
Na avaliação do presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) e da Cedro e Cachoeira, Aguinaldo Diniz Filho, os números são reflexo da decisão e empenho das empresas em investir no negócio, apesar das dificuldades provocadas pela disparada das importações brasileiras em condições de câmbio e tributação mais favoráveis ao produto estrangeiro do que aquelas impostas aos fabricantes nacionais.
No país, o setor têxtil e de confecções contou com repasses do BNDES no valor de R$ 1,8 bilhão de janeiro a outubro do ano passado, cifra 357% maior em relação aos números de 2009. O crédito representou 1,3% do desembolso total do banco, de R$ 140 bilhões no período. "Essa performance mostra a preocupação das empresas do setor com a modernização tecnológica das fábricas e do design de produtos, embora a nossa indústria sofra a concorrência predatória dos países da Ásia, sobretudo a China", afirma Diniz Filho.