Estado de Minas
postado em 20/01/2011 09:57
Geórgea Choucair Tetê Monteiro
A alta da taxa de juros da economia (Selic) de 10,75% para 11,25% terá pouco efeito nas operações de crédito no curto prazo. A competição maior entre as instituições financeiras e a queda na inadimplência devem frear a alta dos juros nas operações de crédito ao consumidor, segundo analistas. Eles avaliam ainda que a elevação da taxa de juros era esperada, como forma de conter o processo inflacionário no país. O reflexo da decisão do Copom, no entanto, pode ser prejudicial à produtividade das indústrias.
;Eu não acredito que todos os bancos repassem a alta de juros para o crédito ao consumidor, pois há muita competição entre eles e queda na inadimplência;, afirma Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente e responsável por estudos econômicos da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). E o efeito sobre final nas compras no crediário será pequeno, segundo Oliveira, já que há um deslocamento grande entre a taxa Selic e a cobrada ao consumidor.
Com a alta da Selic, a taxa atual cobrada pelo comércio no crediário passa de 94,27% para 95,15%, variação de 0,70 ponto percentual, segundo levantamento da Anefac. Já a taxa do cartão de crédito sai de 238,3% para 239,77%, alta de 0,37 ponto percentual, a do cheque especial de 140,05% ao ano para 141,12%, o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) de 32,92% para 33,55%, o empréstimo pessoal em bancos de 74,92% para 75,72% e o empréstimo pessoal de financeiras de 201,74% para 203,06%.
A taxa mensal de juros média cobrada pelo comércio passa de 5,69% para 5,73%, conforme a Anefac. Isso significa que quem fosse comprar uma geladeira de R$ 1,5 mil financiada em 12 vezes pagaria antes prestação de R$ 175,89 (valor total de R$ 2.110,68 mil). Agora, se a alta de juros for repassada ao crédito do consumidor, esse valor vai para R$ 176,28 ao mês (R$ 2.115,36). ;A diferença é pequena no prazo de 12 meses. De qualquer forma, é importante que o consumidor pesquise as taxas e evite o crédito, pois as taxas estão altas;, afirma Oliveira.
Cerca de 70% das vendas do comércio de Belo Horizonte são realizadas a prazo, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). O economista e gerente de pesquisa da CDL, Fernando Sasso, enxerga o cenário de alta de juros de forma negativa. ;Reduz o poder de compra do consumidor. Esse impacto deve ser maior nos setores que dependem do crédito no longo prazo, como móveis, eletroeletrônicos e eletrodomésticos;, observa.
Na visão do presidente da Federação das Indústrias de Miinas Gerais (Fiemg), Olavo Machado Júnior, o Banco Central erra mais uma vez ao optar pela elevação da taxa básica de juros. ;A decisão mostra, claramente, seu distanciamento em relação às necessidades dos setores produtivos e a falta de alinhamento entre a política monetária e fiscal praticada no país;, afirmou. Para o economista da Tendências Consultoria, Raphael Martello, a alta da Selic é inevitável. ;A inflação não é só choque de alimentos. Parte da pressão de preços também está nos serviços;, analisa.