Economia

Com renda alta e sem filhos para criar, homossexuais fazem economia girar

postado em 27/03/2011 08:28
O empresário e maquiador Fábio Martins desembolsa R$ 2 mil por mês com roupas: Geralmente sem filhos, com renda elevada e sem as despesas tradicionais das famílias, os gays têm mais tempo e dinheiro para gastar com produtos e serviços. Eles fazem parte de um grupo que está em busca, quase sempre, de produtos diferenciados e de qualidade. E compram, geralmente, mais que o restante da população. A depender do segmento, gastam o dobro da média dos consumidores. O mercado voltado para esse público nunca esteve tão aquecido. Com mais reconhecimento na sociedade, os homossexuais estão conquistando o seu espaço na economia e fazendo a roda do consumo girar.

Para especialistas, as empresas que não ficarem atentas perderão a oportunidade de alavancar seus negócios. Douglas Drumond, presidente da Câmara do Comércio GLS do Brasil, garante que há um potencial enorme a ser explorado no Brasil. ;Precisamos de um mercado que entenda o que o público gay quer. Ele busca respeito, atenção e qualidade. Na Europa e nos Estados Unidos, existem hotéis, restaurantes e boates com conceito diferenciado;, exemplifica. Proprietário da casa noturna Clube 269, Drumond calcula que o movimento no lugar cresceu, só neste ano, 25% em relação a 2010.

O setor de turismo é um dos que revela a pujança desse mercado. Presidente da Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat-GLS), Almir Nascimento lembra que a Parada Gay de São Paulo é um dos principais termômetros do setor. Em 2010, foram 403 mil visitantes na cidade. Eles gastaram R$ 188 milhões com hospedagem, alimentação, entretenimento, transporte e compras.

Agora, o país vai se preparar para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, eventos que atrairão todo tipo de público. ;Em outubro do ano passado, assinamos um acordo de cooperação com o governo para tornar o Brasil um destino GLS mundial. Vamos começar a capacitar trabalhadores de áreas como transporte, alimentação e hotelaria em 14 estados para receber essas pessoas;, diz Nascimento.

Comida boa
Há empresas de olho nesse filão. Criada em 2006, a Agência de Turismo Friendly é voltada exclusivamente para o público gay. ;Estudamos o roteiro turístico em países como a Espanha e vimos que, no exterior, há uma segmentação para esse mercado, com hotéis, restaurantes e festas específicas. O nosso diferencial é o atendimento. Aqui, as pessoas ficam à vontade para dizer que vão viajar com o namorado ou a namorada do mesmo sexo;, relata o proprietário, Roberto Dunkel.

O empresário, maquiador e fotógrafo Fábio Fernando Mendes Martins, 32 anos, ilustra bem a disposição do público gay para consumir. Ele desembolsa entre R$ 20 mil e R$ 25 mil por ano com viagens nacionais e internacionais. Mensalmente, são cerca de R$ 3 mil com restaurantes e festas e algo perto de R$ 2 mil com roupas. ;Eu sempre gastei proporcionalmente à minha renda. A diferença é que, hoje, uso meu dinheiro com mais qualidade, pois há mais empresas preparadas para nos atender. Como não temos filhos, sobram recursos para outras despesas;, admite Fábio.

Alice Mesquita, do restaurante Alice: Para os que desejam restaurantes exclusivos, por exemplo, Brasília ainda não tem muitas opções. Mas há lugares que se destacam pelo bom atendimento. O Alice Brasserie, no Lago Sul, ficou conhecido pelo ambiente descontraído ao longo dos seus 15 anos de existência. ;Quando inauguramos a casa, tínhamos garçons gays que ajudaram a atrair esse público e, desde então, houve essa identificação. Eles são exigentes, bem-humorados, sabem o que estão comendo;, conta a proprietária, Alice Mesquita.


Bancos querem as contas recheadas
O mercado financeiro ainda não explorou todo o potencial dos clientes gays. Mas já começou a criar produtos que se encaixam no perfil dos casais homossexuais. Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú Unibanco e Santander, por exemplo, oferecem a opção de composição de renda para casais do mesmo sexo para o financiamento imobiliário. As instituições prometem novidades para breve.

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