postado em 20/03/2011 18:01
Comprar um apartamento é o sonho de muitos brasileiros. Na hora de escolher, cada detalhe conta. Para mostrar essas qualidades aos consumidores, as construtoras têm utilizado técnicas de venda bem precisas. Entre elas está a maquete. Uma réplica perfeita do que será o empreendimento depois de construído, ela tem todos os elementos para encantar os compradores. Com o boom da construção civil, os maquetistas ; como são conhecidos os artistas desses trabalhos ; estão mais requisitados no mercado. Segundo profissionais do setor, cada relíquia custa, em média, entre R$ 5 mil e R$ 90 mil. E os salários para um funcionário com carteira assinada podem chegar a R$ 6 mil. Já os que trabalham por conta própria têm condições de ampliar esse valor de acordo com o número de maquetes feitas.Para o trabalho, não é preciso ter formação de nível superior. Basta ter o dom de transformar plantas riscadas no papel em um miniprédio com todas as especificações fornecidas por um arquiteto. ;O requisito mínimo é que a pessoa conheça os projetos de edificações, que saiba transformar os números em imagens físicas. Os clientes não conseguem ler as plantas, os maquetistas precisam transcrever isso para eles;, explica o professor de arquitetura e especialista em maquetes Ivan do Valle, da Universidade de Brasília (UnB). Mas como descobrir todas as especificações técnicas sem entrar em uma graduação como arquitetura, engenharia, desenho industrial ou design de interiores?
Os cursos na área são escassos. A maioria dos profissionais entrou para o mercado das maquetes por ter o dom e muito interesse em pesquisar e aprender. Mesmo sem ser parentes, Adilson Ribeiro, 38 anos, e Adail Ribeiro, 45, não têm apenas o sobrenome em comum. A forma de aprender e se tornar conhecidos no mercado de maquetes também os torna semelhantes. Adilson aproveitou a oportunidade de emprego em uma empresa da construção civil como auxiliar de escritório para aprender tudo sobre o setor e ingressar em um novo mercado. Já Adail passou a infância catando lixo para sobreviver. Unindo pedaços de papelão, descobriu uma aptidão especial: a de fazer edificações em escalas menores que as originais.
Outro ponto convergente entre eles é a perseverança. ;Aprendi a ler projetos com arquitetos e engenheiros na empresa em que trabalhei. Hoje sei todas as escalas, os recursos, a linguagem. Posso construir qualquer maquete apenas com os projetos em mãos;, relata Adilson. Adail, por sua vez, precisou procurar a ajuda de um professor. ;Fazia miniaturas em papelão e presenteava pessoas da empresa em que trabalhava. Um dia, um engenheiro viu meu trabalho e pediu para montar um projeto dele. Fiz e ele me pagou pelo serviço. Depois de receber o cheque ; em um valor muito superior ao meu salário da época ;, pensei: Esse é o ramo para ganhar dinheiro. Foi aí que procurei o professor Vladimir Rosa, da UnB, e consegui adquirir muito do que sei hoje;, conta Adail.
Se a curiosidade levou os dois a perguntar, especular e se aperfeiçoar, encaminhou-os também até o momento em que abriram suas próprias empresas (ambas em Planaltina) e ensinaram seus familiares para serem seus funcionários. O ex-auxiliar de escritório agora é dono da Brasil Maquetes e cursa o segundo semestre de arquitetura. O ex-catador de lixo é proprietário da Maquetes Mundial, empresa que produz miniaturas para regiões como Águas Claras, Setor Noroeste, e chega até a exportar serviços. ;Estou firmando um contrato com Angola, na África;, orgulha-se Adilson Ribeiro. Adail viajou a Israel e, além de aproveitar para aperfeiçoar as técnicas em seminários, mostrou o que a empresa dele tem de portfólio. ;A todo lugar que vou, levo as fotos dos meus trabalhos e tento convencer as pessoas;, afirma.
Mercado
A perspicácia de Adilson e Adail pode ajudar a mudar um mercado ainda criticado por muitos. As construtoras do DF sentem falta de mão de obra especializada local que dê conta de todas as demandas. A gerente de engenharia e empreeendimento da imobiliária MarkImob, Lindiane Cardoso, admite que busca maquetistas em São Paulo e Belo Horizonte. ;Encontramos trabalhos de alto nível nesses estados. Mas são muito grandes e caros. Para se ter uma ideia, é necessário contratar um caminhão-baú para trazer uma maquete até Brasília. Ela precisa vir protegida, não pode chegar aqui com defeito;, lamenta.
Segundo Lindiane, encontrar as mesmas maquetes na capital seria um divisor de águas em seu trabalho. ;Facilitaria muito. Acredito que tem emprego para todo mundo aqui. Se houvesse uma formação lá em São Paulo e as pessoas viessem para cá, com certeza seriam bem remuneradas. Ou se cursos fossem criados aqui;, acredita a gerente.
O usual é os maquetistas aprenderem o ofício na prática, mas as universidades começam a abrir exceções e já oferecem boas alternativas. No próximo mês, a UnB abre curso de extensão para aqueles que querem aprender mais sobre maquetes, destinado a qualquer interessado (veja quadro acima). ;Nosso alvo é o pessoal da área, mas pedreiros, mestres de obras, carpinteiros e o público em geral podem participar;, explica a professora de projetos da UnB, Marcia Urbano Troncoso.
Setoristas
Para o sócio-diretor da Kenji Maquetes, em São Paulo, Sílvio Luís Borges, é possível descobrir o dom em um curso ou no próprio mercado de trabalho. Mas não precisa ser uma dádiva para construir um prédio inteiro. Os maquetistas também podem ser setoristas de áreas específicas, como acontece na vida real. ;Cada pessoa tem o dom para uma coisa. Aqui na empresa temos o paisagista da maquete, aquele que faz o acabamento, a pintura, é tudo dividido por setor. Depende da habilidade de cada um;, observa. De acordo com ele, é possível lucrar 30% do valor total do trabalho com essas divisões. Mas um profisisonal autônomo pode conseguir até 50%.
Curso de modelo reduzido
De 23 de abril a 11 de junho, na UnB
Investimento: R$ 750 (pode ser parcelado em até três vezes)
Inscrições: (61) 3272-2440 ou pelo e-mail webfau@unb.br