Economia

Estrangeiro aposta na queda do dólar e enfraquece BC contra desvalorização

postado em 06/04/2011 07:00
Os estrangeiros estão trabalhando pela derrubada do dólar no Brasil. Com uma montanha de US$ 20,2 bilhões em posição vendida ; situação em que, mesmo sem ter a moeda, o negociador fecha contratos na expectativa de comprá-la mais barata no futuro e lucrar ; na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM), os investidores de fora colaboraram fortemente para a queda da barreira psicológica do governo: meta (não oficial) de R$ 1,65 para a cotação da moeda, conforme parâmetros divulgados pelo Banco Central. Ontem, a divisa fechou o pregão estável, cotada a R$ 1,609, mantendo assim a desvalorização frente ao real de 1,35% no mês e de 3,43% no ano.

No mercado financeiro, os analistas mais precavidos classificam o movimento dos estrangeiros como natural. Para uma ala do governo, porém, o montante é visto como uma afronta e, aos olhos dos mais radicais, a ação dos estrangeiros é vista como um ataque especulativo. Todavia, o mercado não espera uma intervenção drástica da equipe econômica no câmbio. O consenso é de que o governo não permitirá que a aposta contra o dólar continue tão acentuada. ;É um jogo perigoso para os estrangeiros. Se o BC encurtar as posições (vendidas à vista) dos bancos e não der um prazo longo para o ajuste, a reação é de que o dólar suba. Não vai ser nada explosivo, mas eles (os estrangeiros) vão registrar perdas;, ponderou Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio.

Derivativos
Para o especialista, não há dúvidas. A posição dos estrangeiros no mercado futuro é especulativa. ;Eles fizeram todo o movimento para trazer o dólar a R$ 1,61 no fim do mês passado;, lembrou. A entrada maciça de recursos no país para aplicação em renda fixa, ainda a seu ver, não é mais o motivo principal para a queda do dólar. ;Hoje, isso está mais na suposição do que no efetivo. As operações com derivativos é que estão fazendo o dólar cair;, afirma.

O derretimento intenso do dólar desde o ano passado fez os estrangeiros mudarem de estratégia. Até meados de março de 2011, a posição dos estrangeiros estava em US$ 1,6 bilhão no dólar futuro. De lá para cá, o movimento foi intenso até alcançar os mais de US$ 20 bilhões de ontem. Eles, que antes estavam comprados em dólar (operação de segurança, na qual o investidor pode garantir uma determinada cotação, mesmo que a moeda suba ou desça) para se precaverem contra riscos e oscilações cambiais, passaram a se expor, na expectativa de queda da divisa norte-americana e lucros futuros.

Paliativo
O objetivo é ganhar nas duas pontas: primeiro, ao trazerem capital para o Brasil para obter a taxa básica de juros (Selic) como retorno de investimento; depois, ao apostarem que a moeda vai derreter ainda mais e, com isso, venderam bilhões de dólares em contratos futuros ; em alguns casos, mesmo sem ter a moeda em caixa. Mário Paiva, analista da corretora BGC Liquidez, explica que, com a tendência de queda do dólar, é natural que os integrantes do mercado ;fiquem vendidos; na moeda norte-americana. ;O dólar está caindo no mundo inteiro, não só no Brasil. Qualquer medida do governo será apenas um paliativo;, argumentou.

A atuação do Banco Central para travar esse posicionamento no mercado futuro, no entanto, é mínima, já que suas decisões não atingem diretamente esse tipo de investidor. Na visão de outra corrente de analistas, o governo estaria começando a aceitar que o país tem de conviver com um real mais forte e para evitar a morte de empresas exportadoras. Uma série de medidas com o intuito de aliviar determinados segmentos e torná-los mais competitivos são aguardadas para breve.

Ameaças
A despeito das dificuldades do Banco Central frente ao derretimento do dólar, os analistas lembram que o governo tem ameaçado adotar novas medidas contra a desvalorização da moeda americana. Além do presidente do BC, Alexandre Tombini, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também vem afirmando que há cartas na manga.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação