Economia

Dólar respira com medidas para restringir capital estrangeiro e sobe 0,78%

postado em 05/01/2011 08:00
Operadores ficaram quase todo o dia de olho na tela dos computadores à espera de notícias do governo. Mas tiveram de se contentar com a frustraçãoO ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez o que pôde ontem para conter o derretimento do dólar ante o real. Ameaçou baixar medidas para restringir a entrada de capital estrangeiro no país. Prometeu cortar gastos para que o Banco Central possa baixar juros e, com isso, afastar os especuladores do Brasil. Mas como tudo ficou na promessa, o máximo que conseguiu foi que a moeda norte-americana encerrasse as negociações de ontem com alta de apenas 0,78%, cotada a R$ 1,664 para venda. Segundo os especialistas, tudo indica que o dólar voltará a cair, refletindo um movimento mundial de perda de valor da divisa dos Estados Unidos.

Como se tornou rotina, o BC interveio no mercado para comprar o excesso de capital estrangeiro que circulava pela economia. Fez dois leilões de compra. Mas também os resultados foram tímidos, diante da frustração dos operadores com o fato de Mantega só ficar na ameaça de divulgar medidas cambiais. Na Bolsa de Valores de São Paulo (BM), porém, o dia foi de satisfação. O Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas no pregão paulista, voltou a romper os 70 mil pontos. Com a alta de 0,51%, cravou os 70.317 pontos, o maior nível desde 19 de novembro de 2010.

Sem ministério
Apesar do fiasco do ministro da Fazenda, no Ministério do Desenvolvimento, a preocupação com o derretimento do dólar é grande. Tanto que a pasta resolveu dar a sua cota de sacrifício na contenção de despesas. Na segunda-feira, ao tomar posse, o ministro Fernando Pimentel garantiu que o projeto de lei que criaria um ministério específico para as micro e pequenas empresas sairia finalmente do papel, sem, no entanto, precisar quando o projeto chegaria ao Congresso Nacional. Ontem, fontes do governo alertaram que ele já admite engavetar a ideia, pelo menos por enquanto.

Pimentel vai se reunir, hoje, com a presidente Dilma Rousseff para conhecer os detalhes da difícil tarefa da divisão das verbas públicas. ;Qualquer detalhe relativo a dinheiro, de contingenciamento, será discutido hoje. Comenta-se que a saída, se efetivamente a presidente optar por não fazer o ministério das micro e pequenas empresas, será transformar o Departamento de Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento em secretaria, dando mais status a quem estiver à frente dela;, afirmou um técnico.

Outro assunto que Pimentel discutirá com a presidência da República será o formato para levar adiante o programa de desoneração de setores produtivos que vêm sendo prejudicados com a desvalorização do dólar frente ao real ; situação que reduz a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. Para reverter este quadro, a intenção é defender a indústria nacional a qualquer custo e incentivar as exportações com todos os instrumentos disponíveis, sem, no entanto, reduzir a arrecadação do governo. ;É um mecanismo de mão dupla. Reduzimos de um lado e aumentamos do outro. Ou seja, diminuímos as alíquotas para os exportadores e elevamos o Imposto de Importação, fazendo com que a farra de produtos vindos de fora reduza a sua intensidade;, disse o mesmo técnico.






Euro sente os EUA e derrete
; Ontem, o euro abandonava os ganhos que o levaram à máxima em três semanas ante o dólar, após investidores avaliarem que as perspectivas de crescimento para a economia norte-americana são melhores que da Europa. As novas encomendas às indústrias dos EUA mostraram alta inesperada em novembro, e os pedidos, excluindo o setor de transportes, registraram o maior ganho em oito meses, dando mais sinais de que a recuperação econômica está em ritmo sustentável no país. Às 14h09, a moeda comum europeia era negociada a US$ 1,329, em queda de 0,46% nas operações globais. Na mínima, a cotação cedeu a US$ 1,329 e, na máxima, alcançou US$ 1,343.







Baque nos calçados
; Cristiano Zaia do Correioweb

A valorização do real frente ao dólar voltou a limar empregos na indústria nacional, agora no setor calçadista. O mais recente balanço do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), relativo a novembro, mostrou uma baixa inédita nos postos de trabalho dessa indústria. No período, houve saldo negativo de 5.089 postos em relação ao mesmo intervalo do ano anterior. A última vez que as fábricas do segmento apresentaram desemprego superior ao número de admissões foi exatamente um ano antes, no auge da crise crise mundial. Os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, polos produtores, foram os que mais demitiriram.

Dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio mostram que a compra de insumos internacionais para produção, principalmente de tênis esportivos e calçados masculinos em geral, por exemplo, cresceu 26% no país nos 11 primeiros meses de 2010: foram 44,304 milhões importados no acumulado do ano passado contra 35,258 milhões do mesmo período de 2009. Ao contrário desse cenário, a importação de calçados acabados cresceu apenas 3% no ano passado, até novembro.

Para a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a maior preocupação fica por conta dos calçados desmontados, cuja comercialização internacional geralmente é adotada para fugir da legislação antidumping (proteção da indústria nacional) vigente, que nesses casos não incide sobre os produtos. Com o objetivo de pagar apenas o Imposto sobre Importação, a chineses tornaram-se os principais exportadores do produto em partes. ;A saída que encontramos foi elaborar uma petição ao governo para enquadrar no regime de aplicação de direito antidumping tanto para os calçados desmontados provenientes da China quanto os completos vindos da Malásia, Indonésia e Vietnã;, disse Heitor Klein, diretor-executivo da Abicalçados.






