Economia

Juros nas parcelas das compras a prazo ficam 9% mais caro em janeiro

Vera Batista
postado em 11/02/2011 08:33
O consumidor pode preparar o bolso. Comparados ao ano passado, os juros em 2011 irão pesar nas compras parceladas. O Banco Central impôs um freio à gastança do brasileiro com medidas restritivas ao crédito e as taxas médias entre dezembro e janeiro, até o dia 25, passaram de 40% ao ano para 49%. Com esse encarecimento, a busca por financiamentos no período caiu de R$ 700 milhões para R$ 580 milhões ; um recuo de 17,1%. Essa desaceleração, segundo especialistas, é reflexo das medidas prudenciais anunciadas pela autoridade monetária no início de dezembro, quando o BC anunciou restrições à tomada de crédito.

Para a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o brasileiro se empolgou, exagerou nas compras de dezembro e, apesar do alerta dos especialistas, esqueceu de reservar dinheiro para as contas, taxas e impostos do início do ano. A consequência foi a alta de 5,03% no nível de inadimplência em janeiro ante a baixa de 4,49% registrada no mês anterior, de acordo com o Indicador de Inadimplência CNDL/SPC Brasil. Na avaliação do vice-presidente da CNDL, Vitor Koch, o calote continuará evoluindo em fevereiro e ao longo de 2010. ;Mas sem descontrole ou explosão. De início, os números preocuparam, mas está tudo dentro do esperado;, assegurou.

Impacto
O Banco Central, ainda no ano passado, prevendo esse avanço da inadimplência em 2011, anunciou medidas restritivas que influenciaram o custo e os prazos das concessões de crédito. O resultado direto dessa resolução começou a aparecer em janeiro, com um menor ritmo das operações. Carlos Hamilton de Araújo, diretor de Política Econômica do BC, durante a divulgação de um boletim econômico da Bahia, celebrou a eficácia das medidas e disse que elas ainda terão impacto sobre a inflação.

Segundo a apresentação dele, ;a dinâmica recente de prazos, preços e volume de concessões sugere eficácia das ações macroprudenciais introduzidas no início de dezembro, como elemento de contenção da demanda agregada;, afirmou. A despeito das declarações de Araújo, de que será possível frear a inflação por meio de restrições ao crédito, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou janeiro com alta expressiva de 0,83%. Para Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), os efeitos dessas medidas ainda se farão sentir enquanto política monetária. ;Elas foram um ajuste fino;, ponderou.

IGP-M acelera
O Índice Geral de Preços ; Mercado (IGP-M), usado para reajustar contratos de aluguel, começou o mês em aceleração. A prévia do indicador, divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), registrou alta de 0,60% nos primeiros dez dias de fevereiro. No mesmo período do mês passado, a taxa havia ficado em 0,42%. A elevação foi puxada pelos preços dos produtos no atacado e também pelo encarecimento do transporte e dos alimentos.

Reservas de US$ 300 bi

As reservas internacionais brasileiras chegaram ao seu maior patamar após, na última quarta-feira, serem engordadas em US$ 478 milhões. O incremento levou o ;colchão
anti-especulação; do Banco Central aos US$ 300,2 bilhões ; montante nunca antes registrado. O número foi divulgado ontem pela autoridade monetária que, apenas neste ano, comprou US$ 11,7 bilhões no mercado à vista: o que é quase todo o volume de dólares que ingressou na economia no mês passado e que se apresentava como fator de pressão pela desvalorização da divisa norte-americana frente o real.

Na avaliação de especialistas, não fossem as pesadas
intervenções do BC, o dólar estaria abaixo dos R$ 1,60, um nível que não é tolerável pelo governo e pelo setor produtivo nacional. Comparadas com o início de 2010, as reservas neste ano estão 24,5% maiores que as registradas em fevereiro do ano passado.

Enquanto o governo não conseguir promover uma redução expressiva da taxa básica de juros (Selic) e o mundo continuar com excesso de liquidez, o Brasil irá receber uma enxurrada de capital estrangeiro que vai continuar a derrubar a cotação do dólar. Ontem, após mais atuações do BC, a moeda norte-americana fechou em alta de 0,6%, cotada a R$ 1,671 na venda e a R$ 1,669 na compra. (VM)

Idec vê desrespeito

Fábio Monteiro

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) analisou administradoras de cartões de crédito e concluiu que todas
elas ; 14 no total ; possuem em seus contratos cláusulas abusivas e que desrespeitam o Código de Defesa do Consumidor. A pesquisa realizada pelo Idec aponta problemas recorrentes de vencimento antecipado de débitos atrasados, alterações unilaterais de contrato, cobrança indevida de tarifas, entre outros problemas.

Além disso, as empresas pesquisadas não apresentam ao consumidor informações básicas sobre taxas de juros cobradas. Pior: fazem com que os clientes busquem tais informações. ;Tal prática é considerada inversão de responsabilidade, pois a divulgação prévia de tais dados fundamentais é obrigatória para a contratação do cartão;, explica a gerente jurídica do Idec, Maria Elisa Novais.

Outro problema apontado pelo instituto é a falta de fiscalização no setor. No fim do ano passado, o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional (CMN) divulgaram novas regras para os cartões de crédito, mas, para o Idec, ainda são insuficientes. ;Elas (as regras) não trazem, por exemplo, vedações ou penalidades no caso de cláusulas abusivas;, lembra a gerente jurídica. ;Além disso, a resolução não menciona a fiscalização de seu cumprimento pelo Banco Central, sequer a partir de quando os contratos deverão estar adaptados à nova regulamentação;, questiona Novais.

