Economia

BC reúne economistas para debater modelo atual dos índices de preços

postado em 08/02/2011 08:46
Para o Ministério da Fazenda, retirada dos alimentos do cálculo do custo de vida refletiria melhor a realidadeO Banco Central está preocupado com a inflação e ressuscitou o debate em torno da metodologia dos índices de preços. Na semana passada, a instituição reuniu diversos especialistas e economistas de centros de pesquisas responsáveis por produzir as taxas e pediu para que eles apresentassem estudos no sentido de melhorar a qualidade dos indicadores atuais. O evento, batizado de Medidas Alternativas de Custo de Vida, provocou, no mercado, o temor de que o ;Índice Mantega;, em referência a ideia do ministro da Fazenda ; de retirar os alimentos do cálculo da inflação ; possa ser adotado.

Durante três dias, os principais economistas da Fundação Getulio Vargas (FGV), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de diversas universidades públicas apresentaram trabalhos ao corpo técnico do BC. Os servidores que assistiram o evento colheram as ideias e os trabalhos e devem formular um relatório para a diretoria da instituição. O diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, braço direito do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, acompanhou o início do evento.

Debate semelhante ocorreu apenas em 1999, depois da adoção do regime de metas de inflação. Na época, a meta era de 8% e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminou o ano em 8,94%. Para Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do BC, o momento não é oportuno para esse tipo de debate. Ele e analistas de mercado ponderam que discutir a metodologia dos índices pode indicar a intenção de mudar o modelo atual e aumentar os prêmios de risco.

;O problema é que a discussão passa a impressão de que se quer buscar indicadores mais favoráveis ao governo;, disse Thadeu. ;Os índices de inflação em países desenvolvidos são mantidos ao longo dos anos. Pode-se até, de vez em quando, fazer estudos, mas como estamos em fase de inflação um pouco mais elevada, não é bom ficar debatendo a metodologia dos índices;, acrescentou.

O medo do mercado é de que o BC adote uma metodologia mais favorável para a política monetária, como já sugeriu em outras oportunidades o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que desejava retirar do IPCA a variação dos preços dos alimentos, principalmente os dos legumes e verduras, que são mais sensíveis ao clima. O que preocupou os especialistas dessa vez foi o fato de o próprio BC, responsável por zelar pelo poder de compra da moeda e que gritou contra a proposta de Mantega, ressuscitar o debate.

O evento ocorreu na sede do BC, em Brasília, e durou três dias. Nele, abordou-se intensamente quais seriam os modelos mais adequados ou em linha com a realidade da economia brasileira para se calcular a inflação. Um dos trabalhos, inclusive, apontava a hipótese de que, quando o preço de um produto sobe, o brasileiro deixa de comprá-lo para investir o dinheiro e não perder frente os efeitos corrosivos da inflação ; o que é rebatido por especialistas.

O Boletim Focus, levantamento realizado pelo BC com mais de 100 instituições, tem mostrado a descrença do mercado em relação à atuação do BC para conter a inflação. Ontem, pela nona vez consecutiva, os analistas pioraram as projeções de 2011 e elevaram o IPCA para 5,66%. A postura de debater a metodologia dos indicadores deve acentuar ainda mais esse posicionamento do mercado. O BC negou que o evento com os institutos de pesquisas tivesse o objetivo de mudar as metodologias da inflação e garantiu que se tratou apenas de um debate corriqueiro, sem qualquer influência para a política macroeconômica. Mas confirmou a participação de Carlos Hamilton no início do evento.


Fundo captam R$ 12,5 bilhões
Enquanto a caderneta de poupança apresentou captação minguada no primeiro mês do ano, os fundos de renda fixa, segundo a Associação de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), registraram o melhor desempenho desde janeiro de 2008. Entre saques e depósitos, sobraram R$ 12,5 bilhões contra minguados R$ 275 milhões da tradicional aplicação. Com rentabilidade de 0,93% em janeiro, os fundos também superaram o rendimento (entre 0,5% e 0,6% ao mês mais taxa de referência) da poupança e têm conquistado novos investidores cada vez mais interessados em segurança e retorno. Os fundos de curto prazo foram os que mais atraíram recursos: R$ 7,8 bilhões, o maior montante desde a criação desse segmento de aplicação. Apenas os fundos DI e os compostos por ações ficaram no vermelho no mês passado, ao registrarem mais resgates do ingressos de grana. Os fundos de previdência também apresentaram um bom resultado, com captação líquida de R$ 4,4 bilhões.


Poupança perde espaço

O brasileiro está usando suas economias para bancar parte das contas deste início de ano e do endividamento contraído no ano passado. Com isso, a captação líquida de recursos (depósitos menos saques) na caderneta de poupança foi de apenas R$ 275 milhões em janeiro ; quase 10 vezes menos do que no mesmo mês do ano passado (R$ 2,6 bilhões). Segundo os analistas, a tradicional aplicação também foi prejudicada pelo aumento da taxa básica de juros (Selic), de 10,75% para 11,25% ao ano, o que tornou os fundos de investimento de renda fixa mais atraentes.

Pelos dados do Banco Central, os brasileiros destinaram, no mês passado, R$ 97,7 bilhões para a caderneta e sacaram, no mesmo período, aproximadamente R$ 97,4 bilhões. ;Se comparar com outros meses, o saldo líquido da caderneta foi baixo e isso se deve ao fato de janeiro ser um mês de mais despesas, quando se tem de pagar determinados impostos e matrículas escolares;, disse Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios.

Liderança
Segundo ele, parte das pessoas que tinham aplicações em poupança mudaram a estratégia de investimento em busca de títulos públicos e outras aplicações de renda fixa que acompanham a trajetória da taxa Selic. ;Só na caderneta rural não houve mudança nos números, pois o perfil desse público é mais conservador e o volume nunca se altera muito;, afirmou Leite.

Com a captação do mês e o rendimento de R$ 2,1 bilhões, o saldo total da poupança alcançou R$ 381,2 bilhões. A maior parte dos recursos, R$ 130,6 bilhões, está depositada na Caixa Econômica Federal ; líder nesse mercado desde outubro de 2009. Segundo a instituição, são 300 mil clientes por mês em busca da poupança. ;A poupança da Caixa já registra mais de 41 milhões de contas ativas;, afirmou Fábio Lenza, vice-presidente de Pessoa Física do Banco. (VM)

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