postado em 28/01/2011 08:35
A carteira assinada já não é mais um sonho distante para quem procura emprego. Com as contratações a todo vapor, o país comemora a formalização de um número cada vez maior de trabalhadores. No ano passado, conforme dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil registrou o maior percentual de celetistas da história: 46,3% entre o total de ocupados, ou 10,2 milhões de pessoas ; em 2003, a taxa era de 39,7%. O avanço do mercado formal é reflexo direto do desemprego em queda. Em dezembro, a taxa de desocupação ficou em 5,3%, ajudando 2010 a fechar com a menor taxa de desocupação de todos os tempos, 6,7% ; em 2009, o índice ficou em 8,1%.Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE, explicou que o avanço da formalização foi expressivo em todas as regiões do país e atividades. ;O cenário econômico favorável, a preocupação dos empregadores com os encargos trabalhistas e o esclarecimento da população contribuíram para a mudança;, reforçou. Segundo ele, o único segmento que ficou aquém do esperado foi o de serviço doméstico. E as razões são conhecidas. Muitas vezes, esses profissionais abrem mão de ter a carteira assinada para ganhar mais, por exemplo, fazendo diárias. ;No longo prazo, isso é um prejuízo, pois eles ficam sem os direitos;, observou Azeredo.
Mesmo com a alta oferta de vagas, o país ainda sofre com a desigualdade regional. ;Em Salvador (BA), a média do desemprego no ano chegou a cerca de 10%, enquanto Porto Alegre ficou com 3%;, disse o economista Anselmo Luiz dos Santos, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para ele, a migração vira alternativa para quem não encontra ocupação. ;Se não há oportunidade de emprego em determinada área, em outro lugar com certeza terá;, justificou.
As informações do IBGE mostram ainda um mercado de trabalho mais escolarizado em 2010. Entre os empregados, aqueles com 11 anos ou mais de estudo representaram 59,2% do total, contra 57,5% de 2009. Ainda assim, há carência de mão de obra especializada. ;Quando o desemprego cai, a qualidade da ocupação ganha destaque. Construção civil, tecnologia e metalurgia, por exemplo, demandam um profissional com alto nível de conhecimento, que falta no mercado;, alertou Santos. Com o apagão de mão de obra, os investimentos em educação e formação profissional passam a ser prioridade. ;O governo brasileiro não terá outra saída senão uma política educativa forte;, completou o especialista.
Maturidade
Trabalhadores com 50 anos ou mais e mulheres também vêm ganhando força e ampliando suas participações no conjunto de empregados formais no país. De acordo com o estudo do IBGE, a participação do contingente feminino no mercado quase se igualou ao masculino. No ano passado, 45,3% dos ocupados eram mulheres. ;Hoje, elas estão se preparando mais que os homens. Vemos muito mais mulheres em cursos superiores. Nas próximas décadas, isso deve se intensificar. Agora, temos uma presidenta, o que pode ser um incentivo;, advertiu a economista da Trevisan Anapaula Iacovino. Os idosos também estão voltando a disputar espaços. ;O aposentado não recebe o suficiente para se manter, então retorna ao mercado. A população tem uma expectativa de vida maior que, muitas vezes, se torna produtiva;, lembrou Cimar Azeredo, do IBGE.
A queda do desemprego significa forte ascensão social e tem impactos sobre uma série de indicadores que, no futuro, poderão elevar o país a patamares de desenvolvimento melhores. ;O emprego faz crescer o grau de cidadania e reconhecimento entre os outros membros. Os desempregados se sentem psicologicamente excluídos;, argumentou o pesquisador em sociologia do trabalho da Universidade de Brasília (UnB) Sadi dal Rosso.
Diferenças
Pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Fundação Seade) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgada ontem, mostrou que a taxa de desemprego encerrou dezembro em queda, passando de 10,6% para 10,1% da População Economicamente Ativa (PEA). No apanhado de 12 meses do ano passado, o índice médio de desemprego caiu para 11,9% ante 14%, registrado em 2009. O total de desempregados estimados em 2,620 milhões teve redução de 418 mil em relação ao ano anterior.