postado em 21/04/2011 08:15
Apesar de a medição prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA-15, ter indicado que a inflação anualizada já bateu no topo da meta (de 6,5%) em abril, a informação não foi suficiente para mudar a aposta do Banco Central sobre o aumento dos juros básicos da economia, a Selic. A autoridade monetária contrariou o mercado financeiro e subiu, ontem, a taxa em 0,25 ponto percentual, elevando-a para 12% ao ano. Com o ajuste, a instituição dá prosseguimento à estratégia de controlar a alta dos preços com um aperto monetário menor, mas acompanhado de medidas macroprudenciais (alternativas), a exemplo do aumento do Imposto de Operações Financeiras (IOF) para conter o consumo. Para os analistas, o BC assumiu o risco de enfrentar uma nova piora nas expectativas inflacionárias.O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa sem indicação de alta ou baixa. Foram cinco votos a favor de um aumento de 0,25 ponto percentual e dois por um arrocho de 0,50 ponto. A instituição considerou o aperto suficiente para levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2012.
;Considerando o balanço de riscos para a inflação, o ritmo ainda incerto de moderação da atividade doméstica, bem como a complexidade que ora envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que, neste momento, a implementação de ajustes das condições monetárias por um período suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada;, afirmou o BC, confirmando a tese de que decidiu atacar a inflação de maneira gradual. A estratégia será prolongar o ciclo por mais tempo do que o esperado, provavelmente com novas altas de 0,25 ponto.
Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e economista-chefe da Tendências Consultoria, queixa-se de que o Copom está apostando demais em um cenário que pode não se concretizar. Para o economista, o ajuste deveria ter sido de 0,50 ponto percentual. ;Ele (o BC) está dando sinais de que está satisfeito com a atual trajetória da economia baseado num cenário complicado;, alertou. A seu ver, a autoridade monetária vem assumindo riscos demais e até se enganando em suas previsões.
Em jogo
Com a inflação em ritmo forte e um aperto mais moderado na Selic, o objetivo de levar a carestia para a meta de 4,5%, em 2012, pode estar comprometido, alertam analistas. ;A credibilidade do BC também será afetada. As expectativas vão continuar a piorar;, afirmou Homero Guizzo, economista da LCA Consultores. Para Márcio Cardoso, diretor da Título Corretora de Valores, a única diferença entre 0,25 e 0,50 ponto percentual de aperto monetário está apenas na questão da credibilidade da autoridade monetária: ;Qualquer ajuste desses já não afeta mais a demanda;.
A decisão do BC seguiu, contudo, as previsões dos economistas que mais acertam as projeções no Boletim Focus ; levantamento semanal no qual a autoridade monetária ouve as expectativas de mais de 100 analistas. Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, pondera que com um ajuste de 0,25 ponto percentual, o BC dá continuidade ao ciclo de aperto monetário, mas reduz o ritmo de elevação comparado ao observado nas reuniões do Copom de janeiro e de março, quando as altas foram de 0,50 ponto percentual. Ele argumentou que o aperto de ontem se justificou pelos ;sinais de moderação em curso, pelo ritmo de expansão da atividade econômica e pela contribuição da apreciação cambial superior ao esperado;.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, o BC está cumprindo fielmente o que sinalizou em seus documentos. A seu ver, o Copom levou em conta que as medidas macroprudenciais, somadas aos ajustes já promovidos na Selic, são suficientes para conter a inflação, a ponto de levá-la para o centro da meta em 2012. Os impactos dessas medidas, porém, serão sentidos mais fortemente no segundo semestre deste ano. ;Os efeitos dos choques de preços das commodities, do componente inercial da inflação e também do crescimento da demanda de 2010 serão dissipados gradualmente com o ciclo de alta da Selic e pelas medidas prudenciais;, argumentou Velho.
;O BC quer também recuperar a credibilidade dos comunicados, perdida parcialmente em 2010;, justificou Velho, ao referir-se ao período em que Henrique Meirelles estava à frente da instituição. Para o economista, já em março de 2010, diante dos preços em ascensão, o BC deveria ter subido os juros. Mas, na sua avaliação, como Meirelles desejava alçar voos políticos, o ex-presidente teria hesitado em elevar a Selic naquela época, deixando a herança ; uma carestia em escalada e a difícil missão de equilibrar juros e câmbio ; para Alexandre Tombini, o atual comandante da autoridade monetária.
Dificuldade
Na avaliação de economistas, a estratégia de Tombini é perigosa, mas consistente. ;Tem chances de dar certo;, ponderou Guizzo. Ainda assim, analistas calculam que, em agosto, a inflação em 12 meses deverá chegar ao nível de 7,5%, o que aumentaria a dificuldade para conter a carestia e reduzi-la a 4,5% em 2012. Com a Selic ajustada para 12% ao ano, o Brasil continua entre as posições mais altas dos juros no mundo. Segundo o economista Jason Vieira, da corretora Cruzeiro do Sul, o país perde apenas para a Venezuela, que tem uma taxa de 18,24% ao ano.
Apesar de um arrocho menor, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou a decisão do Copom ;inadequada; por concentrar apenas na política monetária o esforço de combate à inflação. Para os empresários, a prioridade deveria ser o ajuste fiscal ; corte de gastos públicos.
Dólar recua a R$ 1,571
No início dos negócios, ontem, os investidores acreditavam que o Banco Central elevaria a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual. Isso tenderia a aumentar o ingresso líquido de recursos estrangeiros no país, que já alcançou US$ 36,2 bilhões neste ano, resultado 48,6% superior a todo o volume registrado no ano passado. Diante dessa expectativa, o dólar abriu o dia cotado a R$ 1,563, com queda de 0,82%. À medida que as apostas migraram para uma alta de 0,25 ponto, nível escolhido pelo BC à noite, a moeda norte-americana se valorizou um pouco. Mas, ainda assim, encerrou em R$ 1,571, recuando 0,32%. Foi o menor valor desde 4 de agosto de 2008, apenas R$ 0,10 acima da mínima em 10 anos. No mercado acionário, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM) subiu 1,36%, atingindo 67.058 pontos.