Economia

Transferência de multinacionais no Brasil para países-sede aumentou 130%

postado em 26/03/2011 08:58
O lamaçal deixado pela crise econômico-financeira nos países desenvolvidos transformou as filiais brasileiras de multinacionais em verdadeiras tábuas de salvação. Mesmo depois de passadas as turbulências mais graves, as matrizes continuam raspando o tacho dos ganhos obtidos por aqui. Nos dois primeiros meses do ano, as remessas de lucros e dividendos somaram US$ 4,6 bilhões, alta de 130% sobre o mesmo período de 2010. O retorno dos recursos às sedes foi um dos principais fatores responsáveis pela ampliação do deficit externo do país (saldo de todas as trocas comerciais e financeiras entre o Brasil e outros países). No mês passado, o resultado negativo foi de US$ 3,3 bilhões, o pior para meses de fevereiro na série iniciada em 1947 pelo Banco Central. Em relatório divulgado ontem, a instituição reduziu sua previsão para 2011 em US$ 4 bilhões e prevê o maior rombo da história: de US$ 60 bilhões.

Segundo o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos, as transferências tiveram o maior peso no rombo externo em fevereiro. ;Devido a essas remessas mais fortes do que prevíamos, o saldo nas transações ficou acima dos US$ 2,5 bilhões que projetávamos;, comentou. O rombo deve ser ainda maior em março, segundo o chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, que projeta deficit em transações de US$ 5,4 bilhões.

Para o estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, essa é uma tendência que vem sendo observada há alguns meses. ;Além de fundamentos econômicos que ainda compensam, o Brasil tem um diferencial de crescimento forte. Crescemos mais do que muitos outros países e é natural que isso amplie as remessas de lucros;, avaliou. A mesma avaliação foi feita por Maciel. ;O aumento reflete as entradas de Investimento Estrangeiro Direto (IED) nos últimos anos. Com a melhora da economia, essas empresas que foram beneficiadas pelos aportes externos agora revertem os ganhos ao exterior;, afirmou. O ingresso de IED em fevereiro chegou a US$ 7,7 bilhões, 175% mais do que em igual período do ano passado, totalizando US$ 10,683 bilhões no bimestre.

Dinamismo
O técnico destacou que o rombo nas contas externas, que, no primeiro bimestre, somou US$ 8,8 bilhões, também foi influenciado por fatores ligados à melhora das condições econômicas. ;O dinamismo da atividade aumenta a procura por mais serviços de transporte e aluguel de equipamentos, elevando o deficit;, detalhou. No mês passado, o resultado líquido nessas rubricas ficou negativo em US$ 441 milhões e US$ 1,2 bilhão, respectivamente.

O forte fluxo revertido ao exterior nos dois primeiros meses do ano levou o BC a aumentar em US$ 1 bilhão, para US$ 34 bilhões, a previsão de remessas de lucros para 2011. Outros parâmetros também foram revistos, segundo Maciel, para incorporar os resultados do primeiro bimestre. A queda em US$ 4 bilhões na previsão de deficit corrente é resultado da previsão de avanço das exportações, que permitiram a elevação da estimativa de saldo comercial positivo de US$ 11 bilhões para US$ 15 bilhões. A melhora nas expectativas se deve ao encarecimento das commodities (produtos básicos cotados internacionalmente), que vai beneficiar os produtores brasileiros.

A revisão mais expressiva foi a de investimento em títulos públicos e ações, que caiu de US$ 40 bilhões para US$ 15 bilhões. ;Fizemos uma reavaliação dessas aplicações, que se retraíram a partir de outubro em função da elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A previsão anterior estava superestimada;, explicou Maciel.

Exportações
A previsão do Banco Central para as exportações em 2011 foi revista de US$ 235 bilhões para US$ 240 bilhões. Em contrapartida, a estimativa de importações foi ajustada de US$ 224 bilhões para US$ 225 bilhões. Segundo o chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, além da alta das commodities, a balança comercial será beneficiada com a maior venda ao exterior de produtos manufaturados e semimanufaturados. ;Ainda que os preços tenham prevalecido, também observamos crescimento em volume nos três segmentos;, afirmou.


VITÓRIA NO SUCO DE LARANJA
O Brasil venceu os Estados Unidos no contencioso em torno do suco de laranja, na Organização Mundial do Comércio (OMC). O organismo considerou em relatório final, publicado ontem, que as medidas contra concorrência desleal aplicadas pelos norte-americanos sobre os produtos brasileiros foram ilegais. Em nota, o Itamaraty afirmou que ;como já indicado em ocasiões anteriores, o Brasil recebeu com satisfação as determinações do painel, que acolheu as principais teses brasileiras;. A OMC avaliou que o uso do chamado ;zeroing;, ou zeramento, para calcular os preços de referência do suco vendido pelo Brasil é ;injusto; e não está de acordo com as normas internacionais. O método utilizado pelos EUA consiste em ignorar algumas transações comerciais de preços mais elevados, que resultariam em tarifas menores se fossem consideradas. (GC)


Rumo às matrizes

(EM US$ milhões)


Filiais multinacionais enchem os caixas de suas sedes com remessas de lucros do Brasil

Destinos - Fevereiro - Ano
Países Baixos - 726 - 794
Estados Unidos - 168 - 596
Espanha - 479 - 539
Itália - 155 - 522
Suécia - 120 - 120
Japão - 85 - 115
Suíça - 66 - 97
Alemanha - 67 - 76
Reino Unido - 15 - 75
Luxemburgo - 62 - 73
Bélgica - 60 - 63
Ilhas Cayman - 4 - 33

Por setor - Fevereiro - Ano
Automotivo424 - 1.147
Financeiro - 1.0 - 1.0
Químicos - 62 - 114
Comércio - 76 - 108
Celulose - 30 - 105
Alimentos - 70 - 79
Infraestrutura - 29 - 66

Fonte: Banco Central.

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