postado em 27/01/2011 08:26
O Banco Central botou fim à farra do crédito e o consumidor pode preparar o bolso. Se em 2010 houve céu de brigadeiro para quem queria carro, casa e móveis, o ano de 2011 anuncia-se mais caro, devido à elevação dos juros e aos prazos encurtados. Já em dezembro do ano passado, as taxas para as famílias haviam subido 1,5%. Até 12 de janeiro, o crédito encareceu mais 4,5 pontos percentuais. Com as medidas prudenciais anunciadas no fim do ano passado e a alta da taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual neste mês ; para conter a inflação ;, a autoridade monetária deu uma paulada do poder de compra do brasileiro. E os efeitos das medidas ainda não se propagaram totalmente.A expectativa dos analistas é de que, nos próximos meses, os juros para as pessoas físicas continuem a subir e os prazos, que faziam as prestações caberem no bolso mesmo com taxas elevadas, passem a encolher. Questionado se a estratégia adotada pelo BC havia sido exagerada por ter gerado um efeito tão pesado já em janeiro, o chefe do Departamento Econômico da instituição, Altamir Lopes, evitou maiores comentários. Disse apenas que o impacto nos juros ;veio alto;. Foi o que percebeu a pedagoga Jaqueline Fontenele, 49 anos. Para ela, ainda vale a pena parcelar compras acima de R$ 200, mas, com os juros subindo tanto, só passou a ser vantajoso se der para fazer o financiamento sem ônus.
;Dá para pagar em até 10 vezes sem juros. Com material de construção, por exemplo, gasto muito e, por isso, uso o cartão de crédito;, explicou Jaqueline. A aposentada Clea Faria, 59 anos, também está fugindo das alíquotas elevadas. Compra à vista sempre que pode e, quando não é possível, leva o produto em poucas prestações. ;Eu divido em, no máximo, duas vezes. Opto sempre por ficar livre das dívidas do cartão de crédito. Prefiro juntar um dinheirinho e comprar o que posso;, ensinou.
O setor produtivo também sentiu a mão pesada da autoridade monetária. Na parcial de janeiro, o crédito para pessoas jurídicas subiu para 29,4% ao ano. ;É preciso lembrar, porém, que essa tendência de alta pode não se propagar para o resto do mês;, contrapôs Lopes. Ainda assim, assumiu que os efeitos da Selic e das medidas adotadas em dezembro ainda se farão sentir nos próximos meses.
Tranco
Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-BC, Carlos Thadeu de Freitas, a autoridade monetária não exagerou, mas as decisões recentes claramente tiveram como objetivo frear a economia. ;Estava muito aquecida (a economia) e agora vai desacelerar. O BC tomou as medidas certas, mas ainda falta tempo para elas mostrarem seus efeitos;, argumentou.
O ritmo das concessões de crédito ; que caiu 8%, em média, em janeiro ; também foi influenciado pelas decisões do governo. Para as famílias, o recuo foi de 3,5% e para as empresas, 11,3%. No caso dos recursos para o setor produtivo, Lopes justifica que no primeiro mês do ano há um movimento natural de queda em função do grande volume de recursos que se contrata em dezembro ; efeito das festas de fim de ano.
O momento atual exige capital de giro para a recomposição do comércio, segmento que já virou alvo de críticas dos consumidores. A funcionária pública Rose Pinheiro, 21 anos, por exemplo, acabou de comprar um carro zero financiado em cinco anos e reclama. ;Notei que antes as condições eram melhores. Em 2008, consegui parcelar outro veículo em 48 vezes com a maior facilidade e menos juros;, relembrou. Além do veículo, ela também paga as parcelas do seu apartamento. ;As contas pesam muito. Não temos outra solução senão comprar a prazo.;
Ontem, a também servidora pública Natividade Barbosa Cardoso, 56 anos, comprou no cartão de crédito pela primeira vez. Encontrou no dinheiro de plástico a opção mais barata de financiamento. ;Eu já comprei parcelado antes, mas no carnê. Só que não está compensando mais, é muito mais caro;, ponderou. Ela parcelou um guarda-roupas em 10 vezes, sem entrada, e ainda ficou livre dos juros.
PREÇOS SOBEM 0,76%
A inflação da primeira quinzena de janeiro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), acelerou em janeiro, refletindo o reajuste da tarifa de ônibus urbano em algumas capitais brasileiras. O indicador subiu 0,76% na primeira metade do mês, após alta de 0,69% no mesmo período de dezembro.