Economia

Petrobras admite alta no preço da gasolina

Presidente da estatal afirma que não dá mais para segurar preço do derivado do petróleo. Ministro da Fazenda rebate

Estado de Minas
postado em 07/04/2011 08:40
Leandro Andrade
Luiz Ribeiro

A gasolina pode ficar ainda mais cara. Pelo menos, foi o que admitiu, nessa quarta-feira, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. A justificativa para a nova pressão nos preços dos combustíveis vem do mercado externo. A valorização da cotação do petróleo no mercado internacional não é mais sustentável pela estatal. O barril do óleo tipo brent terminou o dia de ontem cotado a US$ 122,30. O valor é o maior dos últimos dois anos e meio. ;Não está claro, no entanto, se o atual patamar de preços será mantido;, declarou Gabrielli. Apesar da afirmação do presidente da Petrobras, no entanto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou o aumento nos preços da gasolina no Brasil. ;Não está prevista;, afirmou.

Desde maio de 2009 não há reajustes no preço de refinaria da gasolina pura (gasolina A). Em Belo Horizonte, no início da semana o valor do litro do combustível já bateu na casa dos R$ 3 e a nova pressão pode pesar ainda mais no bolso dos brasileiros que abastecem os tanques de seus carros com o derivado do petróleo.

O possível reajuste de preço dos derivados de petróleo no país deve provocar impactos significativos na inflação. Segundo cálculos do economista Alex Agostini, da Austin Rating, um reajuste de 10% no preço da gasolina contribuiria com 0,39% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A cada ponto percentual de alta, a contribuição para o índice oficial de inflação seria de 0,04%. Até terça-feira, a defasagem entre o preço interno da gasolina e o praticado no mercado externo era de 15%.

O cálculo de Agostini não considera os impactos indiretos do reajuste, como aumento no custo do frete. "Tudo depende de como a alta dos combustíveis será absorvida;, afirma. ;Mas algum impacto indireto deve ter, porque os custos vão aumentar;, acrescenta.

Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Adriano Pires, a estatal já vem segurando os preços há muito tempo, e um reajuste seria necessário para cobrir prejuízos de produção e geração de investimentos futuros. Segundo o professor, as perdas para a Petrobras estão nos custos com produção e no fato de a empresa já estar subsidiando o preço do combustível há meses. ;Agora, ainda temos as importações de petróleo, que passam a contar nesses custos e que são uma outra via que pode prejudicar a empresa;, reforçou.

A expectativa é de que o alívio nos preços dos combustíveis só chegue depois que a nova safra de etanol entrar no mercado. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Paulo Miranda Soares, sinalizou que os valores cobrados pelo litro do álcool e da gasolina (que tem parte de etanol em sua composição) podem cair nas bombas até o início de maio, com 80% das usinas de cana-de-açúcar acelerando a produção. ;Isso pode ocorrer tanto para o etanol anidro, que compõe 25% da gasolina, quanto para o hidratado, que abastace integralmente os veículos;, disse.

Miranda Soares explica que neste ano a instabilidade do clima, com períodos de longas secas e chuvas em excesso, atrasou a entrada da safra de álcool no mercado. ;Mas acredito que os valores serão reduzidos em breve;, reforçou. De acordo com o diretor do sindicato dos taxistas na Região Metropolitana de BH (Sincavir), Dirceu Efigênio Reis, a preocupação com os aumentos já faz com que se cogite repassar os valores dos combustíveis para a corrida. ;O preço na casa dos R$ 3 prejudica muito o trabalho;, afirma. (Com agências)


Etanol também está na mira

Além de estar de olho na cotação do barril do petróleo no exterior, o governo tem de focar a produção do etanol dentro das fronteiras do país, uma vez que o atraso da safra deste ano é outra causa dos reajustes de preços dos combustíveis. Ontem, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, afirmou que a possibilidade de o mercado de etanol passar a ser fiscalizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) é uma realidade. O novo controle teria como principal finalidade regular a estabilidade do fornecimento.

A possível mudança não teria qualquer objetivo de contribuir para a queda dos preços, na visão do executivo. ;O preço reflete a situação de oferta e demanda. (A medida) é muito mais para regular a estabilidade do fornecimento e minimizar o impacto de variações inesperadas de preço;, afirmou Gabrielli.

Questionado se concorda com a possibilidade de o mercado do etanol ser regulado pela ANP, confirmada hoje pela agência, Gabrielli destacou a importância do combustível no mercado nacional, em que o etanol concorre com a gasolina. ;Em 2010, 51% do combustível fornecido para os veículos leves no Brasil foi etanol. Portanto, é um combustível importante no Brasil.; O secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt, afirmou ontem que a partir de maio o preço do álcool poderá cair. Segundo ele, isso deve ocorrer porque a nova safra, que começou a ser processada em abril, chegará aos postos de combustível.

Além de controlar melhor a safra de cana-de-açúcar, o governo está investindo alto na produção de biocombustíveis. De olho no crescimento desse mercado, a Petrobras vai construir mais uma usina de biodiesel no país, aproveitando como matéria-prima a palma, até então, muito usada para alimentação animal pelos agricultores atingidos pela seca no Nordeste. A nova indústria será instalada no Pará. O anúncio foi feito ontem, pelo diretor de Biodiesel da Petrobras Biocombustível, Alberto Pontes, que participou da comemoração de dois anos de funcionamento da usina de biodiesel de Montes Claros. A unidade teve um crescimento de sua capacidade de produção da ordem de 90% desde que foi instalada e já pode processar 108,6 milhões de litros de biocombustíveis por ano. (Com agências)

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