Economia

Pragmatismo marca viagem de Dilma Rousseff à China

postado em 10/04/2011 08:00
Antes de chegar ao território chinês, Dilma passou por Atenas, onde se encontrou com o premiê Georges Papandreou
Após ter feito escala ontem em Atenas, na Grécia, a presidente Dilma Rousseff desembarca amanhã, em Pequim, disposta a alterar mais um ponto da agenda internacional empreendida pelo antecessor. Enquanto o presidente Lula passou seus oito anos de governo prometendo reconhecer oficialmente a China como economia de mercado, Dilma vai agir mais devagar nesse campo. Pragmática, a presidente deseja saber primeiro o que os chineses farão com o câmbio e também como pretendem levar suas ações comerciais com o Brasil. A ideia da presidente é ampliar a pauta de exportações de produtos com valor agregado. Inclui nesse rol os vinhos brasileiros e os alimentos industrializados.

Entre os diplomatas brasileiros, há quem diga que Dilma tocará fundo na questão cambial. Da mesma forma como foi sincera com o presidente norte-americano, Barack Obama, ao criticar o ataque à Líbia, de maneira muito diplomática tocará no fato de os chineses optaram pelo câmbio fixo, enquanto o mundo adota o câmbio flutuante. Para uma relação ;win-win; (ganho-ganho), expressão da moda nas esferas internacionais, é preciso que a China ajude a resolver a questão dos desequilíbrios cambiais.

O mesmo tom ela irá adotar em relação à pauta comercial bilateral. Embora hoje a balança do Brasil com a China seja favorável aos brasileiros, há uma preocupação, porque a maioria dos produtos nacionais exportados são de pouco valor agregado, enquanto os artigos chineses que chegam ao Brasil são industrializados. O estudo preparado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre esse tema está na bagagem de mão da presidente e do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.

O documento aponta um diagnóstico para o problema: ;É no segmento dos produtos de média intensidade tecnológica que o Brasil tem mais dificuldade em aumentar suas exportações para a China, uma vez que esses produtos têm maior presença em outros mercados mundiais;. E alerta para o que chama de ;pressão competitiva; de produtos da China e o risco de perda do controle estratégico soberano do Brasil sobre as fontes de energia (petróleo) e de recursos naturais (terras e minas), sem que isso signifique uma maior transferência de tecnologia para o país. Para tentar reverter esse quadro, o principal compromisso oficial de Dilma será na terça-feira pela manhã, quando ela encerrará o fórum empresarial Brasil-China.

Escala
Em sua rápida visita a Atenas, Dilma conversou com o primeiro-ministro grego, Georges Papandreou, sobre a situação econômica, a cooperação energética e o turismo. Além disso, Dilma e Papandreou trocararam informações sobre os preparativos dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro devido à experiência da Grécia na realização do evento em 2004 em Atenas e por ser o berço dos jogos na antiguidade. Dilma aproveitou a oportunidade para agradecer pessoalmente ao governo heleno pela ajuda na retirada pela Grécia de 150 brasileiros a partir da cidade líbia de Benghazi durante os primeiros dias da crise política no país.

Distorção
O texto produzido pelo Ipea diz, em sua página 28: ;Pode-se afirmar que ao longo dos últimos 10 anos, para cada dólar que o Brasil adquire de suas exportações para China, 87 centavos vêm de produtos primários e de manufaturas intensivas em recursos naturais, sete dos produtos de média intensidade tecnológica e apenas 2 centavos das vendas de produtos de alta tecnologia;. Observando as exportações do Brasil para o resto do mundo, o instituto aferiu que os produtos primários e as manufaturas intensivas em recursos naturais respondem por 58 centavos de dólar, os produtos de média intensidade tecnológica por 25 e os de alta e baixa tecnologia em torno de 8 centavos.

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