Economia

Europa tenta manter liderança do FMI frente ao interesse dos emergentes

Agência France-Presse
postado em 19/05/2011 14:42
Bruxelas - A UE, decidida a tentar manter um europeu à frente do FMI após a renúncia de Dominique Strauss-Kahn, trabalha em uma candidatura da ministra francesa Christine Lagarde, embora a lista de potenciais sucessores seja longa, com um interesse crescente dos países emergentes.

"Temos que apresentar um candidato europeu", afirmou nesta quinta-feira (19/5) a chanceler alemã Angela Merkel, pouco depois da renúncia de Strauss-Kahn, preso em Nova York acusado de ter tentado violentar uma camareira do hotel onde estava hospedado.

A Europa é o principal contribuinte do Fundo Monetário Internacional (FMI), e há uma tradição de conceder a liderança do organismo, com sede em Washington, aos europeus, enquanto o Banco Mundial é reservado aos americanos.

Mas a emergência de novas potências no tabuleiro mundial pode mudar as regras do jogo. Vários países, como Brasil, China, Argentina e México, têm criticado a atribuição automática do posto para um europeu.

"Já passou o tempo em que poderia ser remotamente apropriado reservar este importante cargo a um europeu", considerou o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, em uma carta enviada ao G20.

O presidente do Banco Central brasileiro, Alexandre Tombini, pediu um enfoque nos "méritos" e não na nacionalidade dos candidatos.

Tombini lembrou durante uma teleconferência com jornalistas que o Brasil defende a meritocracia e não a tradição no momento da escolha.

"Tem que ser um processo de escolha que considere os méritos, independentemente da nacionalidade", disse Tombini, que foi o principal assessor do representante do Brasil no FMI entre 2001 e 2005.

A China pediu que os países emergentes sejam representados na direção do Fundo, seguindo a mesma linha do Brasil.

"Acreditamos, como sempre, que o FMI deve manter suas reformas estruturais e escolher o sucessor (de Strauss-Kahn) com base no mérito, de forma transparente e imparcial", declarou a porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Jiang Yu.

"A princípio, pensamos que os novos mercados emergentes e os países em desenvolvimento devem ser representados na direção do FMI", acrescentou Jiang em uma entrevista coletiva à imprensa.

A imprensa chinesa destacou nesta quinta-feira as especulações segundo as quais Zhu Min, ex-vice-governador do Banco Central chinês e que recentemente foi conselheiro de Dominique Strauss-Kahn no FMI, é um candidato à sucessão.

O México, por sua vez, pediu que o próximo diretor do FMI seja nomeado em função de seus méritos, e não de sua nacionalidade. Segundo a imprensa, o país pode apresentar dois candidatos: o ex-presidente Ernesto Zedillo e o governador do Banco Central, Agustín Carstens.

O turco Kemal Dervis, ex-ministro das Finanças, também surge como possível candidato dos países emergentes.

Mas os europeus já trabalham com o nome da ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, de 55 anos.

É "natural" que os europeus indiquem "um candidato forte e competente", segundo o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.

Nos bastidores, Lagarde é citada com cada vez mais frequência, recebendo o importante apoio de Berlim, segundo a imprensa alemã.

Nesta quinta-feira, Merkel pediu rapidez no processo de escolha durante uma entrevista coletiva à imprensa ao lado de seu colega moldavo, Vladimir Filat.

"É de grande importância que tomemos rapidamente uma decisão" sobre a sucessão de Strauss-Kahn, disse.

"Defendo a opinião de que devemos apresentar um candidato europeu", repetiu. "Não darei um nome" de candidato preferido, advertiu Merkel, acrescentando que estão sendo realizadas discussões entre os europeus sobre o tema.

"Viva a Europa", afirmou misteriosamente nesta quinta-feira Lagarde ao ser consultada sobre suas aspirações.

"Toda candidatura" deve ser fruto do consenso entre os europeus, defendeu a ministra das Finanças, no posto desde 2007, considerada um dos pesos pesados do governo do conservador Nicolas Sarkozy.

Lagarde é "uma candidata evidente", admitiu seu colega sueco, Anders Borg, mencionando a "influência e a experiência" da ministra.

"Tem uma reputação sólida dentro e fora da Europa", destacaram fontes diplomáticas europeias.

Alguns países também veem com bons olhos a possibilidade de, pela primeira vez desde sua fundação, em 1946, uma mulher assumir a liderança da instituição financeira.

"Há uma escassa presença (feminina) nos postos de responsabilidade" das organizações internacionais, lembrou esta semana a ministra espanhola da Economia, Elena Salgado.

A possível abertura de uma investigação em um caso de suposto abuso de poder na França pode, por outro lado, comprometer as aspirações de Lagarde.

Os europeus já estariam pensando em outro nome: o do também francês Jean-Claude Trichet, atual presidente do Banco Central Europeu.

Seria "um candidato fantástico", declarou o diretor do Banco Central holandês, Nout Wellink.

Em Washington, o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, anunciou oficialmente nesta quinta-feira que espera uma "sucessão rápida" e "aberta" de Strauss-Kahn.

"Queremos que o processo de escolha do novo diretor geral seja aberto e permita uma sucessão rápida", indica um breve comunicado do secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, divulgado em Washington.

O ministro das Finanças do Japão, segundo contribuinte do FMI, pediu transparência em um processo baseado nas capacidades dos candidatos.

Os líderes do G20 se comprometeram no passado a "eleger o dirigente de uma instituição internacional por meio de um processo aberto e transparente, e em função das capacidades" do candidato, lembrou Yoshihiko Noda, ministro das Finanças, aos jornalistas.

"Acredito que a pessoa adequada será escolhida dessa forma", acrescentou.

O ministro se recusou a indicar se o Japão tem um candidato favorito ou se tentará obter o posto para um representante do país.

Por enquanto, o FMI se nega a dar detalhes sobre um calendário de substituição de Strauss-Kahn, que dirigia a instituição desde 2007 e desempenhou no ano passado um papel-chave nos resgates financeiros dos países da Zona do Euro.

"O Fundo informará em breve sobre o processo de seleção. Enquanto isso, (o número dois) John Lipsky continua sendo o diretor geral interino", indicou em um comunicado.

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