Economia

Com R$ 2,2 tri, despesa do brasileiro sustenta crescimento de 7,5% do PIB

postado em 04/03/2011 07:00
Embora assustados com os cortes no Orçamento do governo e a suspensão das nomeações, Selmiro e Sônia levaram para casa uma TV por R$ 1.599Animados com a pujança da economia, com mais dinheiro no bolso e confiança no futuro, os brasileiros foram às compras, lotaram as lojas, viajaram e utilizaram mais serviços em 2010. Motor da economia no ano passado, o consumo das famílias cresceu 7% em relação a 2009 ; pela sétima vez consecutiva ;, mostraram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem. A criação de 2,5 milhões de empregos formais e a elevação de 8,2% na massa real de salários, ao lado da expansão do crédito, sustentaram o ritmo de gastos. A participação do orçamento familiar, que chegou a R$ 2,226 trilhões no ano, já representa 60,6% do Produto Interno Bruto (PIB) pelo lado da demanda. Já o PIB per capita ficou em R$ 19.016 ; um salto de 6,5% em relação a 2009. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comenta o avanço do PIB a preços de paridade e poder de compra (PPP) Os gastos das famílias avançaram 2,5% no quarto trimestre de 2010 ante o terceiro, e 7,5% na comparação com os últimos três meses de 2009. As expectativas dos economistas são de que a variável continue crescendo ao longo de 2011, porém de forma menos acelerada, por conta, principalmente, das medidas de aperto fiscal e monetário do governo. O economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), projetou alta de 7,2% do varejo neste ano, ante os 10,9% verificados em 2010. ;No ano passado, as vendas registraram recorde para a década. Mas, agora, é difícil esse resultado se repetir, pois devemos observar um crescimento mais modesto da economia como um todo;, avaliou. Como uma das principais contribuições para o avanço do consumo, Bentes destacou a oferta de empréstimos, que também tende a ser mais moderada neste ano. Até porque, com o aumento dos preços, o nível de endividamento da população pode aumentar. ;As apostas são de uma expansão bem menor. O crédito ao consumidor cresceu 21,5% em 2010. Para este ano, a previsão é de 6,5%, devido ao aumento das taxas de juros;, destacou. Cuidado Mas, no que depender do músico Ebenézer Jamyl Lourenço Gouveia, 28 anos, e da professora Bruna Porfírio, 25, a roda do consumo vai continuar girando em ritmo acelerado em 2011. Casados há um ano, eles estão mobiliando toda a residência e, ontem, aproveitaram a tarde para adquirir um micro-ondas de R$ 229. No fim do ano, já haviam gasto cerca de R$ 3 mil com geladeira e móveis para sala e quarto. ;Estamos dispostos a comprar. Mas sempre pesquisamos bastante e, quando não podemos pagar à vista, dividimos em, no máximo, seis vezes sem juros, para controlar os gastos;, contou Ebenézer. Embora tenham engrossado as estatísticas do PIB em 2010, o aposentado Selmiro Elias Moreira, 53 anos, e a dona de casa Sônia Nunes Moreira, 48, pretendem ser mais cautelosos neste ano. Em uma viagem recente, compraram artigos como máquina de fazer pão, cafeteira, batedeira, secador de cabelo e celulares. Ontem, eles compraram ainda uma televisão por R$ 1.599. Mas garantem que o momento é de apertar o cinto. ;Não temos muita esperança em relação à economia. O governo começou a cortar gastos, inclusive com a suspensão de concursos e nomeações, e as pessoas devem ter mais cuidado na hora de colocar a mão no bolso;, alertou Selmiro. No fim do ano, o Banco Central mostrou preocupação com o quadro inflacionário e tomou medidas batizadas como prudenciais ; entre elas o aumento das exigências para as operações de crédito a pessoas físicas com prazos superiores a 24 meses. Na prática, os requisitos de capital para esses financiamentos subiram de 11% para 16,5%. Para a maioria dos especialistas, o limite de crescimento de um país sem levar à inflação elevada está entre 4% e 4,5% ao ano. Como se as ações do BC não bastassem, nesta semana o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou, pela segunda vez no ano, a taxa básica de juros (Selic) de 11,25% para 11,75% ao ano. Para analistas, a autoridade monetária apenas reforçou a sua preocupação em desatar o nó econômico herdado pela presidente Dilma Rousseff.

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