Economia

Leia entrevista com embaixador Sérgio Amaral sobre visita de Dilma à China

postado em 23/04/2011 08:00
Um dos principais observadores das relações comerciais sino-brasileiras, o embaixador Sérgio Amaral aplaude os primeiros resultados da visita, semana passada, da presidente Dilma Rousseff à China, com anúncios de parcerias tecnológicas, abertura de negócios e investimentos em fábricas. O presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior ressalva, contudo, que os entendimentos animadores ainda precisam de longo e sistemático acompanhamento para atingir seus objetivos. Para ele, os acordos podem acelerar e levar o país a se constituir como plataforma chinesa de exportações na América Latina. ;Vejo como positiva essa perspectiva. Seria a melhor maneira de agregar valor às exportações para a China, além de evitar a exportação de empregos para lá;, disse Amaral nesta entrevista ao Correio.

{ Entrevista } SÉRGIO AMARAL

Qual é o balanço que o senhor faz da recente viagem presidencial à China?
A visita da presidente Dilma Rousseff a Pequim, além das missões empresariais, foi positiva. Os bons resultados começaram com a solução de problemas antigos, como foi o caso da Embraer. Veio em boa hora a informação de que os chineses encomendariam aviões da marca brasileira, pois isso encerrou a ameaça de fechamento imediato da sua fábrica em território chinês, justamente quando está disparando o mercado de aeronaves de médio porte na China.

A abertura do mercado chinês à carne suína brasileira está mesmo garantida?
Creio que sim. Trata-se de um avanço importante na relação do comércio bilateral. De toda forma, essa decisão será implementada gradualmente, com os devidos cuidados técnicos para evitar retrocessos. O primeiro cuidado é obter das autoridades chinesas amplo credenciamento de abatedouros de suínos de Brasil, para períodos de 30 a 35 anos.

Em 2004, a visita do presidente Lula a Pequim gerou anúncios
relevantes que não evoluíram;

Alguns andaram, como os das carnes bovina e de frango, apesar de a certificação dos frigoríficos ter demorado. Se a União Europeia continua fechada para produtos alimentícios nossos e a China se abre, temos de aplaudir. Estão sendo marcadas para os próximos meses várias visitas dos dois lados, que detalharão as iniciativas recentes. É fundamental o setor produtivo estar presente e monitorar essas reuniões. As informações precisam ser refinadas para se ter ideia exata do que vai ocorrer. Relatórios apontaram investimentos diretos chineses no país de US$ 17 bilhões em 2010 que não se confirmaram, devendo ter chegado a, no máximo, US$ 12 bilhões.

O senhor acha que o país deixou clara a sua prioridade de agregar valor às exportações para China?

Sem dúvida. A visita da presidente mostrou o quanto Brasil e China são importantes um para o outro. Mas os chineses não podem continuar comprando só artigos básicos, ampliando o desequilíbrio comercial. Foi dito que tem de haver reciprocidade, mas não é algo que se instale de um dia para o outro. Os investimentos e as parcerias anunciados apontam para a configuração do Brasil como plataforma chinesa de exportações na América Latina. Vejo a perspectiva como positiva para ambos os lados. Seria a melhor maneira de agregar valor às exportações para a China, além de evitar a perda de empregos para lá. Por outro lado, as empresas que se instalarem aqui conseguirão matérias-primas com preços melhores e mais acesso a mercados.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação