postado em 03/01/2011 08:48
A volta para casa de quem viajou de avião com o objetivo de curtir o réveillon ou assistir às posses de políticos foi marcada por atrasos em voos em todo o país. No Aeroporto Internacional de Brasília, até as 19h, 37% das decolagens extrapolaram o limite de 30 minutos de tolerância. O índice ficou acima da média nacional, de 26%, conforme boletim divulgado pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Os transtornos também afetaram os aeroportos paulistas. Em Congonhas, 42% dos voos atrasaram e, em Guarulhos, 41%. As companhias aéreas menos pontuais foram a Webjet e a TAM, cujos índices de atrasos no país chegaram a 46% e 46,2%, respectivamente.A estimativa da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é a de que o volume de embarques tenha alcançado 14 milhões em dezembro, o que representa um crescimento de 12% em comparação ao mesmo período de 2009.Para dar conta da demanda, a reguladora lançou um pacote de medidas emergenciais, que incluiu reforço na fiscalização e maior rigor quanto às obrigações das companhias. A ação começou em 17 de dezembro e terminará hoje. Apesar do esforço, o que se viu nos dias mais movimentados do mês passado foram aeroportos lotados, filas de até duas horas para fazer o check-in e muitas reclamações sobre vendas de passagem acima da capacidade ; overbooking. Para piorar, trabalhadores do setor e companhias ainda não chegaram a um acordo nas negociações salariais.
Em Brasília, a movimentação nos voos internacionais se intensificou por conta das cerca de 70 comitivas estrangeiras, compostas por autoridades de governo e jornalistas, que embarcaram de volta a seus países, ontem, depois de participarem das solenidades de posse da presidente Dilma Roussef. Apesar do grande movimento, os embarques ocorreram com tranquilidade. ;Esperava mais dificuldade, mas ocorreu tudo bem no aeroporto;, comentou a estudante Carolina Cavalcanti, 20 anos, que aguardava a partida para Orlando (EUA), onde passará as férias.
Entre os voos domésticos, também não houve tumultos. A analista de logística Maria das Graças Cardoso, 57 anos, conseguiu embarcar de Brasília para São Paulo dentro do horário previsto. ;Viajei com um irmão e duas sobrinhas para passar o fim de ano com parentes que moram em Brasília. Vi que muita gente teve problemas para embarcar no horário, mas felizmente não foi o meu caso;, comemorou.
Queixas
Viajantes, no entanto, enfrentaram problemas com extravio de bagagem. Um grupo de passageiros da Webjet registrou reclamação contra a empresa no Juizado Especial do Aeroporto de Brasília, sob alegação de que todas as malas não chegaram ao destino. Conforme o registro no Juizado, os passageiros afirmam só terem sido avisados sobre a retirada das malas do avião para evitar sobrepeso quando chegaram em Brasília. Eles argumentam ainda que um comissário da Webjet teria pedido para que cinco voluntários deixassem a aeronave, quando ainda estava no Aeroporto de Santos Dumont (RJ), também por razão de sobrecarga.
A supervisora da companhia presente no Aeroporto de Brasília na tarde de ontem informou que não tinha autorização para falar em nome da empresa. A reportagem tentou entrar em contato com a Webjet pelos telefones da assessoria de imprensa e do SAC, mas não conseguiu ser atendida. O Correio buscou contato também por e-mail, mas até o fechamento desta edição não havia recebido resposta. (colaborou Jorge Freitas)
À beira de um colapso
Rosana Herssel
Os aeroportos brasileiros estão à beira de um colapso. Levantamento recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que pelo menos oito dos 12 aeroportos das cidades que sediarão a Copa de 2014 já estão no limite da capacidade. E, para piorar, o cronograma das obras nesses portões de embarque está atrasado.
De acordo com relatório da ONG Contas Abertas, de janeiro a outubro, a Infraero executou apenas 22% das obras previstas para 2010 no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além disso, especialistas acham que os R$ 5,5 bilhões em investimentos programados nas cidades sedes da Copa não serão suficientes para desatar os nós da aviação no país.
A má gestão é uma das críticas à Infraero e a abertura de capital da empresa é cogitada no novo governo como forma de profissionalizar a operação dos aeroportos. Decisões e projetos equivocados reforçam essa teoria. Um exemplo é o famoso ;puxadinho; a ser construído no mesmo local destinado ao novo terminal do Aeroporto Internacional de Brasília. Especialistas criticam a obra porque ela deveria ser definitiva e não provisória. Até um leigo tem essa percepção ao tentar embarcar na capital federal em uma sexta-feira à tarde.