Economia

Juros nas compras parceladas no varejo chegam a 238,3%

Vera Batista
postado em 10/02/2011 08:25
Os juros de quase todas as linhas de crédito tiveram aumento em janeiro. A exceção foi a do cartão de crédito rotativo, que já está em 10,69% ao mês, o equivalente a 238,30% ao ano, desde junho de 2000. O comércio cobrou de quem foi às compras, na média, 6,85% ao mês (121,46% ao ano), numa alta de 0,88% em relação a dezembro. Segundo estudo da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), essa é a maior taxa desde junho de 2010.

A alta ocorreu em consequência de três medidas do Banco Central: elevação da taxa básica de juros (Selic), aumento dos depósitos compulsórios dos bancos e alta dos juros para operações de crédito com prazos superiores a 24 meses. Em janeiro, os juros no comércio subiram 1,76%. As taxas do cheque especial cresceram 0,79%. O CDC dos bancos (para financiamento de automóveis) aumentou 2,50%. O empréstimo pessoal bancário e o das financeiras tiveram, respectivamente, elevação de 1,68% e 0,48%.

Direção certa
O vice-presidente da Anefac, Miguel Oliveira, salientou que as taxas de juros estão em níveis elevados no país, pelo baixo volume de crédito disponível, que representa hoje 46,6% do Produto Interno Bruto (PIB), quando a média internacional passa de 100%. E também pelos custos que incidem sobre as taxas. ;O governo foi na direção certa para conter a pressão inflacionária. Melhor fazer isso agora do que deixar a inflação corroer o salário dos cidadãos de baixa renda;, argumentou. Ele prevê que o crédito vai continuar crescendo, apesar da expectativa de alta nos juros de 15% a 20% até o fim do ano.

A aposentada Nair Motta, 60 anos, sentiu a diferença no bolso. Ela procurava um colchão novo, mas entrou e saiu de várias lojas, em busca do melhor preço. ;Ainda não dá para julgar o novo governo ou criticar de cara essa alta dos juros. Tem que esperar para ver. Se o custo de vida aumentar, o segredo é pesquisar muito antes de comprar;, disse. Nair também observava atentamente o valor dos eletrodomésticos expostos na vitrine e se assustou ao descobrir que, conforme a pesquisa da Anefac, os artigos para o lar subiram 1,30%.

O espanto do agrônomo Igor Kawamura, 27 anos, foi ainda maior ao constatar que os eletroeletrônicos aumentaram 2,06%. Ele gasta cerca de R$ 1.500 por mês com a inovação tecnológica de seus equipamentos. ;Aproveito oportunidades, como compras sem juros e sem entrada, ou como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), no início de 2010;, afirmou.

A bancária Denise Botelho, 46 anos, garantiu que não é consumista. ;Não vou pelo embalo e nem compro por impulso. Gosto de comprar roupa boa e barata, principalmente em grandes lojas, onde acho tudo ao mesmo tempo;, disse. Mas foram nas grandes redes, destacou Oliveira, onde os preços mais aumentaram (2,91%). Nas médias e pequenas, alta foi de 1,77% e 1,72%, respectivamente.


Calote sobe 24,8%

Paula Takahashi

A enxurrada de crédito que inundou o mercado no ano passado revela um dado não muito animador: a elevação da inadimplência. Em janeiro, o índice de maus pagadores subiu 24,8% em relação ao mesmo período do ano passado, maior crescimento anual registrado pela Serasa Experian desde julho de 2002. Apesar da forte escalada, o calote desacelerou entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, apresentando queda de 3,3%, movimento que, para os especialistas, atesta que o índice ainda está controlado.

Para o assessor econômico da Serasa Experian Carlos Henrique de Almeida, o comportamento do Indicador de Inadimplência do Consumidor no último ano pode ser explicado pela conjuntura econômica. ;Com os efeitos da crise de 2009, o consumo foi represado. Com o movimento de recuperação no segundo semestre daquele ano, as pessoas entraram 2010 com disposição para se endividar;, ponderou. ;A geração recorde de emprego formal, o câmbio depreciado, os incentivos do governo ao consumo com isenções fiscais e a maior oferta de crédito criaram o cenário ideal para o consumo, o que justifica essa variação próxima de 25%.;

A interrupção, em janeiro, dos oito aumentos sucessivos de escalada do índice de inadimplência da Serasa, iniciados em maio do ano passado, são apontados por Almeida como um dado importante. ;Isso mostra que o crescimento não era consistente;, avaliou. Na decomposição do índice, os cheques sem fundos foram os principais responsáveis pelo recuo mensal, com queda de 13,4%. Mas o arrefecimento não deve se manter por muito tempo. Em março, há uma tradicional alta do calote. ;O mês concentra o fim dos pagamentos de impostos, como o IPVA, além de despesas escolares. Este ano, ainda existe o agravante do Carnaval, período em que as pessoas gastam muito.;

Bom momento
Ainda que as projeções apontem para um cenário desfavorável para que o consumidor honre suas dívidas, o economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte Fernando Sasso pondera que a economia vive um bom momento. ;Temos uma série de fatores positivos, como elevação do nível de emprego e renda, que dão mais condições para as pessoas quitarem seus débitos;, observou.

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