Chile intervém e peso desaba
Um dia depois de o Banco Central do Chile anunciar a maior intervenção cambial da história do país, com o objetivo de frear a valorização da moeda e acumular reservas, o peso despencou mais de 4% ontem. A medida, anunciada na terça-feira, depois do fechamento dos mercados, foi considerada ;excepcional; pelo presidente do BC, José De Gregorio. A instituição pretende comprar até US$ 12 bilhões ao longo de 2011. A interferência no câmbio foi o maior movimento desse tipo desde que que a livre flutuação foi adotada entre os chilenos, no fim dos anos 1990.

Ontem, ao final da jornada, a taxa de câmbio à vista alcançou 487,60 pesos na compra e 488,10 pesos na venda, com baixa de 4,53% da moeda chilena. Considerada um sucesso, a intervenção só obteve esse resultado em razão de suas proporções, avaliou De Gregorio. A moeda do Chile vinha sendo negociada na máxima em 32 meses em relação ao dólar e os exportadores pediam a intervenção do governo. Como arma de convencimento, expuseram a forte redução da competitividade de seus produtos no exterior.

Apoio
Um comunicado do BC informou que o programa de compra de dólares vai levar a ;posição de liquidez internacional (do Chile) a 17% do Produto Interno Bruto (PIB);. A primeira fase do programa vai começa hoje, 5 de janeiro, e terminará em 9 de fevereiro com compras diárias de US$ 50 milhões. O ministro das Finanças, Felipe Larrain, afirmou que a intervenção não pressionará a inflação, já que a maior parte dos preços locais não são ajustados à valorização que o peso vinha exibindo frente ao dólar. Ele admitiu que será uma das maiores intervenções locais, mas que a ação tende a ser bem-sucedida.

O Chile é altamente dependente de exportações, com destaque para produtos como frutas, celulose e cobre. Larrain avisou que o governo seguirá adotando providências para manter o peso em níveis competitivos em relação a outras moedas, como o dólar. ;Enquanto os exportadores de cobre estão protegidos pelos preços mais altos do produto, o setor agrícola precisa de apoio;, declarou. Além da desvalorização do peso, o governo anunciou a redução dos gastos públicos e modernização de leis, a fim de aumentar a competitividade do setor produtivo.






Estatal admite hipótese de comprar 33% da empresa portuguesaUS$ 4,7 bi pela Galp
A Petrobras admitiu que estuda a possibilidade de uma potencial transação com a italiana Eni para a compra de uma fatia na portuguesa Galp, empresa parceira da estatal brasileira no cobiçado pré-sal da bacia de Santos. A Petrobras afirmou, porém, que até o momento nenhuma análise foi concluída, como também não há qualquer ;documento vinculante; entre as partes. Os rumores sobre a venda da participação da Eni na Galp para a Petrobras começaram desde que a empresa italiana decidiu vender sua fatia de 33% na companhia, depois de desistir de adquirir o controle da empresa.

Em janeiro de 2010, a imprensa publicou que as negociações entre a Petrobras e a Eni haviam sido retomadas, o que foi negado pela Petrobras na época. Ontem, a notícia sobre a proximidade de um acordo coincidiu com um forte movimento de realização de lucros das ações da Petrobras, após altas expressivas nos últimos dias. ;A Petrobras não só teve notícias boas nos últimos dias, como aumentou seu peso no Ibovespa (índice das principais ações negociadas em São Paulo). O volume tem sido forte nos últimos dias e puxou essa realização;, avaliou Lucas Brendler, do Geração Futura Investimentos.

A estatal declarou, no fim de 2010, que os campos de Lula (ex-Tupi) e Cernambi (ex-Iracema) são comercialmente viáveis. Além disso, o petróleo tem atingido preços superiores aos do ano passado. A notícia sobre a compra da Galp pode ter puxado algumas realizações de lucro, com investidores considerando alto o possível pagamento de 3,5 bilhões de euros (US$ 4,7 bilhões) por 33% da participação da Eni na empresa portuguesa. O valor não foi confirmado pela Petrobras. ;É uma quantia bastante alta e ela (Petrobras) está no meio do desenvolvimento do pré-sal. Quem olhou com ideal de realização no curto prazo pode estar saindo;, disse o analista.

Fôlego
Uma fatia na Galp poderia significar para a Petrobras a porta de entrada para novos mercados no exterior, mas seria também a garantia que a companhia portuguesa vai investir na exploração do pré-sal, na bacia de Santos. ;Essa é uma parceria que está sendo estudada há muito tempo. Para a Petrobras, é importante, e a Galp é um parceiro pequeno, que talvez não tivesse fôlego financeiro para explorar o pré-sal;, avaliou Nelson Matos, do BB Investimentos. A Galp está com a Petrobras em Lula e Cernambi, no qual tem 10%; como também nos blocos BM-S-8 (14%); BM-S-21 (20%) e BM-S-24 (20%).

Para Marco Antonio Saravalle, da corretora Coinvalores, a eventual compra de uma fatia na Galp pela brasileira deve ser recebida como uma notícia positiva, já que, com isso, a Petrobras aumenta ainda mais a sua participação no pré-sal.

Petróleo recua
Os contratos futuros do petróleo negociados nos Estados Unidos recuavam mais de 3% por volta das 15h de ontem, para US$ 88,62 o barril, e estendiam o movimento de retração da máxima de 27 meses, após uma série de ralis antes dos feriados de fim de ano. A recuperação aumentou a pressão sobre a commodity e os mercados de ações nos Estados Unidos, que também recuaram, diante do temor que a alta venha a corroer o lucro dos varejistas.

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