As apostas foram feitas. O Banco Central foi nesta sexta-feira (14/1) ao mercado e vendeu todos os 20 mil contratos de câmbio futuros oferecidos em leilão público com a intenção de brecar a supervalorização do real. A operação equivaleu à compra de US$ 987,8 milhões, montante que estaria disponível futuramente caso não houvesse a transação e, portanto, deixa de empurrar ainda mais para baixo o valor da moeda norte-americana. A resposta do mercado foi imediata. A divisa encerrou o dia com alta de 0,96%, vendida a R$ 1,685, após três dias de recuos consecutivos.
O avanço registrado, no entanto, não foi suficiente para impedir que a moeda norte-americana terminasse a semana com queda de 0,05%. Apesar do aparente sucesso, parte do mercado acredita que a transação não será suficiente para segurar o câmbio em um prazo mais longo. ;Não dá para dizer que a estratégia deu certo. O mais provável é que ela tenha impacto mais no curto prazo, a exemplo das medidas adotadas para a entrada de capitais estrangeiros (como a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras ; IOF);, avaliou o economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.
Outra dúvida, devido à própria natureza da operação, é se ela vai resultar em prejuízos ao governo. Conhecida como swap cambial reverso, ela funciona como uma espécie de jogo, no qual participam de um lado o mercado e do outro a autoridade monetária. O BC ganha se o dólar subir até o término do contrato ; foram ofertados vencimentos em abril, julho deste ano e em janeiro de 2012. Em troca, os investidores se beneficiam caso a taxa Selic suba no mesmo período. No término do prazo, lucra aquele que tiver apostado na posição vencedora.
Para Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, é perigoso promover esse tipo de operação na iminência de uma elevação de juros ; o Comitê de Política Monetária (Copom) reúne-se na próxima semana para definir a Selic. A chance de sucesso da operação, agora, também depende de um esforço fiscal da União. ;O BC só sairá ganhando se houver um corte de gastos considerável no governo. A operação foi feita apostando nisso, com certeza;, afirmou. Para ele, a disciplina nas despesas públicas evitará a necessidade de um arrocho monetário mais extenso, o que implicaria perdas à autoridade monetária.
Mantega aprova ação
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou como ;uma atuação clássica; a volta do Banco Central ao mercado de câmbio futuro, com a compra de quase US$ 1 bilhão. O swap cambial reverso, instrumento que não era utilizado há 20 meses pela autoridade monetária deve, na opinião do ministro, neutralizar o derretimento do dólar. ;É mais uma orientação de que, nesse momento, é necessária uma intervenção maior na negociação de derivativos. Com a operação, que significa uma compra futura de dólares, você neutraliza a venda futura e impede uma valorização do real;, comentou.
Mantega lembrou ainda que a utilização do contrato derivativo integra um conjunto de ações feitas pelo governo para evitar a piora do câmbio em um nível que prejudique mais a indústria nacional ; atualmente os empresários brasileiros competem no mercado interno e nas exportações com outros países, nos quais a moeda está mais fraca. ;As medidas têm dado certo. Estamos mantendo um certo patamar de câmbio. Se não as tivéssemos tomado, hoje o dólar poderia estar custando R$ 1,50 ou até R$ 1,45, prejudicando os exportadores. Isso não vamos permitir;, afirmou.
O desempenho positivo do mercado de câmbio acabou influenciando também o resultado da BM. A bolsa brasileira encerrou o dia com alta de 0,31% aos 70.940 pontos, revertendo a queda de mais de 1% registrada na quinta-feira. Além do dólar, as ações da Embraer impulsionaram o Ibovespa, principal índice do pregão. O ânimo dos investidores pelos ativos da companhia resultou de um relatório do banco Goldman Sachs, no qual a empresa é listada entre as ações com ;convicção de compra;. A instituição considerou que a fabricante tem posição única no setor aeroespacial e forte exposição a mercados emergentes.
Na Bolsa de Nova York, o dia também foi de recuperação. O índice Dow Jones fechou o dia com alta de 0,47%, influenciado pelo aumento de 0,6% nas vendas do varejo e aumento dos estoques das empresas em 0,2%. (GC)