Jornal Correio Braziliense

Economia

Portugal vende 1,25 bilhão de euros em títulos e acalma mercados

Portugal deu ontem uma importante resposta à desconfiança dos mercados sobre a sua capacidade de honrar seus compromissos em dia. O país conseguiu vender 1,25 bilhão de euros em títulos de dívida com taxas de juros mais baixas para suas obrigações de longo prazo, durante um leilão marcado por uma forte demanda, demonstrando êxito em se financiar.

Para as emissões com vencimento em junho de 2020, a taxa de juros exigida pelos investidores alcançou 6,716%, contra 6,806% durante uma operação similar realizada em novembro passado. Para as obrigações com vencimento em outubro de 2014, a taxa ficou nos 5,396%, superior aos 4,041% aplicados em novembro para uma emissão do mesmo tipo. A demanda foi muito forte: 3,2 vezes superior à oferta para os bônus de nove anos de prazo e 2,6 vezes superior para os de três anos, segundo mostram os dados do Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP).

A emissão era muito esperada, por causa dos crescentes temores sobre a solvência de Portugal, considerado por muitos economistas como o próximo país da Eurozona que recorrerá a uma ajuda financeira internacional para evitar a bancarrota, depois da Grécia e da Irlanda. Segundo fontes diplomáticas, Bruxelas acentuou a pressão sobre o país para que aceite um plano de resgate.

Apesar das pressões e rumores, o governo português reafirmou nos últimos dias que não solicitará ajuda internacional, assegurando possuir os meios de financiar-se nos mercados. ;Todos os rumores sobre o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a ajuda externa são especulações que não ajudam, que prejudicam os interesses do país e agravam as condições do mercado;, afirmou à imprensa o primeiro-ministro português, José Sócrates. ;O governo português e Portugal não pedirão nenhuma ajuda financeira porque não é necessário. Portugal faz o seu trabalho;, insistiu, respaldado pela redução no deficit orçamentário anunciada esta semana.

Os analistas destacaram o fato de que a emissão tenha registrado um relativo êxito, mas também advertiram que a situação continua muito complicada. ;A emissão não teve problemas, é uma boa notícia. Esperava-se que pela emissão com vencimento em 2020 fossem pagas taxas maiores, em torno dos 7%;, enfatizou a analista Cristina Casalinho, do banco BPI. ;Esses resultados não são maus. As taxas elevadas atraíram a demanda nas duas linhas de emissão;, concordou outra analista, Annaliza Piazza, do grupo Newedge.

Advertência

Para Paolo Pizzoli, economista do grupo ING, ;a emissão mostrou que, por enquanto, Portugal ainda é capaz de se financiar nos mercados;. No entanto, adverte: ;Mas haverá outros testes;. Mais duro em sua análise, David Schnautz, do Commerzbank, assinala que ;uma emissão bem-sucedida não muda as coisas;. ;Os problemas vão continuar e ainda há muita dívida para colocar nas próximas semanas.;

Portugal estima que suas necessidades de financiamento são de 20 bilhões de euros, em 2011, sem contar os 26 bilhões da dívida que vence e deve ser renegociada. Hoje, os investidores voltarão seus olhares para a Espanha, que venderá bônus com prazo de cinco anos de vencimento, com o objetivo de arrecadar 2,5 bilhões de euros. Na terça, a Grécia obteve 1,95 bilhão de euros em bônus de seis meses, com juros de 4,9% ; abaixo dos 5% previstos inicialmente.

Euro em alta

Embora a maior parte dos investidores ainda acredite que Portugal seguirá a Grécia e a Irlanda, que foram socorridas, as bolsas de valores da Europa atingiram ontem o maior nível em 28 meses, diante da expectativa de que o governo português tivesse êxito no leilão de títulos da dívida. Superando a média dos últimos 200 dias, o euro teve alta superior a 1%. A moeda comum europeia fechou a US$ 1,310. Essa valorização foi vista como o primeiro passo para uma melhora no sentimento em relação à divisa, que tem sido pressionada pela crise de dívida soberana na Europa.

Aprovação a Obama

A melhora na economia norte-americana elevou a popularidade do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Segundo pesquisa Reuters/Ipsos, o índice subiu de 45% para 50%. É a primeira vez desde junho que Obama atinge esse nível de aprovação. Apesar disso, muitos norte-americanos ainda não aprovam o governo atual: 47%, comparado a 46% em dezembro.

A pesquisa, divulgada ontem, revelou que, com a economia mostrando sinais de aceleração, mais norte-americanos acreditam que o país está no caminho certo: 36% em janeiro, ante 29% em dezembro. Mas 59% dos cidadãos dos EUA ainda discordam do rumo econômico do país. A sondagem mostrou apoio às esperanças dos republicanos em sua movimentação para cortar a US$ 1,3 trilhão do deficit orçamentário dos EUA e da dívida total de 14 trilhões de dólares. Apontou que 71%dos americanos são contra o aumento do limite da dívida e que muitos querem que haja corte de gastos em áreas como o orçamento de defesa e a ajuda externa.

Obama teve um bom mês em dezembro e a pesquisa sinaliza que o presidente tem razões para recuperar o otimismo. O Congresso aprovou leis importantes que ele apoiava, como o prolongamento de cortes de impostos da era Bush, um tratado nuclear com a Rússia e o fim da proibição a homossexuais no serviço militar.

A sondagem foi realizada entre 7 e 10 de janeiro, não cobrindo, portanto, os eventos em Tucson, Arizona, onde a deputada Gabrielle Giffords foi atingida na cabeça e seis pessoas foram mortas por um atirador. Das 1.021 pessoas ouvidas pela pesquisa, 780 eram eleitores registrados, incluindo 451 democratas, 388 republicanos e 182 independentes. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais para todos os pesquisados, de 3,5 pontos para eleitores registrados, de 4,4 pontos para democratas, de 4,9 para republicanos e de 7,4 para pessoas sem partido.