postado em 20/01/2011 08:36
A inadimplência continua sendo um pesadelo para os brasileiros. Com renda maior, mais oportunidade de emprego e fácil acesso ao crédito, o consumidor se sentiu seguro para contrair dívidas em 2010 ; e agora está com dificuldades para pagar as contas. Dados do Indicador Serasa Experian, divulgados neste mês, mostram que o número de pessoas que não conseguem saldar suas dívidas com o comércio subiu para 6,3% no ano passado ; crescimento de 0,4% em relação a 2009. Aparentemente baixa, a expansão não é desprezível, considerado o forte crescimento econômico vivido pelo país.;Se compararmos à história do Brasil, 2010 teve um índice baixo, mas em relação ao ano anterior (marcado pela crise), tivemos uma surpresa. Por isso, consideramos alto o percentual de endividados, já que foi um período de prosperidade;, avaliou o assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida. Ele lembra que o índice de inadimplência vinha caindo entre o início do ano e o mês de julho. Mas, em agosto, houve uma inversão, já sob o impacto das compras de Natal, o que afetou o balanço dos últimos 12 meses. O encarecimento do crédito em 2011, puxado pelo aumento na taxa básica de juros (Selic) ; para 11,25% ao ano, conforme decidido ontem ; tende a agravar a situação.
Para Almeida, um dos motivos da elevação dos atrasos é a escolha das formas de pagamento. ;Geralmente, o consumidor opta pelas maneiras mais caras de financiamento, como cartão de crédito e cheque especial. Assim, ele não tem que passar por análise de renda. Só que ele acaba pagando juros maiores.; O economista destaca ainda que o brasileiro tem consumido mais itens de grande valor, como carro e casa, o que também contribui para o aumento da inadimplência.
Nome sujo
A carência de educação financeira foi um dos motivos que levaram o consumidor ao vermelho em 2010. A estudante Gabriela Félix Teixeira, 20 anos, é um exemplo. Desempregada, ela deve cerca de R$ 4,5 mil em seus três cartões de crédito, cheque especial e contas de celular. ;Ainda assim, comprei um netbook de R$ 900 esta semana. É muito fácil adquirir produtos hoje em dia;, reconheceu. Resultado: Gabriela teve o nome cadastrado no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). ;Minha avó teve que me emprestar dinheiro para limpar meu nome.;
Almeida prevê que as dívidas maiores que os rendimentos sejam uma tendência em 2011. ;O comprador começa o ano mais endividado, por causa dos impostos e das despesas de janeiro e fevereiro.; As vendas de Natal, que tiveram aumento de 15% em relação a 2009, mostraram que o brasileiro está mais disposto a consumir. No entanto, ele deve ficar atento. Neste ano, o ritmo do crescimento será menor e a renda não vai ter grandes saltos.
O economista dá uma dica para aqueles que tentam colocar as contas em dia. ;O melhor é renegociar;, aconselhou. A seu ver, vale a pena pegar um crédito consignado, que é mais barato (cerca de 2% ao mês), para pagar uma dívida alta. Mas é preciso tomar cuidado. Muitas vezes, a opção por usar uma parte da quantia para outras compras acaba elevando a dívida. Foi o caso do artesão Marcelo França, 44 anos. Para erguer a própria casa, ele parcelou todo o material de construção e utilizou o cheque especial. ;Fiquei desempregado e não consegui pagar nada. Minha dívida chega a R$ 8 mil. Até quebrei o cartão;, relatou. A solução foi negociar com o banco. ;Fiz um acordo e hoje pago aos poucos e com juros menores. Não entro mais nessa furada.;
Entretanto, dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) dizem o contrário. Em janeiro, segundo a pesquisa de endividamento do consumidor feita pela entidade, a inadimplência caiu 1,4%. Entre os consumidores, 22,1% começaram o mês de janeiro com dívidas ou contas em atraso, ante 23,5% em dezembro. ;Nossa metodologia é diferente. Trabalhamos com amostragem e abordamos todos os tipos de dívidas;, esclareceu Bruno Fernandes, economista da CNC.
E EU COM ISSO
; Com o país crescendo menos em 2011 do que em 2010, o consumidor endividado deve sentir dificuldades para parcelar suas compras. O salto no índice de inadimplência entre os consumidores brasileiros pode encarecer ainda mais os juros ; além da alta da taxa básica (Selic) ; cobrados nos financiamentos. Quando o número de pessoas que não conseguem pagar as dívidas aumenta, as financeiras e os bancos exigem um preço elevado como garantia contra eventuais prejuízos.