postado em 22/01/2011 08:56
Ahostilidade do clima desencadeou nas últimas semanas um aumento generalizado dos preços dos alimentos. O excesso de chuvas prejudica as lavouras e os rebanhos. O consumidor gasta cada vez mais para encher a sacola. A conta que vem dos céus é alta. Itens essenciais na dieta do brasileiro não param de subir. Para piorar, o escoamento da produção ; feito principalmente por via terrestre ; também sofre a influência negativa do clima. Transportadores reclamam das más condições das estradas e repassam de forma automática os custos extras com manutenção de veículos e demora nas entregas.A escalada é visível nas gôndolas dos supermercados, açougues e feiras de todo o país. O tomate subiu 36,23% na segunda semana de janeiro depois de ter aumentado 7,42% na quarta semana de dezembro/2010 e mais 28,03% na primeira semana de 2011. Hortaliças e legumes subiram 8,19% na segunda semana de janeiro e 4,55% na primeira semana do ano. A abobrinha saltou 24,97% na segunda semana de janeiro. Os preços de aves e ovos também subiram: 1,88% na segunda semana de janeiro, 4,19% em dezembro 2010 e 3,28% na primeira semana de janeiro. O frango em pedaços valorizou-se 3,83% em dezembro, 3,30% na primeira semana de janeiro e mais 1,92% na segunda semana do mesmo mês.
No caso das carnes, o efeito das chuvas se juntou a outros fatores. O aumento dos preços internacionais e a liberação da carne brasileira para os mercados de vários países foram responsáveis por mudanças significativas no mercado interno. As famílias estão pagando caro para incrementar o almoço e o jantar do dia a dia. A picanha e a alcatra subiram, respectivamente, 1,17% e 7,13% na segunda semana de janeiro. Outros cortes experimentaram saltos semelhantes.
O mesmo vem acontecendo com peixes e frutos do mar.
A advogada Catarina Catta Preta, 32 anos, reclama dos aumentos repentinos. Acostumada a comer fora de casa com frequência, ela conta que tem gastado mais. ;O preço do almoço a quilo já subiu cerca de R$ 2;, afirma. Já a economista Vanderléia Radaelli, 33 anos, acha o valor dos sucos naturais desproporcional. ;Não entendo por que isso acontece;, completa. O engenheiro Marcelo de Aguiar, 38 anos, está assustado com o que vem ocorrendo. ;Os restaurantes deveriam avisar aos clientes antes de aumentar os preços;, reforça.
O gerente de um self-service de comida vegetariana, Marco Moisés, explica que os insumos têm aumentado. Mas, negociando com os fornecedores, ele consegue descontos para cada produto. A exceção é a laranja, consumida in natura e em sucos. ;As folhas têm piorado a qualidade e nossa nutricionista faz que com muita quantidade seja colocada no lixo. O fornecedor entendeu o problema e sempre manda, por exemplo, em vez de 10 alfaces, 15 alfaces, para compensar a queda de qualidade. Fazemos esforços para manter a qualidade da comida que servimos à clientela;, completa. A arquiteta Briane Bicca, 65 anos, adverte: ;O custo de vida de Brasília sempre foi muito alto. Moro em Porto Alegre(RS) e lá o preço é muito mais baixo;.
Frete
O clima desfavorável também tem se refletido nos preços do transporte de cargas. Estradas esburacadas inflacionaram o frete, que aumentou 24,5% nas últimas quatro semanas, segundo a Associação Nacional dos Transportadores de Carga (ANTC). O corretor autônomo, Breno Pires, da Ceasa/DF, afirma que uma viagem de Brasília para o Rio de Janeiro custa R$ 120 por tonelada/quilômetro. O presidente da Ceasa DF, Júlio Menegotto, explica que os preços devem subir porque, depois das chuvas, os atacadistas estão buscando produtos em Goiás e na Bahia para abastecer os estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais.
O economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) André Braz explica que os preços dos produtos in natura sobem e descem com mais rapidez por causa dos ciclos curtos de produção, o que não ocorre com os produtos do agronegócio ou semi-industrializados, ou ligados ao mercado externo. O agrônomo da Universidade de Brasília (UnB) Flávio Botelho reforça que a alta demanda vinda dos países emergentes, especialmente da China, e os baixos estoques, associados ao real valorizado, criam problemas no mercado interno, mas aumentam a receita cambial do governo federal.