postado em 11/02/2011 08:27
Fábio MonteiroO churrasco do fim de semana, diversão tradicional do brasiliense, vai ficar cada vez mais caro. Os pecuaristas avisam que os preços da carne bovina continuarão em ascensão no varejo, depois da alta recorde de 2010. Nos últimos 12 meses, as carnes subiram 45% em média, num nível sete vezes e meia maior que a inflação no período, de 5,99%. Segundo os produtores, as tabelas permanecem nas alturas por causa do forte consumo mundial e dos custos crescentes de produção. Para piorar a situação, a pecuária nacional está mudando o perfil com vista a atender exigências ambientais, sanitárias e trabalhistas da clientela internacional, o que resulta em encargos extras.
;O bife de boi está deixando de combinar com o prato do brasileiro, com arroz e feijão, e se tornando um artigo de luxo;, admite Ademar Silva Júnior, vice-presidente de Finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A associação de empresários do campo sugere uma mudança no cardápio nacional típico, que passaria a incluir mais peixes, porcos e cordeiros.
O diretor da CNA explica que os pecuaristas buscam melhorar as margens de lucro reforçando as exportações para mercados que pagam mais, sobretudo a União Europeia (UE). Além disso, a contínua elevação da renda do trabalhador nos últimos anos vem levando o próprio consumidor doméstico a optar por cortes nobres de carne bovina, o que também pressiona os preços para cima.
;A elevação dos preços é, portanto, uma realidade de mercado, que escapa ao nosso controle, assim como a taxa de câmbio e as cotações internacionais de itens agrícolas;, assinala Silva. Ele ressalta, contudo, que a maior parcela dos lucros com o encarecimento da carne vermelha fica com o varejo. Os ganhos dos exportadores são limitados pelo real forte, que atrapalha as vendas externas.
Hábitos
Apesar do encarecimento do produto, o consumidor de Brasília promete manter, até onde for possível, os hábitos à mesa. Segundo levantamento do Correio, a escalada de preços da carne na cidade chegou, nos últimos 12 meses, a 85%, no caso do cordeiro. A aposentada Edna Martins, 57 anos, tem sentido no bolso os reajustes. ;Em novembro e em dezembro, os preços estavam um absurdo. Parece que agora deram uma aliviada, mas ainda assim está muito caro;, reclama.
Maria da Consolação, 69 anos, até gostaria de variar o cardápio, mas não porque os produtores estão sugerindo isso. ;Não adianta. Todas as carnes estão muito caras;, sentencia. Mais flexível, a estudante e dona de casa Consuelo Borges, 35, tem preferido levar frango para casa. ;Mesmo o preço do frango está abusivo. Acho que o jeito vai ser comprar no Entorno, que é mais barato;, sugere.
Insumos
Famílias que têm a carne vermelha como principal fonte de proteínas devem enfrentar problemas em breve. Segundo o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, Antenor de Amorim Nogueira, a disparada dos preços de insumos teve especial impacto no valor da carne in natura ; os minerais para a alimentação do gado subiram até 100% em 12 meses. ;Até tento procurar outras opções, mas nada substitui a carne vermelha;, revela a dona de casa Adriana Carvalho, 38 anos.
Para os resistentes, a situação ficará complicada, pois os preços devem chegar a níveis inéditos. ;A gente já sente no bolso os reajustes. Quem não desiste de carne vermelha vai logo deixar de comprar outras coisas, como biscoitos ou enlatados, para compensar;, prevê o funcionário público Éder Gomes, 40 anos.
Melhora da imagem
O setor brasileiro de carnes, líder mundial em produção e exportação, quer melhorar a imagem, ainda afetada por questões sanitárias que surgiram em 2006, com a ocorrência da febre aftosa. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) anunciou ontem a realização de um megaevento internacional em Mato Grosso do Sul, em junho, numa investida de marketing de empresários, entidades e governos.
Os produtores já comemoram o recente reconhecimento, por parte da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), de 13 municípios que compõem a Zona de Alta Vigilância (ZAV) como área livre de febre aftosa com vacinação. Mas acham que existe muito a aprender com as experiências da Austrália e da Argentina ; o país vizinho vai passar a importar carne brasileira.
Segundo o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, Antenor de Amorim Nogueira, os produtores seguem a estratégia de consolidar padrões elevados de qualidade e sustentabilidade como marcas do Brasil, rumando para uma produção mais contida, cada vez mais baseada em currais (intensiva) e menos em pastos (extensiva). ;Estamos empenhados em elevar a produtividade sem abrir áreas e com o desmatamento zero previsto pelo novo código florestal;, afirma.
Quotas
A CNA informa que o confinamento deve subir ao longo deste ano de 2 milhões para 3 milhões de bovinos. O número ainda é pequeno para o tamanho do rebanho nacional, o maior do mundo, com 200 milhões de cabeças. Nogueira descarta pressão maior sobre os preços domésticos em razão do consumo externo, que representa 18% da produção brasileira. ;Podemos facilmente produzir mais para exportar para a Europa, tão logo aumentem as quotas para o Mercosul. Saltaríamos com rapidez de 44 mil toneladas para 210 mil;, atesta.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Eduardo Riedel, lembra que a decisão do governo argentino de bloquear exportações de carne para conter o avanço nos preços domésticos levou a redução do rebanho de 50 milhões para 40 milhões de cabeças, desestimulando produtores. (SR e FM)