postado em 20/02/2011 11:30
>> Fàbio Monteiro Uma linha de crédito emergencial que se transformou em hábito para a maioria dos trabalhadores brasileiros. Essa talvez seja a definição mais adequada do cheque especial, nome dado ao volume fixo de recursos posto à disposição pelos bancos para os correntistas. Apesar das altíssimas taxas de juros, que variam até seis vezes de uma instituição para outra, muitas pessoas continuam penduradas nessa modalidade de crédito. O resultado não poderia ser outro: o número de endividados é cada vez maior.
A praticidade na contratação é um dos principais motivos para o elevado uso do instrumento. Segundo o Banco Central, a média diária de concessões em 2010 ultrapassou a marca de R$ 1 bilhão. O brasileiro fica, em média, 22 dias por mês no cheque especial. Os dados são assustadores, principalmente se for considerado quanto os principais bancos cobram. No Citibank, o campeão dos juros, a taxa é de 10,05% ao mês, equivalente a 215,55 % ao ano.
De acordo com o diretor de Educação Financeira da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Fábio Moraes, o limite deve ser utilizado apenas em emergências. Usá-lo como parte do salário pode ser perigoso. ;Quem entra no cheque especial e começa a contar com ele perde a autonomia. Eventuais imprevistos podem aparecer e endividar ainda mais o cliente;, explica. Ainda segundo Moraes, o ideal é que o consumidor faça uma poupança para os momentos críticos. ;Sugerimos que se faça uma poupança que dê uma margem compatível com o custo de vida e com gastos eventuais.;
Rotina
Uma vez atolado, o desafio é sair do lodaçal. O comerciante José Dias Júnior, 43 anos, já utiliza o mecanismo há mais de 10 anos e considera o crédito extra como parte integrante da renda mensal. ;A gente recebe o pagamento e já vai confiando. Acaba que vira uma rotina e não percebemos;, confessa. O dinheiro acaba custando caro para o bolso de Júnior. ;Já cheguei a pagar quase R$ 200 de juros.;
Sabendo dos riscos, a técnica em enfermagem Maria das Graças Brasil, 56 anos, decidiu quitar sua dívida e quer cancelar o cheque especial. ;Eles cobram muito caro. A primeira vez que usei foi em uma emergência. Mas, devido aos gastos da família, a gente acaba utilizando mais do que gostaria;, relata.
Dependendo do volume de gastos do cliente, os bancos costumam aumentar o limite sem aviso prévio. Muitas vezes, ele recebe a surpresa do novo crédito quando consulta o extrato. A estudante de administração Swellen Moura, 21 anos, diz que ficou aliviada após cancelar o cheque especial. ;Aumentaram o limite duas vezes e chegou um momento em que eu não conseguia mais pagar;, lamenta. Ela precisou da ajuda da família para quitar a dívida. ;Agora, estou bem mais tranquila.;
Prejuízos
O presidente do Instituto DSOP de Educação Financeira, Reinaldo Domingos, orienta o cliente endividado a procurar o banco, substituir o débito por outro com juros mais baixos e cancelar o limite. A demora, segundo ele, pode causar sérios prejuízos. ;Temos estudos que mostram que, a cada sete meses, o rombo pode dobrar. É preciso refinanciar e cancelar o crédito o quanto antes;, recomenda.
Para ele, a perseverança do cliente é essencial no processo de readequação financeira. ;O importante é combater a causa e não o efeito. Não adianta tomar medidas paliativas, é preciso mudar hábitos e padrões de vida para não ficar devendo na praça. Não é fácil;, analisa.
O sucesso do consignado
; Além do gasto excessivo com o cheque especial, o crédito consignado (com desconto no contracheque do empregado ou do servidor público) também teve uma alta considerável nos últimos anos. O volume de concessões dessa modalidade de crédito aumentou em cerca de R$ 30 bilhões entre 2009 e o ano passado. Houve expansão até mesmo entre os trabalhadores da iniciativa privada, que enfrentavam alguma dificuldade para conseguir o crédito porque podem ser demitidos em qualquer momento. Para eles, foram concedidos empréstimos de quase R$ 20 bilhões em 2010, contra R$ 15 bilhões em 2009.