Economia

Supermercados ampliam oferta de produtos rastreados para atrair clientes

postado em 24/01/2011 08:27
Carnes bovinas expostas no supermercado têm processo produtivo monitorado e divulgação on-lineO varejo rendeu-se ao público. Preocupadas com o processo de produção daquilo que ocupa suas gôndolas e com a imagem percebida pelos clientes, as grandes redes estão ampliando a oferta de alimentos rastreados. Em muitos supermercados, consumidores já podem encontrar carnes, verduras e legumes com um selo que garante a origem e permite o acompanhamento de toda a cadeia produtiva. Pela internet, é possível verificar, por exemplo, como os animais são tratados, o que comem, o dia do abate e até a identificação do frigorífico.

O Grupo Pão de Açúcar, que em 2008 deu início ao programa Qualidade desde a origem, comercializa 13 cortes de bovinos da marca própria, a Taeq, em 23 lojas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e no Distrito Federal. Ainda neste trimestre, quer levar os produtos a todos os 244 pontos do Brasil. No ano passado, a rede lançou um selo em 2D para que os clientes acessem os dados utilizando smartphones. ;Agora, também desenvolvemos o sistema para Iphone. Quem tem o leitor do código de barras no celular pode, ali mesmo no supermercado, obter todas as informações e ver, inclusive, a foto da fazenda onde o animal foi criado;, explica a consultora técnica em carnes do grupo Fabiana Farah.

No caso de frutas, legumes e verduras, setor do Grupo Pão de Açúcar que movimenta cerca de 100 mil toneladas por mês, o sistema adotado prevê o monitoramento do uso de defensivos agrícolas aplicados no cultivo e a análise de resíduos agrotóxicos. ;Pautamos o trabalho em cima da qualidade do produto. As iniciativas são um dever da empresa e um direito do consumidor;, completa Fabiana.

O Carrefour, outro gigante varejista, também decidiu tornar pública a cadeia produtiva de alguns alimentos. Embora já acompanhasse as etapas de criação e distribuição de uma cesta de produtos há mais de 10 anos, em dezembro, lançou o site www.garantiadeorigem.com.br, que faz o rastreamento de carne bovina, suíno resfriado, camarão e frango caipira. Os selos estão em unidades de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No primeiro semestre de 2011, o portfólio de produtos com a marca de rastreabilidade Carrefour deve ser ampliado, abrangendo congelados, frutas, legumes e verduras. A expectativa é de que 149 rótulos da linha tenham seus processos adaptados ao novo sistema. ;O selo garantia foi criado para oferecer ao consumidor um produto seguro, que passou por controles rigorosos. Tudo auditado por empresas externas;, ressalta Gerard Antonius Eysink, gerente nacional de garantia de origem do Grupo Carrefour.

Sustentabilidade

Diante da movimentação dos concorrentes, o Walmart Brasil lançou em agosto do ano passado o programa Qualidade selecionada, origem garantida ; que apresenta na internet toda a cadeia produtiva. Assim como no Grupo Pão de Açúcar, o primeiro item rastreado é a carne da marca própria, neste caso a Campeiro, com seis diferentes cortes. ;O sistema está em 18 lojas de toda a Região Sul e na cidade de São Paulo. Neste ano, queremos expandir tanto a produção da carne quanto o número de locais de comercialização;, diz o gerente de sustentabilidade do WalMart, Felipe Antunes.

Outro desafio do WalMart é implementar um sistema de rastreabilidade, até 2016, para os pescados. ;Esse é um compromisso mais amplo e importante. O pescado no Brasil tem grande potencial de crescimento nos próximos anos;, reforça Antunes. Tanta preocupação das companhias não é sem motivo. Em 2009, O Ministério Público Federal do Pará ajuizou 21 ações civis públicas pedindo indenização de R$ 2,1 bilhões de pecuaristas e frigoríficos que comercializaram animais criados em fazendas desmatadas ilegalmente. Após essas medidas, e por pressões de ONGs ambientalistas, as redes de supermercados passaram a tomar mais cuidado. ;A preocupação com essas áreas é fundamental. Com a rastreabilidade é possível saber de onde vem e como é produzida a carne;, observa Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do Carrefour.

Análise da notícia

Questão de respeito

Demorou, mas finalmente o comércio brasileiro percebeu que municiar o consumidor de informações sobre como a comida é produzida é, mais do que uma estratégia de negócios, prova de respeito aos clientes. Ainda que tenha começado na base do modismo ; turbinado pelo marketing politicamente correto ;, a iniciativa de aumentar a oferta de produtos rastreados mostra que o varejo acordou para os novos tempos. Antes tarde do que nunca. Quando o assunto é comer, as famílias brasileiras estão cada vez mais atentas e exigentes. E ainda que um item rastreado seja um pouco mais caro do que o convencional, muita gente não hesita em levar para casa o certo, e não o duvidoso.

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