postado em 05/01/2011 08:00
Passada a solenidade de posse da presidente Dilma Rousseff, quando as companhias aéreas respeitaram os horários programados para os voos, ontem elas voltaram definitivamente à rotina dos atrasos. Pelo segundo dia consecutivo, elas comprometeram os horários de partida nos aeroportos brasileiros, com índices médios de 28,5% até as 19h de ontem, acarretando prejuízos e grande desconforto aos usuários. A TAM, novamente, liderou o ranking, com 51,3% das decolagens (339 partidas) além do prazo de tolerância de 30 minutos. Em seguida, vieram Webjet, com 43% (49 voos); e a Gol, com 16,2% (110 decolagens).Mais uma vez o Aeroporto Internacional de Brasília registrou o maior índice de atrasos, com 42,2% das partidas acima de meia hora. O Aeroporto de Salvador teve 47 voos atrasados, ou 41,2%. Em São Paulo, o Aeroporto de Guarulhos registrou atrasos em 37,1% das partidas e o de Congonhas, em 22,5%. No Rio de Janeiro, o Aeroporto do Galeão teve índice de demora de 34,5%, com 38 voos partindo fora do horário previsto.
O engenheiro civil João Marcílio Silva Santos, 48 anos, chegou às 14h no Aeroporto de Brasília, vindo do Rio de Janeiro, pela TAM, para fazer uma conexão que o levaria a Belém do Pará. Mas, às 15h, foi informado de que seu novo voo partiria somente às 19h25. ;O atraso de hoje é grave. Mas já houve ocasião em que comprei voo direto e a empresa fez escala. Sem contar a desonestidade do leilão, que fazem com as passagens que custam R$ 300 numa data passem a custar R$ 1.000 ou R$ 1.800 depois. Qual a lógica? Não oferecem nada demais. Não viajamos em aviões melhores. É um absurdo;, reclamou.
Fiscalização
Em resposta à crise do setor aéreo, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) estendeu até a próxima sexta-feira, dia 7, a operação especial de fim de ano, nos aeroportos de Guarulhos, de Congonhas, do Galeão, do Santos Dumont e de Brasília. A agência informou que continuará fiscalizando o cumprimento da assistência aos passageiros. O atendimento de ser prestado mesmo que os atrasos ou cancelamentos sejam motivados por problemas metereológicos. Se não receberem a atenção devida, os consumidores podem registrar queixa na Anac pelo telefone gratuito 0800 725 4445 ou pela internet (www.anac.gov.br).
Na análise de especialistas, a causa dos atrasos nos aeroportos brasileiros reúne vários fatores. Além da falta de estrutura aeroportuária, as empresas ampliaram em demasia a malha de rotas para absorver a demanda de passageiros das classes C, D e E, que passaram a viajar de avião em decorrência do aumento da renda. Soma-se à nova realidade, responsável pelo caos aéreo de 2011, a tentativa das companhias de utilizarem seus aviões e tripulações acima da capacidade de reposição ou de manutenção.
Crítico, o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Luiz Sérgio de Almeida Dias, afirmou que os trabalhadores suspenderam o movimento de greve antes do Natal para que a culpa pelos atrasos não recaísse sobre eles. ;As empresas estão tropeçando nas próprias pernas, porque não investem e não contratam mão de obra. Agora, não conseguem operar devido ao excesso de jornada das tripulações;, acusou.
A confusão generalizada atravessou fronteiras e atingiu o ex-governador de São Paulo e ex-candidato ao Palácio do Planalto José Serra. No Twitter, o tucano revelou que ficou 10 dias no exterior sem bagagens, devido a uma falha da Air France.
Na Webjet, só sem bagagem
; A Webjet está deixando os passageiros sem malas. Consumidores que partiram do Rio de Janeiro nos últimos dois dias se queixam de não terem recebido suas bagagens ao desembarcar em Brasília. Quando chegaram à capital federal, foram orientados por funcionários da companhia a preencherem uma ficha com endereço e telefone. A promessa era de que os pertences seriam entregues no dia seguinte, o que não ocorreu. ;Como é que a gente fica? Tem remédio, agasalho e outras coisas nas malas;, reclamou a dona de casa Maria Luisa Cunha, 53 anos. Apenas as bagagens de pessoas portadoras de necessidades especiais e idosos foram liberadas. De acordo com a Webjet, em função de problemas climáticos a capacidade de peso do avião precisou ser reduzida. As malas tiveram de ser transportadas em outro voo e ainda ontem começariam a ser entregues nos endereços dos passageiros.
Raiva provoca violência
Um avião da TAM, que partiria de Brasília na tarde de segunda-feira, com destino a Florianópolis (SC), teve o trajeto cancelado e os usuários acabaram transferidos para outra aeronave, que só saiu por volta de 11h40 de ontem. O desrespeito terminou em confusão no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Enfurecida, uma senhora quebrou um dos vidros do transporte da Infraero, enquanto aguardava o avião na pista de pouso, na manhã de ontem. O oceanógrafo Rodrigo Barletta, 37 anos, estava no mesmo voo e relatou como foi a demora.
;Eu briguei muito até embarcar. Nós ainda fomos levados para o pátio por volta de 0h30. Esperamos um tempo embaixo de chuva, mas voltamos ao saguão, porque não tinha avião. Só conseguimos embarcar no outro dia de manhã;, relatou. Segundo o oceanógrafo, todos estavam revoltados com o descaso da companhia. ;Foi um total absurdo. A empresa aérea pagou hotel e um lanche, mas foi desorganizado. Fomos levados para lá as 4h e só conseguimos dormir às 5h30, porque uma fila enorme se formou no lugar. Também havia crianças, idosos e grávidas;, reclamou.
Acareação
Barletta, que mora na capital catarinense e, no mês passado, viajou a Brasília para passar o fim de ano com os pais, contou que a única informação passada aos passageiros durante a espera foi de que o avião não sairia por falta de tripulação. Entretanto, em resposta, a TAM informou que o voo foi cancelado por conta de ajustes feitos na malha ; causados por atrasos e cancelamentos anteriores . Os clientes se sentem lesados e prometem entrar com uma ação coletiva contra a empresa aérea. ;Colhi os telefones e e-mails de todos para decidir o que faremos. Não vamos ficar calados diante disso tudo. Devemos acionar a justiça contra a companhia;, completou.
No total, 151 pessoas tinham passagens para esse voo da TAM. A Polícia Federal explicou que os envolvidos já haviam embarcado e, por isso, a mulher prestaria esclarecimentos em Florianópolis. Os agentes do posto localizado no aeroporto da cidade disseram que não tinham informações sobre o ocorrido. A Infraero disse que os ônibus ficam à disposição das empresas para embarques em condições remotas e, por isso, as companhias são responsabilizadas por qualquer dano aos veículos. Ainda assim, haverá uma acareação dos fatos para decidir quem deve arcar com o prejuízo. A TAM também não sabe se irá reembolsar a empresa.