Economia

Guia ensina clientes a identificarem irregularidades cometidas pelos bancos

postado em 20/04/2011 08:00
O atendimento ruim nas agências está entre as principais reclamações feitas aos órgãos de defesa
Apesar de ter passado pela crise econômica internacional como um exemplo de solidez para o mundo desenvolvido ; que viu várias de suas instituições bancárias derreterem após a queda do Lehman Brothers, em 2008 ;, o sistema financeiro do Brasil ainda está longe do padrão mínimo de qualidade quando o assunto é respeito ao consumidor. O volume de reclamações registradas tanto nos órgãos de defesa do consumidor quanto no Banco Central contra os bancos é cada vez maior. Somente neste ano, mais de 2,8 mil clientes já cadastraram queixas na autoridade monetária.

Para tentar coibir os abusos, o Sindicato dos Bancários de Brasília, em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lançaram ontem um guia para orientar o consumidor de forma didática acerca dos seus direitos. A publicação oferece informações para que o cliente saiba identificar as irregularidades cometidas pelos bancos.

Na opinião do secretário-geral do Sindicato dos Bancários, André Nepomuceno, a cartilha vai auxiliar bastante os clientes mais desinformados a se prevenirem. ;Fizemos uma boa lista de informações para o consumidor se proteger previamente e ter armas para argumentar contra as possíveis irregularidades dos bancos;, disse. No manual, podem ser localizadas informações referentes aos temas que geram mais dúvidas, como abertura de contas, empréstimos, financiamentos, tarifas, atendimento. ;Acho que temos nas mãos uma boa oportunidade de repensar como podemos melhorar as relações entre consumidores e instituições;, analisou o presidente da Contraf, Carlos Cordeiro.

Para a coordenadora executiva do Idec, Lisa Gunn, o consumidor poderia ter uma postura mais participativa com relação aos serviços bancários se tivesse conhecimento sobre os direitos. ;A compreensão dos serviços financeiros nem sempre é fácil. Já desenvolvemos pesquisas que comprovaram cobranças indevidas e outras práticas negativas na relação entre correntistas e bancos, que poderiam ser evitadas se houvesse informação transparente e fiscalização adequada;, ressaltou.

Outros documentos de orientação ao consumidor também podem ser conseguidos em instituições fiscalizadoras do setor, como o Banco Central e a Federação Nacional dos Bancos (Febraban). O diretor de autorregulação da Febraban, Gustavo Marrone, lembra que todas as iniciativas de orientação do setor financeiro são válidas, pois fortalecem tanto consumidores quanto o sistema. ;É importante que o cliente tenha conhecimento dos direitos. A falta de informação não é boa nem para bancos e nem para as pessoas;, disse.

Desrespeito
Um exemplo de desrespeito e de abuso aconteceu com a auxiliar de serviços gerais Maria das Dores Pereira, 52 anos. Ela conta que sua conta foi colocada sob suspeita de clonagem, após debitarem R$ 400 dela. ;O banco disse que mandou a fatura até a minha residência, mas não recebi nada e, simplesmente, pagaram a fatura do cartão de crédito. Mas eu nunca usei o crédito, nem sabia que tinha essa função, porque eu só utilizava a função débito;, disse. Maria se queixa do tratamento dispensado pelo banco ao problema dela. ;Eu acho que foi muito injusto. Eu sou cliente do banco desde 1988, sempre paguei minhas contas em dia e acabei ficando prejudicada. Não se importaram com a minha situação. Poderiam ter verificado mais atentamente o que aconteceu;, desabafou.

Outra vítima dos problemas bancários é a assistente administrativa Marilda Lemos, 50 anos. Ela recebeu em casa uma fatura, no valor de R$ 690, de um cartão de crédito que ela não pediu e que sequer recebeu em sua residência. Preocupada com o que poderia ter acontecido, procurou o banco, mas foi orientada a escrever uma carta relatando o problema. Como a data de vencimento estava próxima, preferiu procurar o Procon-DF para registrar uma queixa. ;Eu levei um susto muito grande. Acho que qualquer um ficaria assustado em saber que está devendo por algo que não comprou;, disse Marilda. ;Agora estou de olho. Se descontarem o valor na minha conta, eu vou voltar no Procon. Mas o pior é não saber o que está acontecendo, é angustiante;, acrescentou.


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