postado em 09/02/2011 08:24
As imobiliárias estão se aproveitando da substituição de cerca de 22 mil cargos comissionados e da perspectiva de aumento do auxilio-moradia pago aos servidores públicos federais, deR$ 1,8 mil para R$ 2,3 mil, para reajustar os preços dos aluguéis em até 58%. Para os inquilinos cujos contratos se encerram neste início de ano, as empresas impõem uma condição: ou o morador aceita ou sai da residência.
Segundo as imobiliárias, os aumentos se devem à grande demanda nesta época do ano, intensificada não apenas pela troca do governo, mas também por conta da vinda de concursados para Brasília. Os reajustes, porém, só podem ser feitos quando o contrato de aluguel é encerrado. Durante a vigência do documento ; normalmente, de até três anos ;, o aumento é feito a cada 12 meses, geralmente com base no Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV), hoje em 11,5%. Só depois desse período, no caso de renovação, o valor pode ser revisto sem estar atrelado à variação da inflação. O consumidor deve ficar atento: o valor do aluguel, a multa por atraso, a duração da locação, a forma e o local de pagamento devem ser previstos contratualmente.
Abuso
Para quem precisa continuar na cidade, a opção, muitas vezes, é engolir o aumento e permanecer no imóvel, já que o abuso é generalizado. Esse foi o caso da antropóloga comissionada do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Luana Arantes, 30 anos. Natural de Belo Horizonte (MG), ela está em Brasília há cinco anos e, agora, com o fim do contrato de aluguel, recebeu a notícia de que o valor vai passar de R$ 1,6 mil para R$ 2,1 mil, avanço de 31%.
No acumulado de 2008 a 2010, o aumento havia chegado a 8%. ;Procurei outras casas, mas, como está tudo muito caro, decidi continuar no imóvel. Os aumentos são abusivos e não condizem com a realidade econômica do país;, criticou Luana, que recebe R$ 1,8 mil de auxílio-moradia. Atualmente, pela lei, esse benefício é limitado a 25% do valor do cargo em comissão. ;O que passar disso terei de tirar do bolso;. O consultor Rafael de Castro, 31 anos, também é vítima da especulação imobiliária. Com o fim do contrato de três anos de aluguel, o valor passará de R$ 1.770 para R$ 2.800, aumento de 58%. ;Vamos sair. O prédio não tem piscina, academia, nada. O condomínio, que custa R$ 440, também vai aumentar;, reclamou.
O servidor público Luiz Carlos Cury, 54 anos, preferiu se mudar. Depois de enfrentar uma escalada de aumentos com as mudanças contratuais, pesquisou o mercado e decidiu ir para outra cidade. Neste fim de semana, ele vai deixar uma quitinete no Sudoeste, pela qual teria de pagar R$ 950 a partir de março, incluindo condomínio, para morar numa casa com dois quartos, sala, cozinha, banheiro e garagem no Cruzeiro. ;Vou desembolsar R$ 1,2 mil, mas terei mais conforto. Quando os contratos terminam, os preços ficam excessivos e não é possível permanecer;, disse Cury.
O diretor comercial da imobiliária Beiramar, Pedro Fernandes, argumentou que, nos últimos anos, os reajustes dos índices de aluguel foram baixos e não acompanharam a inflação. Agora, com a grande procura por imóveis, as empresas aproveitam para adequar os valores. ;Os reajustes variam entre 20% e 30%. Por semana, 120 clientes se acumulam na fila de espera, em busca de imóveis, principalmente na Asa Sul, na Asa Norte e em Águas Claras;, disse.
Generalizado
De acordo com Ubiratan Amaro da Silva, corretor de imóveis e proprietário da Invicta Imóveis, os aumentos também estão presentes em localidades como Guará, Riacho Fundo e Park Way. ;O que custava R$ 500 passou para R$ 800. Mesmo assim, a média é de 20 dias para fechar um negócio;, disse. ;Buscamos negociar, mas Brasília, de fato, tem os preços mais elevados;.
Nas contas do vice-presidente do Sindicato de Habitação do Distrito Federal (Secovi-DF), Ovídio Maia, os reajustes variam entre 30% e 40%. Ele observou que, com a troca de governo, cerca de 30% dos cargos são substituídos. Deputados trazem familiares e assessores. ;É uma particularidade da nossa economia. Em Brasília, todo mundo quer morar na zona central, e os aumentos obedecem à lei de procura e oferta. Não vejo uma atuação abusiva;, avaliou. Ele lembrou que a situação para conseguir imóveis na capital está tão difícil que até quem não precisa pagar precisa entrar na fila. Atualmente, mais de 250 deputados estão na lista para receber um dos 300 apartamentos funcionais da Câmara.
Responsável pela área de aluguel da imobiliária Executiva, Graciene de Souza Vicente disse que os valores estão muito defasados. Se o inquilino é um bom pagador, pode até haver uma negociação. Mas, em geral, os preços estão subindo. ;Um apartamento de dois quartos que alugávamos na Asa Sul por
R$ 862 vai ficar em R$ 1,3 mil. Começamos pedindo R$ 1,1 mil, mas começou a haver fila, e elevamos o valor;, contou.
Na avaliação do economista da FGV Salomão Quadros, no entanto, os aumentos têm a ver com a demanda, mas não são justificados por uma defasagem no IGP-M. ;Nos últimos cinco anos, os aumentos chegaram a 30%, seguindo a inflação. O mercado está aquecido, mas os índices não ficaram desatualizados;, afirmou.
Construção também encarece
As construções e as reformas ficaram mais caras em janeiro. A inflação medida pelo Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) foi de 0,27% no mês, mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou 0,01 ponto percentual acima do registrado em dezembro, quando a alta nos preços foi de 0,26%. O custo por metro quadrado foi de R$ 768,44, ante os R$ 769,06 em dezembro de 2010. Em janeiro, a parcela referente ao material de construção somou R$ 436,29, enquanto a da mão de obra ficou em R$ 332,15. O item referente ao material de construção apresentou variação positiva de 0,32% em janeiro, uma queda de 0,11 ponto percentual ante a taxa de dezembro (0,43%). O custo da força de trabalho, por sua vez, subiu 0,15 ponto percentual no período, passando de 0,05% para 0,20%.