Rosana Hessel
postado em 12/04/2011 08:17
Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI" />O Fundo Monetário Internacional (FMI) demonstrou forte preocupação com a inflação na América Latina. O relatório Panorama Econômico Global (World Economic Outlook), divulgado ontem pelo Fundo em Washington, nos Estados Unidos, faz um alerta sobre a alta nos preços das commodities e o superaquecimento das economias emergentes. Aos olhos do organismo, os riscos de aumento nos preços na região são elevados. O indicador deverá saltar 6,7% neste ano, podendo recuar para 6% em 2012 ; índices próximos ao registrado no Brasil atualmente e próximo do teto da meta do Banco Central brasileiro, de 6,5%. O estudo do organismo multilateral destacou que, após saltarem 41% em 2010, os custos dos alimentos continuam registrando novas elevações desde o início de ano. Se comparado com 2008, o aumento é ainda maior para os grãos, a exemplo do arroz, chegando a 82%. ;Os temores estão direcionados para os preços das commodities;, afirmou o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. ;A alta foi maior do que a esperada e reflete a combinação do forte aumento da demanda com os choques no abastecimento. Isso configura um cenário parecido ao da estagflação dos anos 1970, mas ainda parece improvável;, observou.
Na avaliação do Fundo, as pressões inflacionárias na América Latina estão associadas ao forte crescimento econômico, mas esse avanço dos preços pode ser minimizado, em parte, pelo México, onde a inflação anual deve cair de 4,2% em 2010 para 3,6% em 2011 e para 3,1% em 2012. A Venezuela é o país com maior variação: 29,8% neste ano e 31,2% no próximo. Na Argentina, a inflação chegaria a 10,2% neste ano e a 11,5% em 2012. No Brasil, seria de 6,3% e 4,8%, respectivamente, conforme as estimativas.
Ineficácia
O economista Paulo Sandroni, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), também alerta para o aumento inevitável dos preços no Brasil. ;O mercado já está elevando as projeções de inflação para acima de 6% neste ano. E, até o momento, o governo está ignorando o verdadeiro impacto das tensões inflacionárias;, comentou. Para ele, se a tendência de preços elevados persistir, serão necessárias medidas mais drásticas no segundo semestre. ;O pior dos cenários é a volta da inflação. As medidas até agora anunciadas pelo governo (aumento do Imposto sobre Operações Financeiras sobre o crédito) não atacam a inflação de forma direta;, analisou o economista.
Sandroni lembra que o Brasil cresceu muito no último ano e o ritmo de crescimento atual é incompatível com as metas de inflação que o governo impôs. A seu ver, as recentes medidas anunciadas pelo governo são ineficazes para conter a alta dos preços. ;Serão necessárias medidas mais firmes e que realmente consigam inibir o crédito ao consumidor;, comentou. Para ele, o melhor caminho agora é aumentar o depósito compulsório para os bancos, medida que enxugaria a economia.
Previsões
O FMI manteve as projeções de crescimento da economia mundial e destacou que o ritmo de recuperação da crise financeira de 2008 e 2009 deverá continuar. O organismo espera que o mundo cresça 4,4% este ano e 4,5% em 2012, apesar dos riscos do aumento dos preços das commodities e da explosão de crédito nos países emergentes. Manteve também as previsões de crescimento para o Brasil: o Fundo espera que o país avance 4,1% este ano e 4,2% ano que vem.
Para a América Latina e Caribe, a previsão do FMI é de um recuo dos 6,1% registrados em 2010 para 4,7% neste ano e 4,2% em 2012. Há sinais de um potencial superaquecimento da economia na região, mas a entrada desenfreada de capital estrangeiro tem ajudado a impulsionar o consumo e encurralado a política monetária do governo. ;O crescimento real de crédito no Brasil e na Colômbia avança de 10% a 20% ao ano. Além disso, o crédito per capita no Brasil quase dobrou nos últimos cinco anos;, destacou o Fundo.