Economia

O ministro da Fazenda ridiculariza relatório do FMI

postado em 29/01/2011 10:00
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ridicularizou ontem o relatório no qual o Fundo Monetário Internacional (FMI) faz duras críticas à situação fiscal nos países emergentes e, em especial, no Brasil. Mantega disse que o documento traz ;observações equivocadas; sobre as contas nacionais e que, pelo teor, deve ter sido preparado por um dos ;velhos ortodoxos do Fundo Monetário;. Divulgado na quinta-feira, o Monitor Fiscal do FMI chamou a atenção para o agressivo ingresso de investimentos privados e para a superoferta de crédito, destacando que esses fenômenos deixam a economia exposta demais a riscos.

Em tom de revanche, Mantega desqualificou os argumentos apresentados no texto pelos economistas do organismo internacional. ;Não é um relatório muito importante e certamente não reflete a opinião do diretor gerente, Dominique Strauss-Kahn. Aposto que ele não leu nem tomou conhecimento desse documento. A equipe do FMI hoje é de primeira linha e mudou sua filosofia em relação ao passado. Não são mais aqueles conservadores;, contestou.

O monitor do FMI foi criado no ano passado para analisar as fragilidades fiscais de economias desenvolvidas, como Europa e Estados Unidos, mas também costuma abordar cenários de países emergentes. Na última edição, o levantamento destacou que o Brasil teve sua situação fiscal deteriorada em 2010. ;Em 2009 e 2010, fizemos exatamente o que o FMI sugeriu. Uma política anticíclica, aumentando investimentos e gastos para recuperar o país. Agora, o FMI está dizendo que houve uma piora. Não procede;, justificou Mantega.

Para o ministro, os dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional provam que a solidez fiscal aumentou. ;Acho que o diretor gerente do FMI deve ter saído de férias e um daqueles velhos ortodoxos do Fundo Monetário escreveu esse monitor;, ironizou Mantega.

Além do nível de poupança maior, se comparado com os R$ 39,4 bilhões economizados em 2009, Guido Mantega reforçou que as contas públicas devem encerrar o ano com uma relação entre a dívida pública e o PIB menor e com um resultado nominal menos negativo. ;Na segunda-feira, o Banco Central vai divulgar o deficit nominal de 2010, que será algo em torno de 2,40% e 2,70%. A dívida pública também diminui este ano de 42,5% para algo em torno de 41%. É uma situação fiscal invejável;, disse o ministro.

Apesar da defesa ao cenário fiscal, Mantega admitiu que os estados e municípios não cumprirão a sua parte na meta do governo deste ano (0,95% do PIB) e, portanto, exigirão o abatimento de parte dos investimentos realizados no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no ano passado. ;Não acredito que vão cumprir totalmente, então vai faltar alguma coisa para completar os 3,1% e isso se dará com uma parte do PAC.;


ANÁLISE DA NOTÍCIA
No ataque sem rodeios

Provando que a atual relação do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI) nada tem a ver com a subserviência demonstrada na década passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mandou ontem um recado claro: não aceitará mais as críticas do Fundo à política econômica praticada no país. As observações do Monitor Fiscal foram publicadas na quinta-feira, mas o ministro aguardou a distribuição do relatório do Tesouro Nacional no qual constam as informações fiscais de 2010 para rebater o organismo.

Os comentários feitos ontem pela manhã seguiram o estilo atribulado de parte dos comunicados feitos pelo chefe da Fazenda. Mantega interrompeu uma dinâmica já conhecida pelos técnicos do Tesouro e pela imprensa, habituada à cobertura do tema, na qual o documento é liberado 30 minutos antes de uma entrevista coletiva comandada pelo secretário Arno Augustin. Sob a justificativa de que o ministro precisava se deslocar rapidamente para a base aérea, o anúncio foi organizado na porta do edifício sede do Ministério da Fazenda, o que gerou tumulto entre os presentes. A coletiva do secretário, por sua vez, estava agendada para as 11 horas, mas teve de aguardar enquanto o chefe da pasta contestava a avaliação feita pelo FMI. Surpreso ao chegar ao local, o chefe da equipe econômica cumprimentou a imprensa dizendo que ;não esperava que houvesse tanta gente esperando.;

Não é a primeira vez que Mantega descarta a utilização do amplo auditório localizado no andar térreo do mesmo prédio, com acesso privativo direto do gabinete, e convoca os jornalistas para pronunciamentos feitos na porta da rua, evitando questionamentos que não pretende responder nesses momentos. A justificativa é tornar menos solene os ;rápidos comentários; feitos pelo ministro. (GC)

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