Economia

Mercado de trabalho em 2011 será puxado pela construção civil e comércio

postado em 19/01/2011 08:16
Damião Salviano, mestre de obras, está confiante e quer ganhar maisOs setores que mais impulsionaram o crescimento da economia no ano passado também abriram o maior número de postos de trabalho. Essa lógica tem tudo para se repetir em 2011. O mercado será promissor para as atividades ligadas diretamente ao desenvolvimento do país, como construção civil, comércio, infraestrutura, tecnologia da informação e educação. Grandes eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 devem esquentar ainda mais a demanda por profissionais qualificados.

Não faltam motivos para apostar na expansão das vagas formais. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, revelam que, entre janeiro e dezembro de 2010, o país criou 2,52 milhões de empregos com carteira assinada ; novo recorde histórico da série iniciada em 1992. O melhor resultado para o ano havia sido registrado em 2007, quando foram abertos 1,61 milhão de postos. Entre 2003 e 2010, o total chegou a 15 milhões.

A meta estabelecida pelo ministro Carlos Lupi era de alcançar 2,5 milhões de empregos. A marca foi atingida, mas para isso o governo contabilizou, pela primeira vez, empregos declarados fora do prazo de entrega da declaração que é encaminhada às empresas e depois recolhida pelo governo. Essas informações, geralmente anexadas à Relação Anual de Informações Sociais (Rais) no segundo semestre de cada ano, somaram 387,7 mil vagas em 2010. Caso a metodologia tivesse sido alterada, teriam sido registrados 2,13 milhões de empregos com carteira assinada em 2010. Lupi justificou que não houve manipulação. ;Não sou leviano para maquiar números. Quem sabe ler sabe que o governo não brinca com números. Apenas fizemos uma antecipação dos dados;, reagiu o ministro. O saldo projetado pelo Ministério do Trabalho para 2011 é de 3 milhões de vagas.

Mestre de obras há quatro anos, Damião Salviano está confiante. A construção civil será um dos carros-chefes do emprego neste ano. ;Indico a profissão para qualquer um. Temos muitas chances de crescer. Comecei como carpinteiro e hoje estou aqui;, disse. Salviano trabalha cerca de nove horas por dia e recebe quase cinco salários mínimos por mês. Especialistas acreditam que o bom momento do mercado de trabalho virá marcado não apenas por mais vagas, mas também por renda.

A equação é simples: com a criação de postos, o número de profissionais qualificados disponíveis ficará menor. Para conseguir pessoas capacitadas, as empresas terão de oferecer salários melhores ou fazer o treinamento de sua própria equipe. ;Não há profissionais qualificados. Para a empresa, é difícil segurar um bom trabalhador. Ele logo recebe uma proposta melhor e vai até para o exterior;, disse o engenheiro civil Gustavo Rondon.

Com a necessidade de investimentos na formação dos trabalhadores, o próprio setor de educação deve crescer e abrir mais vagas. Previsões da Euromonitor, empresa de pesquisas e análises de mercado, indicam que a expectativa de crescimento da área será de 9,6% ao ano no Brasil até 2020. Para o professor de história Eduardo Resende Rocha, 29 anos, esse movimento já pode ser sentido no dia a dia. ;Quando me formei, em 2007, recebia R$ 3,50 por hora/aula. Hoje, ganho R$ 15;, resumiu. Anselmo Luiz Santos, diretor-adjunto do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Cesit/Unicamp), ressaltou que outra medida importante para melhorar a qualidade do emprego é tirar do papel a reforma trabalhista. ;Ela não aumentaria o número de vagas, mas aperfeiçoaria as relações de trabalho, a produtividade dos empregados e a capacidade do país de gerar riquezas;, destacou.

A solução para a falta de pessoas capacitadas passa, necessariamente, por mais investimentos em educação e formação profissional. ;O governo precisa fazer uma definição rápida sobre a política de qualificação profissional, para corrigir as mazelas do ensino. Se, nos anos 1980 e 90, a capacitação podia ser um peso, pois sobravam trabalhadores com formação, hoje a realidade é diferente;, justificou o especialista da Unicamp. O avanço do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano cairá quase à metade na comparação com 2010 ; de 7,5% para 4,5% ;, mas nem isso chega a preocupar os analistas. ;As perspectivas são boas. O setor de serviços vai continuar puxando a criação de vagas. Além disso, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa Minha Vida vão impulsionar a construção civil;, completou Anselmo Luiz dos Santos.

Dúvida
Especialistas acreditam que, embora o Brasil continue a abrir vagas de emprego em 2011, é pouco provável que o país alcance a marca de 3 milhões de postos estipulada pelo ministro Carlos Lupi, dado o cenário econômico esperado para este ano. Além das projeções que mostram a queda no crescimento do país, a expectativa é que hoje o Banco Central aumente a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual (de 10,75% para 11,25% ao ano) para controlar a inflação ; um tranco na atividade.

Serviços lideram a criação de vagas
O setor de serviços liderou a criação de empregos com carteira assinada em 2010, com a abertura de 1 milhão de vagas. Depois dele, destacam-se comércio (601,8 mil), indústria de transformação (536 mil) e construção civil (329,1 mil). Para o Ministério do Trabalho, os serviços foram influenciados pelo desempenho do turismo, devido à movimentação em restaurantes, bares e hotéis, entre outros segmentos. ;Puxado pelo consumo das famílias, o setor de serviços deve permanecer como o carro-chefe do aquecimento da economia;, avalia o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Aloisio Campelo.

De fato, dados do Produto Interno Bruto (PIB) revelam que o setor de serviços já representa mais de 60% da geração de riquezas do país. O segmento movimentou R$ 529,8 bilhões entre julho e setembro, com aumento de 1% ante os três meses anteriores. A agropecuária e a indústria apresentaram quedas de 1,5% e 1,3%, respectivamente.

No balanço do governo, o único setor que registrou queda na criação de vagas foi a agricultura, com a redução de 2.580 postos de trabalho no ano. ;Há mecanização no campo, principalmente nas culturas sucroalcooleiras. Além disso, como o mercado está muito aquecido, há muitas admissões e muitas demissões, e o resultado acabou negativo;, reforça o ministro Carlos Lupi. Na comparação entre as Regiões, o Sudeste criou o maior número de postos (1,2 milhão), seguido do Sul (444,7 mil), do Nordeste (488,5 mil), do Centro-Oeste (178,2 mil) e do Norte (136,2 mil). (CB)

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