Economia

Com valorização do real, mínimo supera a barreira histórica dos US$ 300

postado em 07/01/2011 10:15
Diante da decisão de fixar o salário mínimo em R$ 540 e da desvalorização do dólar, que fechou o dia cotado em R$ 1,688, o piso do rendimento pago aos trabalhadores brasileiros superou a marca histórica do US$ 300 ; mais precisamente, US$ 321 ontem. Desde a criação do Plano Real, em 1994, a meta era de que o valor chegasse aos US$ 100. Esse objetivo fez parte das reivindicações dos sindicatos e alimentou, anos a fio, o sonho dos assalariados que foram a base da economia nacional.

A atendente de telemarketing Hayanne Carmo dos Santos, 25 anos, mora com o marido e os dois filhos em Ceilândia. Ela, que ganha mensalmente o mínimo, já recebeu a nova quantia e foi ontem ao supermercado. ;O que mais pesa é arroz, feijão e carne, que estão cada vez mais caros;, disse. Em seu carrinho de compras, além dos itens básicos de alimentação e higiene, havia também refrigerante. Hayanne pôde comprar ainda 4,5kg de carne. ;Hoje vou levar costelinha;, comemorou. Mas, em sua opinião, para suprir suas necessidades primárias seriam necessários R$ 800. ;Há outros gastos, não só alimentação;, protestou.

O crescimento do salário mínimo provavelmente ficará acima da inflação de 2010 medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso fará com que o poder de compra do brasileiro aumente. O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), Armando Castelar explica que, por conta desse movimento, as classes C e D tiveram mais acesso à tecnologia e a viagens.

Mais coisas
;Além de tudo, o dólar perdeu o valor frente ao real e isso fez com que vários bens e serviços fiquem mais baratos, principalmente, computadores e celulares. As passagens aéreas também tiveram baixa nos preços, já que a manutenção do avião é avaliada com base na moeda norte-americana;, observou o economista. A empregada doméstica Rosa Andrade Passos, 48 anos, é uma das beneficiadas com os aumentos seguidos do piso nacional. ;Eu sempre trabalhei e ganhei o mínimo. Agora, a gente pode comprar mais coisas. Antigamente, era mais difícil;, comparou.

;Aproveito as promoções. Levo o que está mais barato. Além disso, eu tenho uns truques. Compro biscoito no lugar do pão, por exemplo, que fica mais em conta;, ensinou.

Mas, ainda assim, a inflação continua amedrontando consumidores, como Carla Batista, 30 anos. Também empregada doméstica, ela teme que, com a elevação do salário mínimo, os produtos fiquem mais caros. ;Não adianta. As coisas continuam custando mais. Eu acho que para pagar o pessoal, as empresas têm que subir os preços. E, desse jeito, não dá para perceber essa alta (do salário);, disse. ;Acho que só R$ 30 de aumento não é suficiente.; Com R$ 200 por mês, Carla consegue comprar apenas os itens básicos para viver. Em sua cesta básica, a carne é o vilão.

A melhoria da renda ajudou a melhorar a vida dos brasileiros mais pobres. Mas foi a adoção do câmbio flutuante, em janeiro de 1999, que abriu o caminho para que o mínimo atingisse os US$ 100 em 2005 ; época em que a moeda norte-americana girava em torno de R$ 2,05 e a remuneração estava em R$ 260.

Pressão do IGP-DI
A inflação medida pelo Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) desacelerou mais que o esperado em dezembro, fechando o mês com alta de 0,38%, mas encerrou 2010 com taxa bastante elevada, de 11,30%. A alta terá impacto este ano, já que os IGPs são usados para reajustar uma série de produtos e serviços. Em 2009, o indicador registrou deflação de 1,43%, um resultado emblemático para os seus 65 anos de história.

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