postado em 24/03/2011 07:00
O tranco no mercado de crédito dado pelo Banco Central no fim do ano passado foi maior do que o previsto. Além de deixar os empréstimos mais caros e de reduzir os prazos, as medidas prudenciais retiraram R$ 90,5 bilhões da economia, recursos que foram recolhidos como compulsórios em dezembro de 2010 e janeiro de 2011. O montante superou em 48,3% a projeção oficial de R$ 61 bilhões. Tamanho incremento nos cofres da autoridade monetária deixou o saldo dos depósitos obrigatórios em R$ 404,1 bilhões, um recorde. Ainda assim, a quantidade de dinheiro em circulação continuou grande. A estimativa do presidente do BC, Alexandre Tombini, é de que o crédito total se expanda 15% no ano. Se continuasse no ritmo de 2010, quando a concessão avançou 36,3%, os efeitos para a inflação seriam maiores. ;Um crescimento do crédito acima disso precisa ser acompanhado com cuidado para que a inadimplência não gere riscos excessivos ao sistema financeiro. Para este ano, 15% é adequado;, avaliou Tombini durante audiência pública no Senado na terça-feira.
Com esse enxugamento, o mercado espera também que a atividade desaqueça. Em janeiro, porém, vários indicadores que projetam o crescimento do país apresentaram aceleração. O último a ser divulgado, o da Serasa Experian, registrou 0,6% de incremento frente a dezembro. Pelo cálculo de alguns especialistas, não fosse a retirada de R$ 90,5 bilhões da economia, o país caminharia a taxas altas e a inflação incomodaria mais ainda, com o do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechando o trimestre acima de 2%.
;O Banco Central precisava dar uma segurada no crédito. Ele estava se expandindo a um ritmo muito forte. Foi útil para conter a demanda;, disse o diretor da consultoria JL Rodrigues, José Luís Rodrigues. Para o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, o enxugamento de R$ 90,5 bilhões foi suficiente apenas para retirar os estímulos dados à economia no período da crise. ;Devemos lembrar que, no fim de 2008, o BC liberou compulsórios em torno de R$ 100 bilhões;, disse. ;Com essa retirada, ficou no zero a zero.;
Ontem, o BC decidiu aliviar o compulsório dos bancos médios. Como em 2010 eles obtiveram bons resultados, o patrimônio de vários deles superou R$ 5 bilhões. Com isso, eles perderam o direito de fazer deduções nos depósitos. Para mantê-los capitalizados, o BC mudou a forma de cálculo, permitindo os descontos.