Economia

Dilma exige explicações "o mais rápido possível" sobre blecaute

postado em 05/02/2011 07:30
Irritada, Dilma sabe que pode ser responsabilizada pelos problemasUm dia após ter anunciado o novo diretor de Furnas, em meio a uma briga com o PMDB pelas indicações para o comando das estatais do setor elétrico, a presidente Dilma Rousseff foi surpreendida pelo apagão no Nordeste, região onde garantiu a sua eleição. Extremamente irritada, ela exigiu esclarecimentos ;o mais rápido possível; para as causas dos problemas que deixaram mais de 40 milhões de pessoas no escuro. Logo pela manhã, ela cobrou explicações do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em reunião no Palácio do Planalto e determinou que as empresas geradoras de energia reforcem a manutenção dos serviços.

Segundo o porta-voz da Presidência, Rodrigo Baena, Dilma também determinou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que reforce a fiscalização preventiva. Perguntado se a presidente teria minimizado os problemas no Nordeste, como fez Lobão em entrevista, Baena informou que a presidente ficou de fato preocupada com a questão. Dilma sabe que todo o ônus da ineficiência do setor elétrico pode cair sobre o seu colo, pois o modelo em vigor foi montado quando ela esteve à frente do Ministério de Minas e Energia.

Para Ildo Sauer, professor do Instituto de Eletrotécnica e Enegia da Universidade de São Paulo (USP), o efeito cascata observado no apagão de ontem comprova que há algo de errado na gestão do setor elétrico brasileiro. ;O sistema é robusto na concepção, mas frágil na aplicação prática. Basta observar que, em apenas 14 meses, o país enfrentou três apagões. O aparelhamento político dos órgãos que deveriam zelar pela segurança do abastecimento está deteriorando a gestão do setor. Isso se reflete em todos os níveis;, afirmou.

No entender de Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), o país necessita investir em linhas de transmissão alternativas como forma de prevenir futuros apagões. ;A falha de um componente eletrônico é comum. O que não pode acontecer é isso derrubar todo o sistema", criticou.

Cronologia

Passo a passo do apagão

23h08 de quinta-feira

; Uma das duas linhas de transmissão que ligam a Usina Luiz Gonzaga, na cidade de Jatobá (PE) a Sobradinho (BA) desliga-se.

23h21
; Técnicos da Chesf tentam religar a linha de transmissão com problema. A manobra é entendida erradamente pelo sistema de proteção, que desliga a segunda linha de transmissão e a geração na usina Luiz Gonzaga.

; Nesse momento, é detectada a falha em uma cartela do sistema de proteção da subestação de Luiz Gonzaga. O defeito no dispositivo eletrônico havia confundido o sistema, fazendo-o identificar um problema que não existia nas linhas de transmissão.

; A perda total da ligação entre Luiz Gonzaga e Sobradinho gera uma perturbação no sistema interligado. Ao ser identificada, o intercâmbio de energia com as regiões Norte e Sudeste é automaticamente interrompido: 3,2 mil MW deixam de ser enviados para o Nordeste.

; A queda na carga de energia provoca o desligamento em parte de Sobradinho, nas quatro usinas do Complexo de Paulo Afonso, em Xingó e em Apolônio Sales. Começa o apagão em série, atingindo parcialmente a Bahia e totalmente os estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

23h29
; A essa altura, a energia disponível para a região cai de 8,8 mil MW para apenas 800MW. Como o problema atingiu parcialmente Sobradinho, a transmissão e a geração entre Sobradinho (BA) e Barreiras (BA) é mantida, deixando o Sudoeste da Bahia fora do blecaute.

; Da mesma forma acontece entre Sobradinho e São José do Piauí, não interrompendo o abastecimento do estado do Piauí. O Maranhão também não é afetado, por ser atendido pelas linhas de transmissão da Eletronorte e não da Chesf.

; Técnicos da Chesf conseguem isolar o equipamento defeituoso e religam um dos elos da transmissão entre Luiz Gonzaga e Sobradinho para recompor as cargas das cidades atingidas pelo apagão.

0h10 de sexta-feira
; Fortaleza é a primeira capital a ter a energia restabelecida, por estar mais próxima do Piauí, onde o fornecimento estava normalizado.

1h05
; Da mesma forma, Aracaju e Salvador retomam o fornecimento de luz, pela proximidade com o sudeste da Bahia, onde a transmissão não foi afetada.

3h10
; Quase quatro horas depois do apagão, Natal é a última capital a ter o fornecimento restabelecido, por ser a mais distante das áreas não atingidas.

8h00
; A operação para correção do problema na subestação de Luiz Gonzaga é totalmente concluída, com troca da cartela defeituosa e sistema de proteção restaurado.

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