A avaliação das empresas foi dividida em três partes: análise das cláusulas e práticas abusivas; desrespeito ao direito à informação clara e adequada; e limitações dos direitos dos consumidores garantidos em regulamentações além do Código de Defesa do Consumidor.

Eike perde R$ 11,7 bi

Rosana Hessel

As empresas do grupo EBX, do empresário Eike Batista, registraram perda de R$ 11,7 bilhões ; o equivalente ao faturamento de duas Gol (R$ 6,025 bilhões em 2009) ; desde o início do ano. Ou seja, valiam R$ 87,2 bilhões no fim de 2010, e, até 9 de fevereiro, a somatória do valor das ações de MPX Energia, MMX Mineração, MPX Energia, OGX Petróleo, OSX Brasil, LLX Logística e PortX despencou para R$ 75,4 bilhões, conforme o relatório da consultoria Economatica divulgado ontem.

;A empresa com a maior queda de valor de mercado nominal foi a OGX, com desvalorização de R$ 9,5 bilhões. A ação ordinária (com direito a voto) da companhia caiu 14,8%. A MMX, com retração de 18,7%, teve a maior diminuição em termos percentuais e a segunda em valor (R$ 1,2 bilhão);, informou o economista Einar River, autor do estudo. Segundo ele, das seis subsidiárias analisadas, somente a MPX teve rentabilidade positiva, com 21,9% de alta no valor das ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BMF).

Para alguns analistas, essa depreciação tem a ver com a desconfiança crescente em torno das empresas, ainda em fase embrionária, do grupo e da demora para demonstrarem bons resultados. ;Essa queda reflete o risco dos papéis das companhias de Eike Batista. Por enquanto, elas são um bom produto de marketing, mas ainda não produzem nada;, comentou o economista da corretora Prosper Demetrius Lucindo.

O EBX evitou comentar as causas da queda do valor das ações. Em nota, informou que as companhias de capital aberto da corporação nos últimos doze meses tiveram um ganho de 8,72% e que até ontem valiam R$ 78,1 bilhões contra R$ 71,8 bilhões em 10 de fevereiro de 2010. ;As companhias do grupo estão devidamente capitalizadas e vêm cumprindo seu plano de negócios em dia;, informou.

Em meio aos boatos de que Batista iria se desfazer dos ativos e de que estaria doente, o empresário convocou às pressas uma conferência com os investidores anteontem. Os anúncios de que as companhias do grupo começarão a gerar caixa ainda este ano e que o OGX irá produzir petróleo em agosto ajudaram a elevar os papéis na bolsa nos últimos dois dias, avaliou o assessor da corretora TOV, Breno Carlos. ;As notícias proporcionaram uma leve reversão das perdas ;, afirmou.

Ibovespa tem alta de 0,56%
Dados melhores que o esperado sobre a economia americana e o bom desempenho dos papéis de Petrobras e Vale deram fôlego à Bolsa de Valores de São Paulo. O Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas, fechou em alta de 0,56%, nos 64.577 pontos. Os investidores ainda repercutem o anúncio do corte de R$ 50 bilhões do Orçamento Geral da União, para 2011. O mercado especulou também sobre uma possível fusão entre a Bolsa de Nova York e a de Frankfurt para a criação de um novo operador mundial de valores.

Defesa da inclusão do iuan
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, pediu ontem que o iuan tenha uma importância maior como parte de uma ampla reforma no sistema monetário internacional. Em discurso, Strauss-Kahn disse que adicionar moedas de países emergentes, como o iuan, à cesta de divisas que o FMI administra pode aumentar a estabilidade do sistema mundial. O chefe do FMI disse que, sem mudanças no sistema global, o mundo pode estar plantando as sementes da próxima crise econômica. Segundo ele, os desequilíbrios econômicos globais estão de volta, e questões como fluxos voláteis de capital, pressões cambiais e excesso de reservas soberanas estão ameaçando a estabilidade. ;Na minha opinião, reformas no sistema monetário internacional que ajudem-nos a chegar à raiz desses desequilíbrios podem impulsionar a recuperação e fortalecer a capacidade do sistema em prevenir crises futuras;, declarou Strauss-Kahn.

Produção instável

Gabriel Caprioli

O faturamento recorde registrado pela indústria de transformação no ano passado foi suficiente para recuperar a queda de 2009, mas não deve afastar o risco que a importação representa para o parque industrial brasileiro. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as vendas cresceram 9,9% em 2010, quando comparadas ao ano anterior, e 5,1% em relação a 2008. Em dezembro, no entanto, houve recuo de 0,6% sobre novembro, efeito do avanço quatro vezes maior das compras externas.

Para o gerente executivo de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, a alternância entre crescimento e queda do faturamento, observada na indústria nos últimos meses, mostra que alguns setores mais expostos à concorrência externa já foram afetados. ;É polêmico falar em desindustrialização geral, mas se você tem um crescimento de quase 10% da indústria e de 40% das importações, fica evidente que haverá riscos setoriais;, comentou.

Os segmentos que mais sofrem, na avaliação de Castelo Branco, são os que fabricam partes e peças. A substituição de produtos nacionais desse tipo atinge grandes cadeias produtivas, como a de automóveis. ;Os estágios intermediários, ou seja, as indústrias menores que abastecem as montadoras se enfraquecem;, completou. Apesar das importações, a previsão do executivo para o ano ainda é de crescimento de 4,5%, tanto para a indústria de transformação quanto para o Produto Interno Bruto (PIB) total.

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