postado em 20/01/2011 08:39
Os setores exportadores mais afetados pelo real forte aguardam ansiosos pelo anúncio, prometido recentemente pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, de um pacote para estancar perdas. Medidas para impedir o derretimento do dólar e até mesmo desvalorizar o câmbio estão no topo da lista de reivindicações das empresas, que também esperam alívio na carga tributária e, em certos casos, barreiras à importação.A expectativa com a divulgação de um plano de defesa da produção nacional nos próximos dias cresceu, após Pimentel ter endossado publicamente a preocupação de industriais com a concorrência desleal de importados ; sobretudo, os produtos chineses ;, prometendo uma reação do governo. O ministro informou que as medidas não têm data para serem adotadas e estão em ;fase de formatação;, mantendo o sigilo para evitar especulações.
Apesar de ter registrado crescimento de 11% em 2010 e ser beneficiada com a elevação do Imposto de Importação, de 20% para 35%, em dezembro, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) quer mais para competir com a China, de onde vêm 90% dos artigos importados. O setor espera reconquistar mais 5% do mercado doméstico, hoje dominado pelos produtos estrangeiros, que respondem por 60% das vendas. ;O Brasil é um dos poucos a resistir aos fabricantes chineses, donos de 85% da produção mundial e que cresceram, aqui, 41% no ano passado;, disse Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq.
Triangulação
O diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, também considera a questão cambial como crucial no momento e sublinha a desvantagem dos fabricantes nacionais diante do custo baixo dos concorrentes asiáticos. Além da necessidade de ganhar mais competitividade interna com desonerações de impostos, os calçadistas cobram mais vigilância das autoridades contra a estratégia dos chineses de exportar via terceiros países, driblando a tarifa antidumping (de US$ 13,83).
A chamada triangulação já provocou aumento expressivo, de até 1.300%, dos volumes importados de países não tradicionais no ramo, como Vietnã, Malásia, Indonésia e República Dominicana. O volume de importação de partes de calçados também disparou. Para isso, o setor pede a extensão da sobretaxa aos chineses às importações desses países e sobre itens desmontados.
Para alguns empresários, como os fabricantes de roupas, nem mesmo a proteção já conquistada de 35% do Imposto de Importação, percentual máximo permitido, é suficiente para compensar a desvantagem cambial. ;Um dólar na casa de
R$ 1,70 zera a alíquota. O ideal seria R$ 2,30;, afirma Ronald Masijah, presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário Feminino de São Paulo (Sindivest-SP). Sua entidade pede ainda ao governo uma redução de encargos trabalhistas, sem prejuízo dos salários, como forma de preservar a atividade, que mobiliza muita mão de obra. ;Não queremos benesses, só condições de competitividade;, acrescentou.
Pedidos
Os protestos dos exportadores envolvem fabricantes de diferentes portes. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), por exemplo, pede ao governo que eleve a alíquota do Imposto de Importação sobre equipamentos de geração, distribuição e transmissão de eletricidade, de 12% para 35%. De olho em grandes projetos, como o da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), a entidade alerta para o risco de que empresas brasileiras, diante da valorização cambial, fiquem de fora de concorrências internacionais.
ANÁLISE DA NOTÍCIA
Cenário complexo
A combinação de economia doméstica superaquecida e moeda forte tornou o Brasil nos últimos dois anos um dos alvos prioritários dos exportadores, sobretudo os chineses. Mesmo o Brasil impondo alíquotas de importação de até 35% e outras medidas tímidas de defesa comercial, a China se consolidou como a maior beneficiada pela expansão do consumo brasileiro.
Por outro lado, a segunda economia do mundo, principal parceiro comercial do país, garante com sua demanda gigantesca de grãos e minérios bons resultados às exportações brasileiras. As cotações elevadas de commodities compensam perdas cambiais. Até agora, impediram deficits na balança comercial.
Se é evidente a dependência, para ambos os lados, do comércio bilateral Brasil-China, também não se pode mais esconder as tensões geradas pela ocupação desenfreada das prateleiras por manufaturados chineses. O superavit comercial do país vem caindo desde 2007, tendência que o governo promete conter este ano e reverter nos próximos. Os empresários duvidam e cobram medidas para ajustar o câmbio.
Com discurso semelhante ao do setor industrial, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, promete agir. Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz categoricamente que não permitirá o derretimento do dólar. Apesar disso, os juros elevados e a guerra cambial impedem altas significativas do dólar. Também é consenso de que só um ajuste fiscal daria espaço para cortes na taxa básica. O quadro é complexo. (SR)